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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

"A maior dificuldade do “Projeto Dilma” será conquistar o eleitor paulistano, um dos mais conservadores do país."


Entrevista - Cândido Vaccarezza
Autor(es): Ullisses Campbell
Correio Braziliense - 05/01/2010


Um dos responsáveis pela sustentação do governo, o deputado discorda de Lula ao apostar em candidatura própria do PT em São Paulo e ao apoiar Michel Temer como vice de Dilma

São Paulo – Líder do PT na Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (SP) não compartilha da opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pelo menos dois pontos. Eles divergem em relação ao nome para disputar o governo de São Paulo e sobre a possível escolha do presidente nacional do PMDB, Michel Temer, à vice-presidência da República na chapa de Dilma Rousseff. No pleito paulista, Vaccarezza defende o atual prefeito de Osasco, Emídio de Souza (PT), figura de tímida expressão política. Lula insiste no deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), numa estratégia para tirá-lo da corrida presidencial e trazê-lo para o campo aliado. No segundo ponto de divergência, o líder do PT defende Michel Temer, a quem Lula, nos bastidores, torce o nariz. “Trata-se de um político respeitado e um homem ponderado. Como é presidente do PMDB, poderá dar estabilidade ao apoio do partido nacionalmente, apesar dos problemas que ocorrem em alguns estados”, defende Vaccarezza.

Médico, 54 anos, baiano, um dos fundadores do PT em São Paulo, onde faz parte do grupo liderado por Marta Suplicy, ele é um dos maiores articuladores políticos do PT. Em entrevista ao Correio, aponta “erros crassos” de Ciro e o chama de “contraditório”. Na avaliação do deputado, a maior dificuldade do “Projeto Dilma” será conquistar o eleitor paulistano, um dos mais conservadores do país.

As divergências do fiel escudeiro

José Varella/CB/D.A Press - 3/4/07



O que falta para o PT lançar candidato próprio ao governo de São Paulo?
Ainda estamos decidindo o que fazer em São Paulo. O PT quer constituir uma frente capaz de ganhar as eleições paulistas e ainda ajudar a Dilma Rousseff a ser presidente do Brasil. Hoje, afirmo que o nosso candidato é do PT, não de outro partido.

Então o plano do presidente Lula de lançar o Ciro Gomes foi abortado?
Eu sou o maior defensor da candidatura do Ciro ao governo de São Paulo, mas ele não quer e não podemos impor isso a ele. Já está mais do que na hora de organizarmos outra possibilidade.

O Ciro diz que não quer conversa com o PT por causa da aliança do partido com o PMDB.
Esse é o erro crasso do Ciro. Só vamos ganhar a eleição no Brasil se fizermos alianças de centro-esquerda, principalmente com o PMDB, um partido democrático e que participou da luta contra a ditadura. Além do mais, o Ciro se elegeu deputado pelo Ceará com base numa aliança com o PMDB. Criticar a aliança, hoje, é contraditório.

Na ausência do Ciro, qual o nome mais viável?
O primeiro deles é o Emídio de Souza, prefeito de Osasco. Ele quer ser candidato, está com vontade e é um nome novo, cheio de gás. Em minha opinião, seria o elemento surpresa na eleição paulista. Além dele, temos o Aloizio Mercadante, o Antônio Palocci e a Marta Suplicy.

O presidente Lula disse que o PT de São Paulo recorre a um erro histórico ao apresentar sempre candidatos novos. Optar pelo Emídio, um desconhecido, não é insistir no erro?
O presidente Lula tem 99,9% de acerto. Essa avaliação sobre nomes novos representa o 0,01% de erro. Não acho que apresentar gente nova seja erro. A repetição da mesma candidatura não representa uma vitória. Em nenhum estado em que o PT governa houve repetição sistemática de candidatura.

O Lula disse que o troca-troca de nomes em São Paulo fortaleceu o PSDB.
Não vejo assim, apesar de o PSDB ter conseguido três vitórias no estado. Mas os tucanos não estão crescendo. Na Grande São Paulo, só não governamos Santo André.

Depois de se envolver em tanto escândalo, o senhor acha que o Palocci resistiria a uma campanha?
O Palocci foi julgado inocente pelo STF. Mais tarde, a história vai mostrar que é inocente também no esquema do mensalão. No caso do PT, quando se fala do mensalão, não teve dinheiro público envolvido. Houve um erro político que foi o Caixa Dois. Os envolvidos pagaram um preço bem maior do que o crime cometido. A sociedade sabe disso.

O senhor acha mesmo que a opinião pública pensa assim?
A população sabe separar o joio do trigo. A história do mensalão já foi usada fartamente na campanha pelos adversários e não deu certo. O brasileiro sabe quem é corrupto e quem não é.

Se o Ciro mantiver a candidatura à Presidência, ele pode atrapalhar o projeto Dilma?
Se ele quiser continuar com o projeto da candidatura e o PSB aceitar, não poderemos fazer nada. Vamos esperar pelo segundo turno para fazer um acordo. Para o PT, a prioridade é a construção de uma frente forte em volta da Dilma. Se o Ciro não vier com a gente agora, tentaremos no segundo turno.

Como está o processo para a escolha do vice da Dilma?
Se depender de mim, o vice será do PMDB. Se o partido indicar o Michel Temer, melhor. Trata-se de um político respeitado e ponderado. Como é presidente do PMDB, poderá dar estabilidade ao apoio do partido nacionalmente, apesar dos problemas que ocorrem em alguns estados.

O Temer não tem a simpatia do presidente Lula. Como administrar isso?
Nunca vi o Lula falar mal do Temer.

Quando surgiu o nome dele, o Lula sugeriu que fosse feita uma lista tríplice, lembra?
Não sei em que contexto o Lula disse isso e nem o que quis dizer. Posso garantir que nunca vi o Lula falar mal do Temer e nem oferecer objeção ao nome dele.

Qual o maior desafio da candidata Dilma Rousseff?
Conseguir traduzir para o povo brasileiro o programa de continuidade e de aprofundamento do governo Lula. Outro grande desafio será fazer campanha em São Paulo, onde temos um eleitor conservador. São Paulo também será onde ocorrerá o maior enfrentamento do projeto do PT com o do PSDB de José Serra. Podemos até perder a batalha lá, mas não vamos perder a guerra.

Na sua avaliação, por que o PT paulista perdeu força ao longo
do tempo?
Não houve enfraquecimento do PT em São Paulo. Ganhamos a prefeitura duas vezes.

Ganharam, mas perderam e não recuperaram mais.
Mas isso não significa que o partido enfraqueceu. Temos 14 deputados federais, 19 estaduais e prefeituras importantes, como as de Osasco, Guarulhos e São Bernardo do Campo. Estamos numa fase positiva, pois os tucanos enfrentam sérios problemas de gestão em São Paulo, com enchentes, o buraco do metrô, o caos no trânsito, o desabamento do viaduto do Rodoanel.

Apesar desses problemas, o governo de São Paulo e a prefeitura da capital são bem avaliados pela população.
Isso não significa que houve um avanço do PSDB e do DEM?
É preciso dizer que o crescimento do PSDB em São Paulo não ocorreu em detrimento do encolhimento do PT. O grupo que governa São Paulo está no poder desde 1982, desde que Franco Montoro ganhou as eleições. Não é à toa que o Orestes Quércia é um dos apoiadores do José Serra, indicando inclusive a vice-prefeita do Gilberto Kassab (DEM). Esse processo está esgotado. Se você reparar, a segurança, a educação e a saúde de São Paulo são as piores do país.

A Marta Suplicy é um dos nomes cotados para concorrer
ao governo paulista, mas tem um índice de rejeição altíssimo. Não seria arriscado apostar nela?
O problema de rejeição não é assim tão grande quanto todo mundo pensa, até porque esse índice não define eleição. O Lula tinha rejeição alta quando venceu as eleições para presidente.

Por que o senhor exclui o nome do senador Eduardo Suplicy quando se refere aos possíveis candidatos do PT ao governo paulista?
Ele não representa o sentimento do PT quando se fala em disputa político-eleitoral para o governo de São Paulo. Eu não estou excluindo o Suplicy do pleito. Ele só não é uma opção do partido.

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