Em seis anos, mais de 400 mil nordestinos voltaram para cidade de origem.
Carlos Madeiro Especial para o UOL
NotíciasEm Maceió
Números apontam para uma inversão de sentido na rota dos nordestinos para o sul do país nos últimos anos. A professora do departamento de Economia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) Liedje Siqueira revela que a migração de retorno começou a existir em meados desta primeira década do século 21. Entre 2002 e 2007, os números mostram que mais de 400 mil voltaram para casa.
"A migração de retorno para o Nordeste é um fenômeno relativamente novo. De fato, com base nos dados da Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios] 2007, observa-se, por exemplo, que das 862 mil pessoas que vieram morar na região Nordeste, entre os anos de 2002 e 2007, aproximadamente 47,5% eram pessoas que estavam voltando aos seus locais de nascimento", contou.
Os dados revelam que o Estado de São Paulo, que sempre foi o maior receptor dos nordestinos, tornou-se hoje o maior "exportador" de volta dos mesmos - 61% dos que retornaram vieram de SP. "Por dois anos consecutivos, em 2006 e 2007, este Estado enviou mais pessoas a outros locais do que recebeu. Isto resultou em um saldo migratório negativo, entre os anos de 2002 e 2007, no valor de 135 mil pessoas.
A maior parte é de nordestinos que perfizeram o caminho de volta."Segundo a professora, a Pnad mostra que o retorno acontece, na maioria das vezes, por falta de oportunidade. "Cerca de 60% dos que retornaram eram do sexo masculino e aproximadamente 78% tinham menos de 49 anos. Estas informações mostram que eles estavam em plena capacidade produtiva de trabalho. Observou-se que somente 33,01% conseguiram um emprego formal. Outros 35% se encontravam em atividades consideradas autônomas", conta.
Programas sociais e esgotamento industrial
Para o professor de economia regional da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Cícero Péricles, alguns fatores regionais são determinantes nessa mudança de rota. "Os registros da migração coincidem com o esgotamento dos destinos tradicionais dos pobres do Nordeste: as fronteiras agrícolas, como na Amazônia e Centro-Oeste; com a perda de atração na construção civil do Sudeste e com o maior padrão de exigência no setor da indústria paulista, onde a mão-de-obra nordestina não encontra colocação. Outro elemento importante é que as condições sociais da região [Nordeste] melhoraram muito nos últimos anos", explica, ressaltando que o Nordeste cresce em ritmo mais acelerado do que nas demais regiões.
Para o economista, um dado importante que os números revelam é que mais da metade das famílias nordestinas pobres recebe algum benefício federal, seja do Bolsa Família ou da Previdência Social. "Isso é determinante na contenção da miséria. Das 14,5 milhões de famílias no Nordeste, sete milhões recebem da Previdência e 5,6 milhões recebem o Bolsa Família.
O salário mínimo, forma de pagamento de dois terços dos assalariados na região, tem impactos no Nordeste maior do que em qualquer outra região. Como hoje existem alguns pólos de desenvolvimento econômico, junto com esse colchão social, as pessoas acabam apostando mais na vida por aqui", afirmou.
Péricles diz ainda que, nos últimos dez anos, as secas tiveram impactos minimizados pelas políticas públicas, o que fortaleceu o vínculo com a região. "Aí acontece outro fenômeno importante: o Nordeste se urbanizou e conta com 70% da população nas cidades. Hoje é mais comum a migração rural para as pequenas cidades, e daí para as grandes. O fenômeno que se percebe é que, ao invés de ir direto para São Paulo, ele tenta a vida numa capital nordestina", explicou o economista.
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