Autoridades estadunidenses não escondem o alívio e a alegria com a prisão do fundador do Wikileaks, o australiano Julian Assange, ocorrida terça-feira (7) em Londres. “É uma boa notícia”, comemorou o secretário de Defesa dos EUA, Roberts Gates, em visita ao Afeganistão, palco de mais uma guerra insana desencadeada pelo império com o apoio das potências europeias.
Por Umberto Martins
O ódio despertado na maior potência capitalista do planeta pelas verdades inconvenientes reveladas pelo Wikileaks lembra o macartismo dos anos 1950, ao mesmo tempo em que sinaliza o avanço político das forças conservadores e de extrema-direita no país. A ex-governadora do Alasca e candidata a vice-presidente pelo Partido Republicano nas últimas eleições presidenciais, Sarah Palin, comparou Assange a Obama Bin Laden. Colunistas como Jonah Goldberg, da National Review, entre outros, apelam ao assassinato puro e simples do jornalista. “Por que Assange não foi estrangulado no seu quarto de hotel anos atrás?”, indagou em artigo reproduzido recentemente numa rede de jornais.
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Hipocrisia
Os documentos secretos divulgados pelo Wikileaks até o momento não contêm grandes novidades nem informações que pudessem comprometer a segurança dos Estados Unidos, como reconheceu o próprio secretário de Defesa em carta encaminhada ao congresso. Isto não significa que sejam irrelevantes, pois sem dúvidas colaboram para evidenciar os reais motivos e interesses que orientam a diplomacia imperial, cada vez mais agressiva e belicosa.
Respaldados por um poderoso aparato mediático, que compreende a cumplicidade da mídia golpista da América Latina, os imperialistas americanos gostam de mascarar sua política reacionária com falsos sermões sobre defesa da democracia, bem como da liberdade de imprensa e expressão. A raivosa ofensiva contra o Wikileaks mostra a hipocrisia dos ideólogos e políticos ianques.
O alvo não é apenas Assange, perseguido de forma implacável a pretexto de práticas sexuais ilegais, acusado por uma “dissidente” cubana de 31 anos e caçado inclusive por supostamente ter mantido relações sem camisinha. Com apoio no imperialismo europeu, colocaram até a Interpol no encalço do fundador do site rebelde. Mas não ficaram nisto. Tentaram inviabilizar por todos os meios o próprio Wikileaks, pressionando o Amazon a retirá-lo do seu servidor e chantageando financiadores, entre outros meios.
Um império de mentiras
Deplorável é a forma com que nossa mídia hegemônica, que Paulo Henrique Amorim prefere chamar de Partido da Imprensa Golpista (PIG), reage ao golpe contra a liberdade de imprensa que os EUA e outras potências capitalistas ocidentais estão perpetrando. O tema não frequenta os editoriais nem desperta indignação no PIB, tão zeloso e radical na defesa da mídia venezuelana, que esteve envolvida até o pescoço no fracassado golpe de abril de 2002 em Caracas, ou do jornal argentino Clarín, cujos proprietários cresceram à sombra de uma ditadura que deixou pelo menos 25 mil mortos e desaparecidos. Não se tem notícia de nenhuma palavra da chamada Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) em defesa da liberdade de imprensa vilipendiada pelos EUA. Prevalece um vergonhoso servilismo.
O bordão (defesa da democracia e da liberdade de imprensa) funciona quando é do interesse do império e da mídia hegemônica. Quando o alvo é Cuba, Venezuela, Argentina ou Irã. No momento em que os segredos e os crimes do Estado imperialista são expostos a ordem é perseguir e calar quem divulga verdades inconvenientes. A diplomacia dos EUA é movida a mentiras (as armas de destruição em massa no Iraque são um exemplo entre outros), tortura (Guantânamo, Abu Ghraib) e assassinatos. É hostil à verdade, incompatível com a liberdade de imprensa e, tal como um vampiro, não resiste à luz do dia.
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