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sábado, 18 de dezembro de 2010

Moniz Bandeira:Brasil virou potência política sob Lula



José Henrique Lopes, do R7.



Moniz Bandeira:Brasil virou potência política sob Lula

José Henrique Lopes, do R7.


Em seus quase oito anos de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez cerca de 240 viagens internacionais - uma média de 30 por ano, ou mais de duas por mês.

Houve quem fizesse piada e até criticasse a alta quilometragem atingida pelo avião presidencial com Lula, mas para o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, especialista em política externa, as várias incursões do presidente por diferentes nações trouxe ao Brasil resultados incontestáveis.

Como exemplo, e usando como base de comparação o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Moniz Bandeira chama a atenção para o incremento do comércio internacional.

- Graças à política externa do governo Lula, ampliando as fronteiras diplomáticas do Brasil e diversificando os mercados, as exportações saltaram de US$ 73 bilhões, em 2003, para US$ 145 bilhões em 2010 [entre janeiro e setembro]. Dobraram.

Além disso, dá destaque às negociações com a França para um acordo na área da defesa e exalta a consolidação da autonomia internacional do Brasil e sua projeção como uma potência política global. Recentemente, referindo-se à atuação de seu próprio governo, Lula disse que a política externa dos últimos anos foi “vencedora” e exaltou a busca pela diversificação de parcerias.

- Hoje vocês vão encontrar um Brasil muito mais consolidado e representado com a África, com o México, a América Latina e o Caribe.

Na opinião de Moniz Bandeira, estes são feitos que deverão ser preservados pela ex-ministra Dilma Rousseff, a partir de janeiro a primeira mulher a governar o Brasil. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida pelo cientista político ao R7.

R7 - A política externa não esteve entre os temas mais discutidos desta campanha eleitoral. A que o senhor credita a ausência de debate?


Moniz Bandeira - Ao longo de meus 74 anos, nunca vi uma campanha presidencial de tão baixo nível como essa. Coube à oposição e aos meios de comunicação degradar o nível dos debates, desviando-os dos grandes temas, como o projeto para o Brasil, para denúncias e acusações não comprovadas, bem como para outras questões secundárias, como a do aborto.

R7 - Na opinião do senhor, a política externa é um assunto que deveria estar entre as prioridades do futuro presidente ou é legítimo que fique para segundo plano em relação a saúde, educação, segurança etc.?


Moniz Bandeira - A política externa é um tema prioritário. Ela tem implicações na estratégia nacional de defesa. O governo do presidente Lula conseguiu um acordo estratégico com a França, que aceitou transferir para o Brasil tecnologia sensível, inclusive para a construção do submarino nuclear, o que os Estados Unidos sempre se recusaram a fazer. O realinhamento do Brasil com os Estados Unidos afetaria a recuperação da indústria de material bélico, necessária à autossustentação das Forças Armadas, duramente debilitadas pelas políticas neoliberais dos governos de Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso.

R7 - Quais são os principais pontos que diferenciam os governos Fernando Henrique e Lula em relação à política externa?


Moniz Bandeira - Os números são mais eloquentes e podem demonstrar melhor que as palavras. Graças à política externa do governo Lula, ampliando as fronteiras diplomáticas do Brasil e diversificando os mercados, as exportações saltaram de US$ 73 bilhões, em 2003, para US$ 145 bilhões em 2010. Dobraram. Enquanto no período do presidente Fernando Henrique Cardoso, que desmantelou seu aparelho diplomático, as exportações brasileiras, de US$ 47 bilhões em 1995, subiram apenas para US$ 61 bilhões em 2002. Se o Brasil, com o apoio da Argentina, não se opusesse ao estabelecimento da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que os Estados Unidos pretenderam implantar, estaria mergulhando em uma profunda crise, como ocorreu com o México, cujo PIB, em 2009, contraiu-se 6,5%, e o índice de desemprego subiu de 4,25% para 6,12%. E o aumento das exportações, possibilitando grandes superávits comerciais, influiu sobre reservas monetárias do Brasil, que saltaram de US$ 49 bilhões, em 2003, para US$ 280 bilhões em outubro de 2010.

R7 - O senhor acha que, no governo da petista Dilma Rousseff, haverá grandes mudanças na política externa do presidente Lula e do chanceler Celso Amorim? Ou aposta na continuidade?
Moniz Bandeira - O governo do presidente Lula, embora mantivesse boas relações com o governo dos Estados Unidos e cooperasse quando os interesses convergiam, tratou de ampliar a autonomia internacional do Brasil e projetá-lo como potência política global. Não há a menor dúvida de que a Dilma dará continuidade a essas diretrizes. Não haverá mudanças substanciais, apenas ajustes e adequação às novas circunstâncias que porventura se configurarem na política internacional.


R7 - O que, na opinião do senhor, precisa ser preservado na política do governo Lula a qualquer custo?


Moniz Bandeira - A autonomia da política exterior do Brasil, visando a conquistar uma inserção internacional correspondente ao seu peso econômico, político e geopolítico.

R7 - A política externa do governo Lula se caracterizou pela prioridade que foi dada aos países do Hemisfério Sul e à integração sul-americana. O senhor acha que Dilma poderia iniciar um processo de reaproximação com os Estados Unidos?


Moniz Bandeira - O risco não é uma retomada, pois o governo do presidente não se afastou propriamente de Washington. O Brasil, durante o governo do presidente Lula, cooperou com os Estados Unidos, inclusive na gestão do presidente George W. Bush (2001-2009), nas questões em que os interesses dos dois países coincidiram. O Brasil e os Estados Unidos, as duas únicas potências do hemisfério, apesar da assimetria, têm de manter relações maduras, equilibrando convergências e inevitáveis divergências, tanto comerciais quanto políticas. Os interesses nacionais dos dois países não são os mesmos. O que é bom para os Estados nem sempre é bom para o Brasil. O risco é a subordinação do Brasil aos interesses econômicos, políticos e geopolíticos dos Estados Unidos, levando-o à condição de satélite na América do Sul.

R7 - Em relação à África, que recebeu uma atenção especial do presidente Lula, quais são as expectativas para os próximos quatro anos?


Moniz Bandeira - O Brasil continuará estreitando relações com a África, sobretudo com os países lusófonos - Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde - e também com a África do Sul.

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