Aproveitando um dos últimos recursos da campanha oposicionista – a tal denúncia da quebra de sigilo fiscal – a mídia hegemônica se esforça em transformar o fato em um escândalo sem proporções. Primeiro, tentando ver se tal escândalo poderia mudar o rumo das eleições.
Por Dennis de Oliveira
No dia 13 de agosto, assisti a uma conferência do professor John B. Thompson, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, intitulada “The New Visbility” (A Nova Visibilidade). Thompson é autor de diversas obras que tratam de mídia e cultura, sendo as mais importantes Ideologia e Cultura Modern, Mídia e Modernidade e O Escândalo Político: Poder e Visibilidade na Era da Mídia (todos da Editora Vozes). O evento foi a aula inaugural do Programa de Pós Graduação de Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da USP.
A ideia central de Thompson: há uma esfera midiática na qual a visibilidade pública se legitima e, por meio deste processo, controlam-se as ações da esfera política. Diante disto, Thompson conclui que o escândalo político divulgado pela esfera midiática funciona como um elemento de “controle” da esfera política, subjugando-a, a medida que cada vez mais os membros da esfera política dependem da visibilidade construída na esfera midiática para se manterem no poder.
Lembrei-me desta conferência recentemente ao verificar a postura dos meios de comunicação hegemônicos na cobertura da disputa eleitoral no Brasil deste ano. Um fato inequívoco está ocorrendo no país: a despeito da campanha quase que unânime dos meios hegemônicos contra a gestão de Lula, o presidente brasileiro tem tudo para eleger a sua candidata com folga. Mais que isto, o presidente bate recordes de popularidade. A adesão da mídia hegemônica à candidatura oposicionista, praticamente isentando o ex-governador de São Paulo de qualquer crítica a sua gestão a frente do maior estado do país e, em certos momentos, transparecendo uma postura preconceituosa (como a famosa fala da “articulista” da Folha de S. Paulo
chamando os delegados do PSDB de “massas cheirosas”) pouco repercutiu em termos de formação de opinião pública: a cada momento, o presidente Lula bateu recordes de popularidade e as pesquisas indicavam um crescimento vertiginoso nas intenções de voto na candidata Dilma Roussef.
chamando os delegados do PSDB de “massas cheirosas”) pouco repercutiu em termos de formação de opinião pública: a cada momento, o presidente Lula bateu recordes de popularidade e as pesquisas indicavam um crescimento vertiginoso nas intenções de voto na candidata Dilma Roussef.
Diante de tal situação, a postura da mídia hegemônica foi, num primeiro momento, de crítica áspera ao candidato da oposição, culpando-o e à sua assessoria mais próxima, pelo fracasso da investida. Cobrava um discurso oposicionista mais duro. Choravam a derrota iminente. E a preocupação redobrou com a constatação de que, junto com o crescimento das intenções de voto na candidata governista, crescia também a preferência na votação em parlamentares vinculadas a ela. Os jornais ainda alardeiam a possibilidade de a candidata governista ganhar a eleição obtendo ainda a maioria absoluta no parlamento o que possibilitaria a realização de mudanças constitucionais.
Daí, então, o sinal vermelho escuro acendeu de vez. Aproveitando um dos últimos recursos da campanha oposicionista – a tal denúncia da quebra de sigilo fiscal – a mídia hegemônica se esforça em transformar o fato em um escândalo sem proporções. Primeiro, tentando ver se tal escândalo poderia mudar o rumo das eleições. Até o momento, as pesquisas demonstram que tem sido ineficaz, as intenções de voto consolidam-se e a eleição caminha para uma definição no primeiro turno. Agora, uma bateria de denúncias ganha as capas de jornais, com a Folha de S. Paulo à frente – requentando matérias sobre erros da tarifa social de energia elétrica e insistindo na vinculação partidária das quebras de sigilo fiscal. Mais que mudar os rumos da eleição, esta postura da mídia hegemônica está mais próxima a tese de Thompson – o escândalo aparece como forma de demonstração de poder e de dissuasão do grupo governista na sua eventual nova gestão. Isto é, demonstrar que, mesmo com a maioria absoluta, há uma outra esfera de poder que pode destruir a reputação caso seus interesses e os que representam sejam atingidos. O escândalo midiatizado age, conforme afirma Thompson, como mecanismo de controle.
Foto por http://www.flickr.com/photos/joseserra/.
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