Ex-presidente Lula apresenta a palestra
"Brasil no Mundo: mudanças e transformações", no encerramento de
Conferência Nacional "2003 – 2013: uma nova política externa"; "Na
Europa, as pessoas protestam para não perder o que conquistaram.
No
Brasil, as pessoas protestam para conquistar mais", comparou, criticando
a chanceler alemã Angela Merkel e repetindo o que disse em artigo
distribuído pelo New York Times: "Não neguem a política"
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"Na Europa, as pessoas protestam para não perder o que conquistaram.
No
Brasil, as pessoas protestam para conquistar mais", comparou o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante palestra “Brasil no
Mundo: mudanças e transformações”, no encerramento da Conferência
Nacional "2003 – 2013: uma nova política externa", evento realizado no
Campus São Bernardo do Campo da Universidade Federal do ABC (UFABC) pelo
Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).
Repetindo o
que disse no artigo distribuído pelo jornal New York Times nesta semana,
o ex-presidente disse que "a pior coisa no mundo é a gente aceitar a
negação da política".
"Estou dizendo isso porque não é de hoje que a
gente vê em vários países do mundo as pessoas colocarem a política no
ralo da podridão", completou, pedindo aos jovens da plateia: "Não neguem
a política". Na palestra, Lula destacou a política externa de seu
governo, dizendo inclusive que vem dando sequência a ela nas viagens que
faz pelo mundo. "Ficar fora do Brasil é um jeito de eu não encher o
saco da Dilma, ficar dando palpite", brincou. "A verdade é que nós não
éramos levados a sério. Mas porque nós não nos respeitávamos. Uma parte
dirigente deste país tinha complexo de vira-lata", comentou o
ex-presidente. Ao ser questionado sobre o ex-prestador de serviço da NSA
Edward Snowden, Lula disse que "esse rapaz está prestando um serviço à
humanidade fazendo as denúncias que ele fez". "Não é aceitável, acho que
os países do mundo inteiro têm de exigir dos EUA uma explicação", disse
Lula, brincando: "Espero que ele não tenha ouvido minhas conversas".
Política "Diferentemente do que algumas pessoas falam, 'o Lula teve
muita sorte, a maré estava favorável'... (o documento que trago)
demonstra claramente que, antes de ser eleito, a gente já tinha uma
vocação para fazer o que fizemos do ponto de vista da relação com a
América Latina, com a África", disse o ex-presidente, fazendo referência
a documentos que comprovariam essa intenção e dizendo que não
permitiria a instalação da Alca (Área de livre comércio das Américas) no
continente.
Segundo Lula, "não seria possivel fazer a policia externa
que fizemos se a gente não tivesse uma definição, uma prioridade". E se
eu não tivesse a sorte de encontrar o Celso Amorim para ser o meu
ministro das Relações Exteriores", disse Lula, comentando que
identificou no seu chanceler (hoje ministro da Defesa) uma pessoa
humilde como ele. Para exemplificar o tom de sua política externa, Lula
contou como foi sua primeira reunião com o então presidente do Estados
Unidos, George W. Bush.
"Em dezembro de 2002, fui convidado para ir ao
EUA, conversar com o 'Tio Sam'. Quando cheguei, Bush estava 'mui
nervoso', por causa dos atentados à torres. Ele tinha de encontrar
alguém para pagar", lembrou o ex-presidente.
"Era preciso pegar o
culpado, e ele estava muito nervoso e queria invadir o Iraque. Ele
falava de forma compulsiva, eu no Salão Oval. Já foi no Salão Oval? Eu
conheço gente que já foi, e não foi legal", brincou. "Eu estava ali,
pensando, e o Bush estava falando e falando de terrorismo, e pra mim era
tudo novidade.
Eu tinha poucos dias de eleito presidente, e o
presidente mais importante que eu já tinha visto na vida era o da
Volkswagen", ironizou Lula, contando que Bush pediu seu apoio para a
empreitada contra o Iraque. "O senhor faça a sua guerra, que eu faço o
minha", respondeu Lula, acrescentando que a denúncia sobre armas
químicas no Iraque foi a maior mentira deste século.
Fome Lula também
contou sobre os esforços de seu governo para estabilizar a Venezuela e
destacou a atenção de sua gestão com a fome. "Nossa polírica externa
teve três coisas básicas. Umas delas, de que me orgulho muito, é que
conseguimos colocar para o mundo a questão do combate à fome.
Nunca a
fome foi tão debatida como a partir do momento que começamos a
introduzir, primeiro em Davos, depois numa reunião com o Chirac, em
Genebra, e depois em todas as reuniões de que participei", disse.
"É
preciso colocar o pobre no orçamento, para ficar gordinho, como eu",
disse Lula, lembrando sua experiência de vida, de ter nascido e crescido
numa região pobre, para destacar o "pilar mais importante" de seu
começo de mandato.
O segundo mais importante, segundo ele, foi a
diversificação das relações. "Me incomodava a subserviência do Brasil",
disse, comentando que ninguém quer romper com os Estados Unidos, mas que
era importante olhar para a América do Sul. De acordo com o
ex-presidente, seu governo puxou o "período mais progressista,
socialista e de esquerda da América do Sul".
Lula lembrou suas relações
com presidentes como o boliviano Evo Morales. "Diziam que eu era frouxo
por não querer brigar com ele. Mas eu quis brigar com o Bush e ele não
quis brigar comigo.
Por que eu brigaria com o Evo?, questionou.
Locomotiva Ao comentar sobre as limitações do poder, Lula apelou para
uma de suas metáforas. "O presidente é como se fosse uma locomotiva. A
estação é a máquina pública. O tempo passa e a máquina está lá,
impávida, e a locomotiva vai trocando.
A gente passa e a coisa não vai
como a gente queria. Faz acordo com um país e, 10 anos depois, ele não é
aprovado nem pelo nosso Congresso, nem pelo deles", lamentou,
completando: "Sei que a presidente Dilma tem tanta ou mais vontade do
que eu".
Ao destacar a importância das relações com a África, Lula
creditou aos países africanos e da América Latina o fato de o Brasil ter
emplacado José Graziano no comando da Organização das Nações Unidas
para Alimentação e Agricultura (FAO), o embaixador Roberto Azevêdo como
diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e Paulo Vannuchi
na Comissão de Direitos Humanos da OEA.
Apesar do aumento de expressão
brasileiro, Lula admitiu que se avançou pouco nos últimos anos na
melhoria da governança global. "A impressão que eu tenho é que a
(chanceler alemã) Angela Merkel está com tanto poder agora que conseguiu
fazer com a Europa o que duas guerras não fizeram", criticou.
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