por Breno Altman no Brasil de Fato
Publicado no o Escrevinhador.
As
manifestações de médicos, nessa última terça-feira, revelam um núcleo
duro e mobilizado das elites brasileiras. Sua influência nos meios de
comunicação, na sociedade e nas instituições já ameaça o programa de
saúde recentemente lançado pelo governo. A julgar pelas emendas
apresentadas na Câmara dos Deputados, a desfiguração desse projeto será
inevitável.
O Palácio do Planalto pode estar pagando um preço por ter agido de
forma atabalhoada, sem consultar e articular as correntes mais
progressistas da medicina, o que seria obrigatório para batalha dessa
envergadura. Mas a reação não é contra eventuais falhas de interlocução:
sua natureza reside em defender privilégios corporativos, contrapostos
aos interesses do país e aos direitos da cidadania.
As três principais bandeiras nas marchas dos jalecos brancos são
elucidativas. São contra a extensão da residência em dois anos, com
obrigatoriedade de servir o Sistema Único de Saúde. Não concordam com a
vinda de doutores estrangeiros para cobrir déficit de profissionais,
especialmente nos rincões do país. Reivindicam a derrubada do veto
presidencial sobre o chamado Ato Médico, que fixava supremacia da
categoria em relação a outros trabalhadores do universo sanitário.
São reivindicações de quem olha para o próprio umbigo. Insuflada
pelos extratos mais ricos e articulados com o conservadorismo, a
mobilização médica não entra na briga para a melhoria da saúde pública.
Seus maiores aliados são os que comandaram campanha para eliminar a CPMF
e retiraram cerca de 40 bilhões de reais anuais para o financiamento do
setor.
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