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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Em entrevista, Lula não foge da raia e peita os golpistas

Portal Vermelho

Quem achava que o presidente Lula iria ficar intimidado com os constantes ataques --vindos até de aliados-- que o acusam de autoritário por criticar os abusos da imprensa, devem ficar surpresos com o tom aguerrido que o presidente adotou em entrevista ao portal Terra. Lula não fugiu da raia, voltou a apontar os ímpetos golpistas da imprensa a da elite direitista que tentaram derrubá-lo em 2005 e agora voltam a se movimentar para impedir a eleição de Dilma no primeiro turno.

Na entrevista exclusiva dada ao Terra e publicada desde a manhã desta quinta-feira (23), o presidente Luis Inácio Lula da Silva aborda um tema delicado. Ao recordar o ano de 2005 e o chamado "Mensalão", o presidente da República deixa claro que, no seu entender, adversários pensaram em derrubá-lo do poder. À pergunta sobre se teria sido uma "tentativa de golpe", Lula esquiva-se de repetir as expressões "golpe" e "derrubar", mas diz com todas as palavras: "Eles não sabiam da força que eu tinha na rua. Eu reuni o governo aqui e eu disse: "olhe, vocês fiquem aqui porque essa gente vai me enfrentar é na rua (bate na mesa)". Eu não sei se a intenção era essa... não quero tratar isso de forma, eu diria, pequena. Eu acho que eles não foram mais adiante de medo de não saber o que iria acontecer. E acho que não foram mais adiante porque (achavam que) já tinham me desgastado demais".

Se alguma dúvida restar sobre o que quer dizer Lula, e a percepção, ou informações que guardou daqueles dias, leia-se um pouco mais do que disse o presidente na conversa com o Terra: "Eu acho que nós tivemos muita, mas muita, muita dificuldade em 2005. Foi um momento em que os setores conservadores deste País tentaram repetir Getúlio Vargas, tentaram repetir João Goulart, tentaram repetir Juscelino (Kubitschek). Porque mostra-se a parte boa de Juscelino, mas não mostra que diziam: "Juscelino não pode ser presidente", "se for, não pode ganhar, não pode tomar posse" e "se tomar posse, a gente derruba". Era assim que eles falavam!"

Para Lula, imprensa tem candidato e partido


Na conversa exclusiva de uma hora com o Terra no Palácio do Planalto, Lula, provocado, esmiúça o que pensa da mídia e sobre a mídia. Diz que, de alguma forma, o país tem, terá que discutir e legislar - no Congresso, ele ressalva - sobre o assunto. Para definir como percebe o olhar da chamada grande mídia, Lula resume: "Eles têm preconceito, até ódio..."

A ênfase, a contundência no julgamento e comentários quando o tema é este, mídia, são permeadas por gestos e palavras que mostram um presidente da República disposto e pronto para o próximo comício.

Para Lula, críticas à falta de liberdade na área de comunicação, mais do que injustas, não têm sentido. Ele diz duvidar que outros países tenham mais liberdade de informação do que o Brasil: "Nesse momento do Brasil, falar em falta de liberdade de comunicação? Eu duvido. Eu quero até que vocês coloquem em negrito isso aqui. Eu duvido que exista um país na face da Terra com mais liberdade de comunicação do que neste País, da parte do governo".

O presidente se mostra disposto a um duro embate com setores da mídia: "A verdade é que nós temos nove ou dez famílias que dominam toda a comunicação desse País. A verdade é que você viaja pelo Brasil e você tem duas ou três famílias que são donas dos canais de televisão. E os mesmos são donos das rádios e os mesmos são donos dos jornais".

"No Brasil - foi o Cláudio Lembo que disse isso para o Portal Terra -, a imprensa brasileira deveria assumir categoricamente que ela tem um candidato e tem um partido. Seria mais simples, seria mais fácil. O que não dá é para as pessoas ficarem vendendo uma neutralidade disfarçada", cobra Lula.

Caso Erenice

O chamado "Caso Erenice" irrompeu na cena da sucessão presidencial há duas semanas e, há uma semana, levou à queda a Chefe da Casa Civil da presidência da República, Erenice Guerra. Pela primeira vez desde então o presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz claramente o que pensa acerca do episódio e dos seus desdobramentos. Nesta segunda parte da entrevista exclusiva ao Terra, Lula avança: "(...)Se alguém acha que pode chegar aqui e se servir, sabe, cai do cavalo. Porque a pessoa pode me enganar um dia, pode me enganar, sabe, mas a pessoa não engana todo mundo todo tempo. E quando acontece, a pessoa perde".

Ainda a respeito do rumoroso assunto, disse Lula: "O que aconteceu com a Erenice é que ela jogou fora uma chance extraordinária de ser uma grande funcionária pública deste País".

O presidente faz ressalvas, no entanto, quanto à extensão das responsabilidades de Erenice Guerra no episódio. Vale-se, para tanto, de metáfora gastronômica. Lembra que "uma feijoada trem trezentas coisas", e que é preciso saber o que é feijão, o que caldo, o que é carne seca... e por ai afora.

O presidente também aponta a revolução que a internet vem provocando na maneira como as pessoas se informam. E anuncia: "...pode ficar certo de que eu serei um internauta vigoroso a partir de 1° de janeiro".

Sobre José Serra, o adversário de sua candidata na eleição presidencial, o presidente comenta: "está hoje na situação em que eu estive nas duas eleições que perdi". E admite que foi muito difícil ser um candidato contra o Plano Real, em 1994.

Abaixo, um trecho da entrevista em vídeo. O Blog do Planalto disponibiliza a entrevista na íntegra

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