Tratado sobre a manipulação das imagens
do Luis Nassif
Por Jorge Furtado
IMAGENS NÃO FALAM
Senador pelo PSDB e líder do governo FHC, principal postulante do DEM à vaga de vice na chapa de José Serra (os outros são Ronaldo Caiado, Agripino e Cesar Maia), único governador do partido que mais violentamente se opõe ao governo Lula, José Roberto Arruda foi flagrado (por uma operação da Polícia FEDERAL) num amplo esquema de corrupção. Os indícios da ladroagem incluem vários vídeos, gravados por um dos membros da suposta quadrilha, onde figuras do DEM, do PSDB, do PPS, manuseiam pilhas de dinheiro.
Perguntado, em Copenhague, sobre como estava acompanhando o caso, Lula respondeu que não estava acompanhando. Perguntado se “as imagens não falam por si”, Lula respondeu o óbvio: “Não”.
Jornalista: As imagens não falam por si ali, Presidente?
Presidente: Vamos aguardar. Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação. Quando tiver toda a apuração, toda a investigação terminada, a Polícia Federal vai ter que apresentar um resultado final, um processo, aí anuncia. Aí você pode fazer juízo de valor. Mesmo assim, quem vai fazer juízo de valor final é a Justiça. O Presidente da República não pode ficar dando palpite, se é bom, se é ruim. Vamos aguardar a apuração.
A declaração de Lula é irretocável. Imagens não falam por si *. E mais: o presidente da república não deve dar palpites sobre investigações policiais. Não deve (e não pode) interferir em decisões da justiça.
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A resposta de Lula (“Imagem não fala por si. O que fala por si é todo o processo de apuração, todo o processo de investigação”) virou, na coluna da geralmente ponderada comentarista Rosane Oliveira, de Zero Hora, “as imagens não significam nada”. Partindo desta elasticidade no trato com as palavras, a comentarista acusa o presidente de uma “elasticidade preocupante do ponto de vista ético”.
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No diagrama que, no Jornal da 10, da Globonews, mostrava o esquema de corrupção de políticos do DEM, do PSDB e do PPS, aparece o logotipo de um único partido: o do PMDB, ao lado da foto de Joaquim Roriz:
(aos 08:00)
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José Roberto Arruda, único governador do DEM e líder do governo FHC no senado (na época, no PSDB), que na semana passada era apresentado pela Folha de São Paulo e pela Veja como modelo de administração pública e principal candidato a vice na chapa de Serra, hoje, segundo “analistas”, “dividiu o palanque com Lula e Dilma” e “ao contrário do seu partido, sempre elogiou Lula”, que agora o trata com “condescendência”.
A velha e minguante imprensa brasileira, que já acusou Lula pelo assassinato dos passageiros de um avião (que se provou estar sem freios), de menosprezar a crise ao defini-la como “marolinha” (e ele, para sorte de todos, estava certo), pelo mau desempenho da seleção do Dunga (que se classificou fácil para a copa) e – nas letras miúdas de uma crítica de cinema escrita por um funcionário do governador Requião – de tentativa de estupro de um menino, agora quer culpá-lo pelas falcatruas do DEM, do PSDB e do PPS.
Por que tantos** jornalistas da velha imprensa agem assim?
1. São mal-intencionados, distorcem os fatos para favorecer seus amigos ou sua corrente política?
2. São idiotas?
3. Como disse o ministro Juca Ferreira, “são pagos para mentir”?
4. Não gostam de pobres?
5. Não gostam de nordestinos?
6. São racistas?
7. Tem, como Daniel Dantas e cerca de 10% da população brasileira, saudade do governo FHC, e por isso querem eleger o Serra?
8. Tem, como um comentarista da RBS TV de Santa Catarina, saudade da ditadura militar? (Repare na “democracia” entre aspas do âncora.)
9. Outros motivos?
10. Todas as alternativas estão certas?
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O senador Agripino Maia, do DEM, chegou a ensaiar um protesto contra o uso político da Polícia Federal, declarou “achar muito estranho que num ano pré-eleitoral a polícia…” A conversa não foi adiante, o próprio senador deve ter lembrado que, no Brasil, todos os anos são pré-eleitorais ou eleitorais.
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Até ontem, os partidos de oposição ao governo Lula (e sua imprensa) tinham na “moralidade administrativa” o único discurso possível para enfrentar a eleição de 2010. Era um discurso frágil, já derrotado em 2006, uma vez que “até o mundo mineral” sabe que a falcatrua que Roberto Jefferson batizou de “mensalão” foi criada para abastecer a campanha do presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo, e as denúncias diárias de corrupção atingem a todos os partidos. Mas era só o que tinham.
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Num eventual segundo turno entre Dilma e Ciro, votarei em quem prometer reintegrar o doutor Paulo Lacerda na Polícia Federal.
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Em outro “vídeo denúncia” divulgado ontem pela RBS TV, um empresário paulista é acusado de oferecer suborno aos prefeitos na compra de material escolar. A reportagem é ótima, o repórter e sua equipe fizeram um grande trabalho, há fortes indícios de que se trata de mais uma quadrilha que rouba dinheiro público, ricos canalhas que roubam brinquedos de crianças pobres, deveriam estar todos na cadeia, se estes indícios forem comprovados pela investigação.
O que a imagem do empresário mostra:
Ele, sentado, arrumando o cabelo, e dizendo as seguintes frases:
EMPRESÁRIO
- O que o prefeito imagina?
Há um corte na imagem.
Nova imagem:
EMPRESÁRIO
- Dez, chegando a dez. Apertando, afrouxando…
E só.
Há o áudio do repórter (que se faz passar por um representante da prefeitura), mas ele está fora do quadro, não aparece na imagem.
Pergunta: esta imagem, com este áudio, diz o quê? Sem a investigação que a acompanha (e que, repito, provavelmente deixa clara a roubalheira), que prova há, no vídeo, para condenar o empresário?
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“Se é verdade que a narrativa por imagens é natural, também é verdade que a palavra representa com maior exatidão a complexidade do pensamento humano e uma linguagem composta só por imagens seria bastante limitada. A primeira destas limitações é lembrada por Sol Worth em seu ensaio “Pictures Can’t Say Ain’t” (Uma imagem não pode dizer “eu não sou”). A imagem não pode afirmar a inexistência da coisa representada, mesmo que René Magritte brinque com esta impossibilidade ao desenhar um cachimbo e sob esta imagem escrever “isto não é um cachimbo”. Para afirmar uma negação, Magritte precisou usar palavras.
** Não todos: “Dizer que Lula faz um bom governo é chover no molhado. Sua gestão é melhor do que a de FHC. Ao dar a Lula elevado índice de aprovação, a população confirma isso. Para atestar o preparo de Dilma, Lula vem dividindo com ela a responsabilidade pela performance do governo.” Kennedy Alencar, Folha Online, 30/11/09
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