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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O jogo da América Latina em 2010


À beira de um novo ano é natural que se olhe pra trás para fazer o velho balanço do que passou ou que se mire pra frente, buscando tentar antecipar o que virá. Prefiro a luneta ao retrovisor. Por isso vou mirar em 2010 e vou focar na América Latina neste que pode vir a ser o meu último post deste 2009.

O ano que chega é muito importante para o que vai se tornar a América Latina na segunda década do século. A eleição do Chile, que acontece em janeiro, pode começar a mudar as cartas do jogo político. Caso o mega-empresário Sebastian Piñera, uma espécie de Berlusconi local, vier a ganhar a eleição, os sinais emitidos não serão os melhores.

Nada que se permita dizer que aumentam as chances de José Serra vir a se eleger presidente da República. Mas ao mesmo tempo pode significar que há uma certa propensão no Continente para substituir sem medo o que em tese está dando certo por promessas de que as coisas podem ficar ainda melhores. É esse o recado que virá do Chile se Piñera vier a vencer. Afinal, a atual presidente Michelle Bachelet goza de alta popularidade e apóia a candidatura de Eduardo Frei, que disputa o segundo turno contra Piñera.

Além do Chile, outra eleição importante será a da Colômbia. Neste caso, o sinal pode vir trocado. Ainda não é certo se Uribe vai ser candidato. Ele já aprovou emenda no Congresso permitindo-se disputar o terceiro mandato consecutivo (seria Uribe um chavista enrustido?), mas avalia o cenário. Se vier a disputar e se acontecer de ser derrotado, os EUA perderão um privilegiado aliado e terão de mudar sua estratégia para o Continente.

Mas o que será mais importante para o cenário latino-americano, sem dúvida, será a eleição de outubro no Brasil. Neste caso, o resultado será decisivo para o jogo regional. Serra, que acaba de comemorar o encontro com o governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger como se fosse um momento maior da política mundial, dispensa comentários a respeito do que fará em relação a parceiros como Venezuela, Equador e Bolívia, por exemplo, se chegar à presidência. Vai fazer de tudo para desestabilizar os governos locais, criando todo tipo de orquestração para isolá-los.

Ou seja, os avanços, mesmo que ainda insuficientes, conquistados na América Latina nesta primeira década do século, estarão em jogo em boa medida neste 2010 que se aproxima. E de alguma maneira jogarão seu jogo decisivo em outubro no Brasil.

Quem vier a pensar as disputas nacionais sem levar esse aspecto em consideração, por mais que não deseje, estará dando milho a bodes. Os velhos bodes conhecidos por falcões num certo país denominado por eles de América. Uma América que não inclui os outros povos, em especial, os latinos.

PS: Estarei me isolando do mundo, inclusive virtual, de 25 de dezembro a 4 de janeiro. Se algo muito importante vier a ocorrer, tentarei passar por aqui. Caso não, adianto meus boas festas a todos os amigos que passam eventualmente ou freqüentemente por aqui. Excelente 2010 a todos.

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