Offshore MCA concentrou 50% das propinas para tucanos, diz Suíça
Relatório indica que Alstom pagou comissão de 15% para obter contrato com Eletropaulo
Sônia Filgueiras e Eduardo Reina - O Estadao de S.Paulo
Um único contrato de consultoria teria sido usado para
dar cobertura a mais da metade das propinas supostamente pagas, entre
outubro de 1998 e abril de 2001, a pessoas ligadas ao governo de São
Paulo, então sob o comando do PSDB. Segundo as investigações do
Ministério Público da Suíça, o contrato foi fechado entre a Alstom e a
offshore MCA Uruguay Ltda. Outras offshores, empresas com sede em
paraísos fiscais, fecharam contratos da mesma natureza.
Com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, a MCA era administrada pelo
brasileiro Romeu Pinto Júnior, que não quis falar ao Estado sobre o
assunto.
Os supostos serviços de consultoria foram formalizados em contratos
para dar cobertura à promessa de comissões. O valor foi prometido em
troca da assinatura de um contrato entre Alstom e Eletropaulo: o Gisel
II, orçado, segundo os investigadores suíços, em 251,7 milhões de
francos franceses (o equivalente a R$ 98,1 milhões, em valores de hoje).
O contrato previa que a MCA receberia o equivalente a 7,5% do valor
do Gisel II. A quantia (18,9 milhões de francos franceses ou R$ 7,3
milhões) foi depositada diretamente pelo grupo Alstom em contas
bancárias da MCA na Suíça e em Luxemburgo. O mesmo porcentual (7,5%) é
descrito em uma anotação interna apreendida pelas autoridades suíças
como o objeto de um "acordo" destinado a remunerar "o poder político" da
época, que estaria sendo supostamente negociado "via um ex-secretário
do governador", identificado pelas iniciais "RM". A MCA recebeu outros
2,8 milhões de francos franceses (R$ 1,1milhão) de forma indireta,
repassados por intermédio de outras empresas offshore.
As propinas inicialmente prometidas a servidores e pessoas ligadas ao
governo paulista, pagas por meio da MCA e outras offshores, segundo as
investigações do Ministério Público da Suíça, chegariam a quase 15%
(37,7 milhões de francos franceses, R$ 14,7 milhões atualizados) do
valor total do contrato entre a Alstom e a Eletropaulo. muitas empresas
para o Brasil.
Há documentos apontando o efetivo pagamento de 34 milhões de francos
franceses, equivalentes a R$ 13,5 milhões, depositados na conta de
quatro offshore.
Ainda de acordo com os investigadores suíços, as propinas, embutidas
em contratos de suborno disfarçados de consultoria teriam sido
prometidas a pessoas que, nos documentos internos da matriz da empresa
Alstom, em Paris, aparecem sob vários pseudônimos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário