Brizola Neto
Embora os resultados do Datafolha divulgados ontem à noite e detalhados hoje, na edição da Folha, devam ser encarados com a reserva que o instituto merece, depois de seus “malabarismos” para segurar um Serra que já caía há tempos – e os outros institutos o mostravam bem antes – e, ainda, porque não há registro de variações deste tipo em nenhum outro instituto de pesquisas.
Mas, descendo aos detalhes da pesquisa, algumas coisas podem ser percebidas.
A primeira é que, o contrário do que afirma o jornal, os dados não permitem uma avaliação como a que faz o jornal, ao afirmar que há uma expressiva queda de Dilma entre os segmentos de melhor renda e que isto se deveria ao “escândalo Erenice”.
Olhe o gráfico aí ao lado. É o detalhamento da intenção de voto publicado hoje pela Folha, de onde as imagens foram reproduzidas.
Note que a diferença em favor de Serra entre os que ganham mais de 10 salários mínimos não é maior do que há 15 dias atrás. Ao contrário, é menor.
Na pesquisa divulgada no dia 11 deste mês, assinanalada pela seta, Serra aparecia, neste segmento, com 37%, contra 32% de Dilma. Cinco pontos de diferença, portanto. Marina tinha os mesmos 20. Como Serra tem, no levantamento divulgado hoje, 38% , enquanto Dilma e Marina têm, respectivamente, 34% (+2) e 20% (não variou), o que é possível dizer numa análise? Aliás, para falar em queda de Dilma seria muito mais correto dizer que ela ocorreu há 15 dias, antes do dito “escândalo”, pois o Datafolha registrava 40% para ela, contra 34% para Serra.
Agora, olhe a parte de cima do gráfico, que representa o segmento entre 5 e 10 salários mínimos, muito mais numeroso que o de mais de 10 e, portanto, mais capaz de influir no resultado final ponderado.
Ali, o Datafolha produz uma verdadeira “gangorra” com Marina Silva. Ela teria 21%, há quinze dias, caiu para 16% há menos de uma semana e, agora, teria saltado para 24%. Veja que passar de 16 para 24% é ter um crescimento relativo de 50%. Não estou dizendo que que houve uma fraude – e também não digo o contrário – mas que é estranho, é. E todo o crescimento dela e de Serra neste segmento teria se dado, essencialmente, sobre Dilma Rousseff e – atenção – sobre os nulos, brancos e indecisos.
Reparem. Dilma teria, 15 dias atrás, teria 44 pontos. Subiu “depois do desgaste” do caso do sigilo, para 47%. E agora, teria caído para 37%. Ou seja, teria perdido um eleitora a cada cinco neste segmento, em uma semana. Verifique se isso corresponde à sua percepção. Mas o mais interessante é que, claro, uma eventual “decepção” com uma candidata, em uma semana, deveria levar a um aumento do número de indecisos, nulos e brancos.
Mas o que acontece é exatamente o inverso. Neste segmento, a soma de incedisos, nulos e brancos era de 8%, passou para 9% na semana passada e , agora, é de 5%. Ou seja, caiu praticamente à metade. Uai, mas como é que isso registra uma decepção com a candidfata favorita. O normal não seria que ao menos uma parcela dos que iam votar em Dilma passassem a anular o voto ou a ficar em dúvida sobre a quem dá-lo?
Considerando toda a amostra, sem distinção de renda, o número de brancos e nulos, da semana passada para cá, caiu de 4% para 3% e o de indecisos, de 7% para 5%. Pequenas variações, nada comparável à queda, pela metade quase, do que aconteceu naquele segmento. Nem entre os de renda superior a queda chegou perto disso, passando de um total de 11% para 8%.
Vocês podem ver, porém, que nos segmentos mais populares, cujo gráfico está aí ao lado, não houve nenhuma variação significativa, à exceção da “inflada” nos números de Marina Silva.
Vem mais coisa por aí. A pesquisa, que é, como os candidatos gostam de dizer, “um retrato do momento”, parece, pela insistência em “forçar” um segundo turno, mesmo criando um quadro em relação a Marina Silva que eu, com sinceridade, não percebo, parece ter se tornado, agora, “o retrato de um desejo”.
Não haverá, porém, uma onda verde, porque a direita roxa já perdeu as condições de fazê-lo
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