por Marcos Guterman
O presidente Lula acaba de ser eleito um dos “líderes mais influentes do mundo” pela revista Time. Inútil dizer que haverá hordas a atacar e defender a escolha, como se as opções editoriais de uma publicação, por mais importante que seja, constituam elas mesmas o fato em si. Não são: trata-se somente da opinião de uma revista, cujos critérios podem ser perfeitamente questionados. Os mesmos que provavelmente aplaudirão a escolha de Lula como um dos “líderes mais influentes do mundo”, a despeito do óbvio exagero, serão aqueles que questionaram a escolha de Barack Obama para receber o Nobel da Paz mesmo conduzindo seu país em duas guerras. É o equivalente do torcedor de futebol que acha que o juiz só erra contra seu time, nunca a favor.
Noves fora esse embate sem sentido, a escolha da Time é interessante. A revista não explicou por que considera Lula “um dos mais influentes”, mas revela que sua escolha foi norteada pela realidade americana: para a publicação, o presidente brasileiro é o exemplo de administrador capaz de conduzir um país pobre ao chamado “Primeiro Mundo” e, ao mesmo tempo, estimular políticas públicas para arrancar milhões de pessoas da miséria. “O que Lula quer para o Brasil é o que costumávamos chamar de sonho americano”, diz a Time, que acrescenta: “Por outro lado, nós nos EUA, onde o 1% mais rico concentra mais riqueza do que a soma dos 95% mais pobres, estamos vivendo em uma sociedade cada vez mais parecida com o Brasil”.
Pode-se concluir, portanto, que aquilo que a Time chama de “influência” de Lula é sua capacidade de “dar o exemplo” para os políticos americanos, às voltas com o ácido debate sobre o tamanho do Estado e seu peso no auxílio aos cidadãos mais pobres. E, nesse aspecto, a revista acertou: extraiu do governo Lula aquilo que ele tem de melhor, isto é, seu compromisso de dar condições mínimas de existência à maioria absoluta dos brasileiros, que passou o século republicano sendo ignorada.
Do ponto de vista brasileiro, o problema é que a escolha da Time só reforça a sensação de que tudo isso depende da figura de Lula, um personagem cujo perfil o credencia a falar em nome dos miseráveis que seu governo ajudou. O pós-Lula será uma espécie de ressaca da força desse carisma, já que nenhum dos principais postulantes a seu cargo é capaz de rivalizar com ele nesse aspecto – ambos, Serra e Dilma, se apresentam como administradores, e não como líderes. Assim, a ausência de Lula certamente será sentida, para o bem ou para o ma
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