JIM O?NEILL - O Estado de S.Paulo
No mês de abril, a primavera está no ar em Londres, embora, se você passa a maior parte do tempo entre quatro paredes, preocupado com as próximas eleições britânicas, ou com a dívida do governo, ou a situação do sistema financeiro internacional, ou com o jogo entre políticos e financistas, talvez não pense assim. É agradável sair ao ar livre, sentir o calor do sol e desfrutar de dias mais luminosos e mais longos.
Quando a poeira das cinzas (do vulcão) se levantar, será maravilhoso recomeçar a viajar, principalmente para os habitantes dos países do Ocidente, porque o mundo realmente é um lugar mais luminoso do que muitos pensam.
Muitas vezes me pego dizendo a pessoas da minha geração (53) que, quando a maioria de nós, ocidentais, fala do mundo, no dia de hoje, não se refere ao mundo moderno real, concreto, mas do Ocidente, dos Estados Unidos e da Europa em particular. Felizmente, eles não são o mundo hoje.
Tendo viajado pelo mundo duas vezes em 2010, acho que posso dizer que, hoje, pelo menos a metade da população mundial não fala em "aperto do crédito" antes de tomar o café da manhã. Talvez possa parecer assim para quem não sai de Londres ou de Nova York, mas não é verdade.
Há umas duas semanas, voltamos a corrigir para cima nossas previsões do Produto Interno Bruto (PIB) para 2010 e 2011. Agora, prevemos um crescimento de 4,3% para este ano, e de 4,4% para o próximo. O crescimento real do PIB mundial, nos últimos 25 anos, foi de aproximadamente 3,7%, portanto, estamos significativamente acima disto, e a gente não se daria conta lendo a mídia ocidental ou ouvindo muitos políticos, mas em geral prevê-se um crescimento maior do que a média dos últimos 25 anos também.
Uma visão nossa ainda mais controvertida, relacionada à emergência das chamadas economias Bric, é que acreditamos que a tendência do crescimento mundial - a taxa à qual é possível crescer sem gerar pressões inflacionárias - é possivelmente de alta. Talvez não nos Estados Unidos, com o problema do crédito, ou na Grã-Bretanha, ou em certas partes da Europa, mas elas não são o mundo.
Nós achamos que há evidências cada vez mais concretas de que as três economias dos países mais populosos na Ásia - China, Índia e Indonésia - estão mostrando sinais de uma tendência de crescimento maior. Esses três países sozinhos representam cerca de 3 bilhões de pessoas. No que se refere à China e à Índia, é concebível que, nos próximos anos, ambas possam crescer a perto de 10% ao mesmo tempo, e fundamentalmente graças à demanda interna.
Às margens da Europa, a Rússia, o membro pobre e muitas vezes ridicularizado do grupo do Bric, deverá surpreender e crescer entre 5% e 7% nos dois próximos anos, e o outro vizinho mais populoso da Europa Ocidental, a Turquia, mostra sinais crescentes de uma vigorosa recuperação.
Na África, há países que mostram estar fazendo coisas de maneira diferente do que faziam no passado. E, evidentemente, olhando a América Latina, o Brasil exibe inúmeros sinais de uma vitalidade à qual sua grande população não está acostumada. Somando tudo isto, acho que a taxa de crescimento não inflacionária mundial será possivelmente de 4%.
Se estivermos certos, poderemos chegar à recuperação de 4,8% que prevemos para os próximos dois anos, e sem consequências inflacionárias. Em termos teóricos, como o PIB mundial, que caiu de fato em 2009, e cresceu abaixo da tendência em 2008, poderá crescer 6,5% em cada um dos próximos dois anos, fechando o "gap" da produção.
Muitos participantes dos mercados financeiros - e estrategistas - simplesmente não estão preparados para essa possibilidade, e, se os bancos centrais continuarem tão cautelosos quanto agora, apesar de todos os supostos problemas, os mercados acionários mundiais talvez continuem se recuperando, e, contrariamente a muitos temores, os mercados de títulos do governo mundiais também poderão ter um bom desempenho.
É difícil ter uma postura pessimista no mercado de títulos quando os bancos centrais do G-7 mantêm taxas de juros perto do zero!
E então, o que têm os tais "problemas"? Vejamos a Grécia, o inesgotável tema de discussão onde quer que eu vá. É evidente que a Grécia tem inúmeros problemas, e isso não é bom para ela, provavelmente não é bom para a credibilidade da União Monetária Europeia e quase definitivamente não é bom para o euro. Mas não é um problema grave para a economia europeia, e, com certeza, para o mundo.
A Grécia representa cerca de 2,5% da área do euro e tem uma economia de US$ 350 bilhões. No primeiro trimestre de 2010, as importações da China cresceram mais de US$ 500 bilhões em termos anuais. A Grécia poderia desaparecer completamente, e, no prazo de 8 meses, a China criaria o seu equivalente com o que ela importa agora.
E o que há com a China e com todas essas supostas bolhas? Embora a economia chinesa tenha apresentado um crescimento do PIB de cerca de 12% no primeiro trimestre, seu mercado de ações tem andado de lado desde o pico de meados do ano passado.
Consequentemente, segundo o consenso em termos atuais e futuros, o coeficiente preço-lucro caiu significativamente e as ações chinesas parecem bastante atraentes, sem chegar perto do território das bolhas. A única área que mostrava sinais de bolhas modestas, o mercado imobiliário de alto padrão, provocou uma enérgica reação do governo, que adotou medidas destinadas a conter as compras especulativas.
A China continua se ajustando: sua economia, outrora impulsionada pelas exportações, está se tornando uma economia baseada na demanda interna sustentada, particularmente no consumo. E, na minha opinião, quanto mais rapidamente eles reduzirem o crescimento para a área dos 10% com um equilíbrio sustentado, mais confiança inspirarão a todos.
O outro problema frequentemente discutido é o risco da chamada recessão em W nos EUA e no Ocidente. Embora ali esse risco esteja sempre presente por causa de um erro tolo de estratégia, o fato é que as condições financeiras nos EUA, na Europa e em toda a região da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) permanecem bastante favoráveis, sugerindo uma recuperação razoável e o risco cada vez menor de uma recessão em W.
Para vocês, no Brasil, o inverno se aproxima, mas não impedirá que desfrutem dos sinais cada vez mais claros de uma saudável primavera. Aproveitem! / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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