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domingo, 18 de abril de 2010

"Ô “mainha”, é a mulher de Lula que vai entrar no lugar dele"


FOLHA SP – DO ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

FOLHA – A sra. sabe que haverá eleições neste ano?
SUELI DUMONT - Para prefeito?

FOLHA – Não, para presidente. A sra. conhece os candidatos ou sabe em quem vai votar?
SUELI - Em Lula!

FOLHA – Mas ele não pode ser candidato desta vez…
SUELI - Ai meu Deus! Pode não?
KÉSSIA (filha de Sueli) - Ô “mainha”, é a mulher de Lula que vai entrar no lugar dele.
SUELI - Como é o nome dela?
KÉSSIA - É Vilma.
SUELI - Vou votar em Vilma.

A família de Sueli Dumont é beneficiária do Bolsa Família desde 2005, quando a reportagem da Folha passou a acompanhar todos os anos algumas das famílias atendidas pelo programa no Nordeste.
Em 2005, o núcleo familiar dos Dumont era composto de 10 pessoas. Em 2008, passou a 13. Na última visita, no início deste mês, eram 17.
Todos vivem em uma favela, o Suvaco da Cobra, na periferia de Jaboatão dos Guararapes, vizinha a Recife. Uma semana antes da visita da Folha, houve três assassinatos no local.
Há poucos anos, as quatro filhas maiores de Sueli (Kássia, Késsia, Rafaela e Priscila) garantiam, na adolescência e durante a idade escolar, o recebimento do benefício pela mãe.
Ainda adolescentes, engravidaram. As quatro têm juntas hoje sete filhos. Antes de se tornarem mães, receberam dinheiro federal para participar do programa Agente Jovem.
Fizeram cursos de bordado e cabeleireira. Hoje, nenhuma delas trabalha. Mas três das quatro já passaram a receber R$ 90 cada do Bolsa Família.
A própria matriarca Sueli ainda é beneficiária. Aos 37 anos, tem quatro filhos com idades entre cinco e 15 anos. Diz receber R$ 134 por mês.
No clã dos Dumont, apenas o marido de Sueli trabalha com alguma frequência, como carroceiro. Sueli trabalhava sem registro em um lixão. Teve de parar por causa de uma incômoda doença de pele que faz partes do corpo “descascar”.
No dia a dia, os Dumont vivem amontoados em três barracos. Em 2005 era uma moradia, em um terreno mínimo. Com o aumento da família, ficou tudo mais apertado.
“Tem hora que gostaria de estar morando no meio do mato, só com bicho em volta, em silêncio”, queixa-se Sueli.
A poucos metros da casa de Sueli, uma experiência um tanto mais bem sucedida, até aqui.
A família de Pedro Silva e Micinéia Santos, com três filhos, avança devagar, mas de forma consistente. Luan, 11 e Alan, 10, estão na escola desde que a Folha passou a visitá-los nos últimos anos. A pequena Vanessa, 8, entrou mais recentemente.
A cada visita, a reportagem fez um ditado para as crianças e pediu para que lessem um texto. O progresso foi grande, assim como tem sido, desde o início, a atenção dos pais com a escola (que a Folha conheceu).
A maior parte das visitas ao Suvaco da Cobra ocorreu pouco antes das crianças irem para a aula. É a mãe quem supervisiona o banho, o almoço e quem as leva ao colégio. Mas é Pedro, 60, quem normalmente cobra a lição e os estudos.
Micinéia também é beneficiária do Bolsa Família (R$ 134 ao mês) por conta das crianças. Mas, finalmente, depois de anos solicitando uma pensão por invalidez, Pedro (que teve o braço direito praticamente inutilizado em um acidente) agora recebe um salário mínimo por mês do INSS.
Ele diz que ainda “não gravou” o nome dos candidatos à sucessão. Mas também achava que Lula poderia ser candidato. “Meu candidato será o do governo”, diz.
Cerca de 14% dos eleitores, a maioria no Nordeste, segundo o Datafolha, dizem querer votar em alguém apoiado por Lula, mas ainda não sabem que Dilma é candidata.

Metas do programa
Para Lúcia Modesto, secretária nacional de Renda e Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, vários aspectos do Bolsa Família têm sido “incrementados” nos últimos anos.
Mas ela admite que “os avanços não são suficientes” no programa, que saltou de um atendimento de 3,6 milhões de famílias em 2003 para 12,3 milhões no final de 2009.
Uma das principais metas do Bolsa Família é atingir 100% no monitoramento da frequência escolar e nos postos de saúde entre os beneficiários.
Há ainda a meta de ampliar o programa Próximo Passo, para capacitação profissional de jovens. Lúcia admite que, em muitos casos, o Agente Jovem acabou funcionando mais como “terapia ocupacional” do que como treinamento.
“Mas o Bolsa Família tem, indiscutivelmente, um poderoso impacto sobre a pobreza extrema”, diz. (FERNANDO CANZIAN)

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