Correio do Brasil
Cerca de 300 pessoas lotaram na quarta-feira o auditório do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro para a noite de autógrafos do livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior.
A obra acusa, com documentos, a existência de um esquema de desvio de recursos montado por integrantes da cúpula do PSDB durante o processo de privatizações de empresas públicas brasileiras no período em que Fernando Henrique Cardoso governava o país (1995-2002).
Com a presença do deputado federal Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), o debate que se seguiu transformou-se em ato em defesa da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) proposta pelo parlamentar no Congresso Nacional para apurar as denúncias trazidas pelo livro.
O grande número de lideranças sindicais presentes ao ato confirmou que a CPI da Privataria Tucana, como está sendo chamada, tem alta ressonância nos movimentos sociais.
Sugere ainda que irá angariar forte apoio, sobretudo, em setores atingidos por cortes de postos de trabalho e pelo achatamento salarial decorridos do período em que o ímpeto privatista foi mais agudo.
A ausência de parlamentares – além de Protógenes, o único presente era o deputado estadual Gilberto Palmares (PT-RJ) – revela que ainda resta algum caminho a ser percorrido até que a CPI ganhe vida e se torne realidade na Câmara dos Deputados.
O deputado lembra o recesso parlamentar e relativiza a ausência de colegas: “A CPI foi proposta em dezembro, quando já estavam se encerrando os trabalhos legislativos e o Congresso estava já um tanto desmobilizado”. O lançamento do livro, “tomado como um documento público importante”, acabou por reforçar, segundo Protógenes, a necessidade de uma investigação parlamentar.
– Essa necessidade nasceu a partir dos interesses que norteiam a política brasileira, por isso consegui, em quatro dias, 206 assinaturas de parlamentares de todos os partidos políticos, tanto da base aliada quanto da oposição. Isso criou um compromisso entre os parlamentares. Alguns deputados ainda estão indo à Secretaria da Câmara entregar ofícios para integrar a CPI, diz.
A CPI foi protocolada em dezembro com 185 assinaturas, 14 a mais do que o mínimo constitucional exigido para a abertura de uma comissão do gênero. O requerimento foi entregue ao presidente da Casa, deputado Marco Maia (PT-RS), que prometeu levar o tema adiante em fevereiro, após o recesso. Ele não fixou data para isso.
Apoios
Como exemplo do amplo leque de apoios que alega estar conseguindo para a CPI da Privataria Tucana, Protógenes Queiroz cita a assinatura de um dos cinco deputados do DEM que aderiram, o amazonense Pauderney Avelino. “Ele (Avelino) foi líder (de sua bancada, aliada) do governo de Fernando Henrique Cardoso, mas assinou a CPI e quer investigar o que aconteceu naquele governo. Essa é a resposta de um parlamentar correto e que atua de forma isenta”, disse o comunista, que também incluiu nesse perfil o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
A expectativa de Protógenes é reunir um número expressivo de deputados federais de todo o país durante um ato em defesa da CPI que ocorrerá no Fórum Social Temático a se realizar na semana que vem em Porto Alegre. O deputado também acompanhará Amaury Ribeiro Júnior em lançamentos do livro em outras capitais do país. “Muitos eventos como este realizado no Rio ainda vão ocorrer. Estamos assistindo a uma mobilização nacional. A CPI já nasce com o compromisso de repaginar essa história brasileira”, diz.
Durante o debate, diversas intervenções cobraram de Protógenes a possibilidade de a CPI culminar na recuperação para os cofres públicos dos recursos desviados durante o período das privatizações. “É necessário que se investigue, se apurem as responsabilidades e, se possível for, que as nossas riquezas voltem ao povo brasileiro. É possível repatriar o dinheiro e punir os lavadores de dinheiro, sem conceder anistia”, respondeu o deputado.
Outras intervenções sugeriram que também fossem criadas CPIs para tratar de temas como a regulamentação da mídia e a destinação dos recursos do pré-sal, entre outros.
Bancos estaduais
Algumas lideranças sindicais lembraram o sofrimento vivido pelos movimentos sociais durante o ciclo de derrotas simbolizado pelo processo de privatizações. Ex-presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Fernanda Carisio lembrou a privatização do Banerj, comandada pelo então governador tucano Marcello Alencar:
– Recebemos a notícia de que o Banerj seria privatizado durante um plantão no sindicato, na virada do ano de 1997. Essa luta, aliada à luta contra a privatização do Banespa, em São Paulo, e do Meridional, no Rio Grande do Sul, foi um processo recheado de heroísmo. Tudo estava contra a gente, mas assim mesmo conseguimos resistir por muito tempo, disse. Para Fernanda, “o escândalo da privatização dos bancos estaduais mereceria um outro livro”.~
Oriundo do movimento de trabalhadores da Telebrás, o deputado estadual Gilberto Palmares ressaltou que boa parte das lideranças do movimento sindical atual foi forjada nas lutas contra as privatizações. Representantes de diversas categorias, como aeroviários, petroleiros, professores e estudantes, entre outras, compareceram ao ato em defesa da CPI.
Trabalhadores do setor financeiro se fizeram presentes em maior número. Além do presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, Almir Aguiar, que coordenou o debate, compareceram ao ato dirigentes dos sindicatos dos bancários da Baixada Fluminense e de Petrópolis, além de representantes da Federação dos Bancários do Rio de Janeiro e do Espírito Santo e da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro.
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