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domingo, 17 de julho de 2011

O rastro de miséria que EUA e seus serviçais deixaram na América Central.

Importante perguntar: quantas invasões os EUA fizeram aos países da América Latina? Quais os golpes, as ditaduras e derrubadas de governos eleitos democraticamente que os EUA não estiveram no apoio logístico? 

A América Latina perdeu as oportunidades de todo século XX porque tinha governos autoritários e subserviente aos interesses estadunidenses de um lado, de outro políticas neoliberais orientadas pelo FMI. 

Agora, diante do fracasso império ianque, países latino-americanos estão ainda mais pobres porque nunca como afirma Emir Sader:  toda a região vive em uma espécie de limbo: nem são atendidos pelos EUA e pelo México, em crise, nem condições disponíveis para integrar-se a processos sul-americanos, porque assinaram o Tratado de Livre Comércio com os EUA. Cabe aos Brasil e aos países que adotaram os processos de integração regional desenvolverem propostas que atendam às necessidades centrais da área centro-americana, com El Salvador no seu centro

Veja o texto abaixo de Emir Sader 


Autor(es): Emir Sader
Correio Braziliense - 17/07/2011

Subcontinente geografricamente a metade do caminho entre a América do Norte e a América do Sul, ao lado do Caribe, a América Central, mais do que nunca, encontra dificuldades para afirmar sua identidade na era da globalização neoliberal. À forte polarização internacional e marginalização das zonas mais frágeis do sistema capitalista se somaram a recessão prolongada nos EUA e no México, principais sócios econômicos e referências políticas tradicionais.

A rebelião de países da região — governos sandinistas na Nicarágua, movimentos guerrilheiros — não produziram espaços de autonomia, ao contrário, deixaram sequelas ainda mais graves. Na Nicarágua, Daniel Ortega retornou ao governo, com uma orientação bem mais moderada. Na Guatemala, as forças guerrilheiras e os movimentos indígenas não conseguiram transferir a força acumulada para forças políticas institucionais. El Salvador foi o país que melhor conseguiu adequar-se ao novo marco internacional — a passagem da bipolaridade à hegemonia imperial norte-americana.

Terminada a guerra fria, os movimentos guerrilheiros centro-americanos buscaram se reciclar para os processos político-institucionais. Em El Salvador, a Frente Farabundo Marti — que congregava todos os movimentos da luta armada — se transformou em um partido político que, rapidamente, conseguiu eleger vários prefeitos — inclusive na capital — e uma bancada importante no Congresso. No entanto, só nas eleições de 2009, ao lançar o nome de um jornalista muito conhecido em âmbito nacional — Maurício Funes —, sempre opositor nas suas posições como candidato à presidência, os movimentos conseguiram triunfar.

A situação herdada já era muito grave, antes da crise econômica internacional. Mais de 50% do fluxo comercial do país se dá com os EUA, revelando a enorme dependência do mercado norte-americano. Cerca de 1/3 da população salvadorenha — cerca de 3 milhões de pessoas — vive nos EUA, remetendo parte dos seus ganhos a El Salvador, o que constitui 18% do PIB, como primeira fonte de ingresso do país.

Os governos neoliberais que dirigiram o país nas duas décadas posteriores ao final da guerra interna promoveram uma concentração de renda ainda maior que a existente antes dos conflitos armados. A balança comercial do país é permanentemente deficitária. El Salvador importa grande parte dos alimentos que consome. Dois de cada 10 trabalhadores não têm emprego formal e cobertura social. Quando Funes assumiu, a economia salvadorenha havia sofrido um retrocesso de cerca de 4%. Perderam-se, entre 2008 e 2009, em torno de 40 mil empregos formais, além dos impactos no extenso setor informal da economia.

Imediatamente, o governo elevou os recursos para as políticas socais de US$24 milhões para US$134 milhões, como expressão da centralidade das políticas sociais que o governo assumiu. Foi criada a Secretaria de Inclusão Social — dirigida pela brasileira Vanda Pignato, que realiza extraordinário trabalho de criatividade na área social, a começar pelas inovadoras Cidades Mulheres, que desenvolvem programas sociais que se constituem em eixos prioritários do mandato de Funes: proteção social universal, pacotes escolares, alimentação escolar, bônus em educação e saúde, bolsas educativas, pensão básica universal e programa de atenção temporária à renda.

Como resultado da aplicação das políticas sociais, nos seus dois primeiros anos o governo de Funes conseguiu resultados muito positivos: extensão da cobertura pré-natal para 98,7% dos casos; controle sobre o crescimento e a nutrição das crianças superior a 90%; taxa de matrícula escolar superior a 98%; o número de partos atendidos aumentou 13,3%; a repetição escolar diminuiu 8%.

Atacando obstáculos estruturais à democratização de El Salvador, o governo distribuiu, em dois anos, 18 mil títulos de posse de terra, entre os quais 35,5% foram para mulheres, secularmente excluídas do direito de propriedade. O programa de atendimento aos veteranos de guerra distribuiu bolsas e desenvolve um programa de nutrição e saúde.

Mas, mesmo El Salvador, com um governo democrático e popular, sofre as consequências da crise econômica internacional e vive — como toda a região — em uma espécie de limbo: nem são atendidos pelos EUA e pelo México, em crise, nem condições disponíveis para integrar-se a processos sul-americanos, porque assinaram o Tratado de Livre Comércio com os EUA. Cabe aos Brasil e aos países que adotaram os processos de integração regional desenvolverem propostas que atendam às necessidades centrais da área centro-americana, com El Salvador no seu centro.

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