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domingo, 17 de julho de 2011

Os EUA vão dá calote ao Brasil e ao resto do mundo?



O Brasil tem 187 bilhões investidos no tesouro americano. Talvez seja o quinto maior investidor. O mundo certamente está olhando para os EUA nos próximos dias - o maior país devedor no mundo. No entanto, o que me dói ver que se fala por lá em reduzir investimentos sociais, quando na verdade quase a metade do orçamento americano é para a sua indústria de guerra. 

Com os seus 187 bilhões investidos no Tesouro americano, o Brasil tem  contribuído para sustentar sua indústria da guerra? 

E quem irá pagar a conta desse desastre americano são os pobres dos EUA, que não têm o cinturão de políticas sociais que o Brasil desenvolveu nesses últimos anos. 

                                                                          

À BEIRA DO CALOTE, OS EUA PEDEM SOCORRO
Autor(es): Gabriel Caprioli
Correio Braziliense - 17/07/2011

Em crise econômica desde o fim de 2007, os Estados Unidos ameaçam tomar uma medida extrema: o país mais poderoso do mundo pode dar calote em sua dívida para não entrar numa nova recessão.

Desde o fim de 2007, os norte-americanos foram forçados a reduzir o consumo em US$ 2,3 trilhões, um PIB brasileiro

Investidores e representantes de governos perderam o sono nas últimas semanas, diante do temor de que o mundo entre em uma nova recessão, caso a maior economia do mundo, os Estados Unidos, recorra a uma atitude extrema: dê calote em sua dívida. A ameaça ganhou proporções gigantescas diante da dificuldade do presidente Barack Obama em dobrar as resistências de um Congresso dominado pelo partido de oposição, o Republicano, para elevar o teto do endividamento do país, que já está em
US$ 14,3 trilhões. O prazo-limite do governo é 2 de agosto.
Mas a batalha atual enfrentada por Obama é apenas uma das faces da cruel realidade vivida hoje pelos EUA. Desde o fim de 2007, quando oficialmente entrou em recessão, passando pelo colapso provocado pelo estouro da bolha imobiliária em setembro de 2008, a locomotiva do planeta descarrilou. Com o crescimento patinando, as taxas de desemprego praticamente dobraram, encostando nos 10%. Tanto a indústria quanto o comércio se mantêm no atoleiro. Os bancos ainda escondem esqueletos que minam a confiança no sistema. As contas públicas estão à beira do descontrole, com um rombo de US$ 1,2 trilhão. Para piorar, todas as medidas de estímulos à atividade dadas pelo Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) têm se mostrado fracassadas.

As dificuldades são tantas que não há hoje um único analista que se arrisque a prever uma rápida recuperação dos EUA, mesmo que Obama veja atendido o seu pleito mais imediato. Pelo contrário. As apostas são de que a economia norte-americana precisará de pelo menos 10 anos para juntar as peças e voltar a liderar a expansão global. A razão de tanto pessimismo é uma só: os Estados Unidos foram feridos no coração. O país é movido pelo consumo das famílias. E foram elas as maiores prejudicadas pelas estripulias governamentais na última década.

Os dados são do Fed: de dezembro de 2007 a junho deste ano, cada norte-americano foi obrigado a cortar US$ 175 de seus gastos mensais. Isso quer dizer que, em três anos e meio, US$ 2,3 trilhões deixaram de ir para o consumo, valor equivalente a um Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Sem o ímpeto das famílias de partir para as compras, as vendas do comércio estão estagnadas. Os estoques elevados desestimulam as encomendas à indústria. Ou seja, a máquina travou.

Endividamento
Os indicadores mais recentes mostram que as engrenagens para uma possível virada da economia norte-americana permanecem desreguladas. Somente em maio último, o endividamento das famílias aumentou 2,5%, pelo oitavo mês consecutivo, retornando aos níveis de 2008, auge da crise imobiliária, quando ruiu o quarto maior banco de investimento do país, o Lehman Brothers. O índice de confiança do consumidor, por sua vez, recuou ao patamar de março de 2009 e a tendência de piora é visível.

Do lado do governo, com os débitos explodindo, de cada US$ 10 arrecadados em impostos, US$ 4 vão para o pagamento de juros. Essa situação, considerada insustentável, foi construída, sobretudo, nos oito anos de gestão de George W. Bush, período em que os EUA entraram em duas guerras, a do Afeganistão e a do Iraque. Entre 2001 e 2010, o Ministério da Defesa daquele país gastou US$ 5,2 trilhões nessas investidas — quase o PIB de uma China, a segunda maior economia do mundo. O desejo de vingança pelos atentados terroristas ao World Trade Center, 10 anos atrás, infelizmente, pôs a pique um doloroso e bem-sucedido processo de ajuste fiscal construído na era Clinton.

Professor de relações internacionais do Ibmec-DF Creomar Souza lembra que, para bancar os conflitos, o governo de Bush impôs pesados fardos aos setor produtivo, que passou a arcar com mais impostos. “Infelizmente, a economia norte-americana já não se baseava mais na indústria e no trabalho, como na Segunda Guerra. Os pilares do crescimento eram o crédito farto e o consumo fácil. Para compensar o aumento das despesas, o governo foi obrigado, então, a se endividar”, explica.

Com maioria no Congresso, Bush não teve problemas para obter constantes permissões para o aumento do endividamento do país. “Era relativamente fácil, porque o aumento de gastos não preocupava. As receitas iam bem e o Congresso era mais permissivo”, afirma o economista Raphael Martello, da Tendências Consultoria. A partir do estouro da bolha imobiliária, porém, os EUA tiveram de conjugar os gastos das guerras com um gigantesco socorro aos bancos e estímulos à atividade, ao mesmo tempo em que a arrecadação de impostos recuava. “Foi o pior dos mundos. E o reflexo pode ser visto com clareza hoje”, acrescenta. Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que, de 2008 para cá, o deficit orçamentário e a dívida pública explodiram. O rombo saltou de US$ 680 bilhões para US$ 1,2 trilhão, enquanto a dívida em relação ao PIB foi de 48,4% para 64,8%.


Negros sofrem mais
A frágil situação da economia dos Estados Unidos tem tido efeitos devastadores na área social. Os norte-americanos, que gozavam de pleno emprego — taxa de desocupação abaixo de 4,5% — viram a desocupação avançar para 9,6% em três anos. A riqueza nos lares desabou, ampliando a pobreza, sobretudo dos negros. Em 2004, a média do patrimônio líquido das famílias brancas era de US$ 134.280 contra US$ 13.450 das negras. Em 2009, segundo dados do Federal Reserve (Fed), esse indicador tinha caído para US$ 97.860 (-24%) nos núcleos familiares brancos e para US$ 2.170 (-83%) nos lares negros.

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