Portal Vermelho
À revelia do próprio candidato e de seu marqueteiro, a campanha presidencial de José Serra vai se assumir, na propaganda da TV, como herdeira do governo privatista e neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Embora o próprio FHC já tenha anunciado que não participará de eventos de campanha no segundo turno, as pressões para Serra “tirar a máscara” venceram.
Querendo ou não querendo, o presidenciável tucano seria exposto ao tema das privatizações — um dos pontos mais vulneráveis de sua biografia. A campanha de sua rival na disputa ao Planalto, Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, já tinha decidido usar os programas de TV para comparar seus projetos de governo à plataforma real de Serra.
A estratégia é uma reedição do que foi feito em 2006, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato à reeleição, emparedou o tucano Geraldo Alckmin com a mera lembrança de que o PSDB pôs o patrimônio público à venda. “Sem dúvida, a gente tem que comparar a questão das privatizações. E o tratamento que eles deram à Petrobras — quando tiraram até o que é mais brasileiro, que é o 'bras', e tentaram colocar o 'brax'", disse Dilma, na segunda-feira, referindo-se à proposta subalterna do governo FHC-Serra de trocar, em 2000, o nome da empresa para PetroBrax.
Serra — que fez no primeiro turno uma campanha essencialmente assistencialista e se apoiando no discurso do medo contra Dilma — aceitou jogar conforme as regras do adversário. No primeiro grande ato de campanha do segundo turno — que reuniu nesta quarta-feira (6) os principais governadores e parlamentares eleitos por PSDB, DEM, PPS —, o presidenciável tucano já começou a resgatar o legado do governo FHC, incluindo as privatizações.
A estratégia atende a sugestões do senador eleito por Minas e ex-governador Aécio Neves. Como bem registrou o jornalista Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador, “Serra queria — das lideranças do PSDB — sugestões para o segundo turno. Aécio, ‘muy amigo’, sugeriu que Serra traga FHC e as privatizações para o debate”. E assim se fez. “FHC é o aborto de Serra. Ou Serra é o aborto de FHC?”, questiona Vianna.
Serra, sem saída, “saiu do armário” e acomodou as privatizações em seu discurso, especialmente a privataria no setor de telecomunicações. O discurso agradou às alas mais direitistas de sua campanha — e foi um tiro quase de morte no marqueteiro Luiz Gonzáles, que pretendia, a qualquer custo, evitar o tema. “Eu elogio a privatização, a abertura de telecomunicações. Não venham com trololó de factoides dessa natureza”, disse ao público um Serra inesperadamente enfático sobre um tema que, dias antes, era tabu.
Aécio, já eleito e com um futuro político mais confortável, se deu ao luxo de ser mais radical. Na chegada, disse que a ode à privataria deveria ser a primeira atitude da nova fase da campanha. “Devemos defender isso com altivez e iniciar o segundo turno falando dele. Não teria havido o governo Lula se não tivesse havido o governo Itamar, com a coragem política de lançar o Real, e se não tivesse havido o governo FH, que consolidou e abriu a economia”, discursou Aécio, aos brados. “Quer falar de privatizações? Vamos falar!”
Serra, ao dizer que “não tem vergonha” de defender as privatizações, consolidou a tática que Lula tanto planejara para a disputa: uma eleição plebiscitária, em que o desgastado governo FHC fosse comparado à gestão dele próprio, Lula — o presidente com a maior aprovação popular da história do Brasil.
No entanto, Serra se revelou profundamente irritado com o destaque obtido por Lula na campanha presidencial de 2010. Propôs até uma espécie de camisa-de-força ao presidente. “Uma das primeiras coisas que vamos ter de fazer é aprovar uma legislação que estabeleça os marcos dos chefes do Executivo nas campanhas eleitorais. O que não fica estabelecido pelos usos e costumes, fica estabelecida em lei”, afirmou, no momento mais antidemocrático de sua fala.
Registre-se ainda, na fala de Serra, o primeiro ato falho do segundo turno. Ao citar o aborto, Serra cometeu um deslize constrangedor. "Pode ser um defeito em política, mas só tenho uma cara. Nunca disse que sou contra o aborto porque sou a favor. Ou melhor, eu nunca disse que era a favor do aborto porque sou contra o aborto. Sou contra." E que prossiga assim o segundo turno.
Da Redação, com agências
A estratégia é uma reedição do que foi feito em 2006, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato à reeleição, emparedou o tucano Geraldo Alckmin com a mera lembrança de que o PSDB pôs o patrimônio público à venda. “Sem dúvida, a gente tem que comparar a questão das privatizações. E o tratamento que eles deram à Petrobras — quando tiraram até o que é mais brasileiro, que é o 'bras', e tentaram colocar o 'brax'", disse Dilma, na segunda-feira, referindo-se à proposta subalterna do governo FHC-Serra de trocar, em 2000, o nome da empresa para PetroBrax.
Serra — que fez no primeiro turno uma campanha essencialmente assistencialista e se apoiando no discurso do medo contra Dilma — aceitou jogar conforme as regras do adversário. No primeiro grande ato de campanha do segundo turno — que reuniu nesta quarta-feira (6) os principais governadores e parlamentares eleitos por PSDB, DEM, PPS —, o presidenciável tucano já começou a resgatar o legado do governo FHC, incluindo as privatizações.
A estratégia atende a sugestões do senador eleito por Minas e ex-governador Aécio Neves. Como bem registrou o jornalista Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador, “Serra queria — das lideranças do PSDB — sugestões para o segundo turno. Aécio, ‘muy amigo’, sugeriu que Serra traga FHC e as privatizações para o debate”. E assim se fez. “FHC é o aborto de Serra. Ou Serra é o aborto de FHC?”, questiona Vianna.
Serra, sem saída, “saiu do armário” e acomodou as privatizações em seu discurso, especialmente a privataria no setor de telecomunicações. O discurso agradou às alas mais direitistas de sua campanha — e foi um tiro quase de morte no marqueteiro Luiz Gonzáles, que pretendia, a qualquer custo, evitar o tema. “Eu elogio a privatização, a abertura de telecomunicações. Não venham com trololó de factoides dessa natureza”, disse ao público um Serra inesperadamente enfático sobre um tema que, dias antes, era tabu.
Aécio, já eleito e com um futuro político mais confortável, se deu ao luxo de ser mais radical. Na chegada, disse que a ode à privataria deveria ser a primeira atitude da nova fase da campanha. “Devemos defender isso com altivez e iniciar o segundo turno falando dele. Não teria havido o governo Lula se não tivesse havido o governo Itamar, com a coragem política de lançar o Real, e se não tivesse havido o governo FH, que consolidou e abriu a economia”, discursou Aécio, aos brados. “Quer falar de privatizações? Vamos falar!”
Serra, ao dizer que “não tem vergonha” de defender as privatizações, consolidou a tática que Lula tanto planejara para a disputa: uma eleição plebiscitária, em que o desgastado governo FHC fosse comparado à gestão dele próprio, Lula — o presidente com a maior aprovação popular da história do Brasil.
No entanto, Serra se revelou profundamente irritado com o destaque obtido por Lula na campanha presidencial de 2010. Propôs até uma espécie de camisa-de-força ao presidente. “Uma das primeiras coisas que vamos ter de fazer é aprovar uma legislação que estabeleça os marcos dos chefes do Executivo nas campanhas eleitorais. O que não fica estabelecido pelos usos e costumes, fica estabelecida em lei”, afirmou, no momento mais antidemocrático de sua fala.
Registre-se ainda, na fala de Serra, o primeiro ato falho do segundo turno. Ao citar o aborto, Serra cometeu um deslize constrangedor. "Pode ser um defeito em política, mas só tenho uma cara. Nunca disse que sou contra o aborto porque sou a favor. Ou melhor, eu nunca disse que era a favor do aborto porque sou contra o aborto. Sou contra." E que prossiga assim o segundo turno.
Da Redação, com agências
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