Tenho pensado há semanas o que escrever, e mais intensamente nos últimos dias, mas aí me sobrevêm tantas razões que meu cérebro logo se sobrecarrega e curto-circuita. Não gostaria de repetir a numeralha que já consta em toda parte. Ontem passei o dia refletindo. Todas as coisas grandiosas e apaixonantes da minha vida desabaram-me sobre a cabeça: os clássicos da literatura, as batalhas pela liberdade, as revoluções sociais. Tudo me leva a votar em Dilma Rousseff, pelo que ela representa, não apenas para o Brasil, mas para todo o planeta. Uma mulher de esquerda, obcecada em libertar o Brasil da miséria. Uma mulher inteligente, capaz, honesta, uma das principais responsáveis por um governo bem avaliado por 82% dos brasileiros.
Entretanto, além das razões sociológicas e políticas que me levam a acreditar que a petista é uma opção infinitamente melhor que José Serra, por todo o apoio que traz dos movimentos sociais, dos sindicatos, pela maior base política no Congresso e no Senado, pelo apoio quase consensual entre os reitores das universades públicas, pela preferência esmagadora do sofrido Nordeste, região com a qual o Brasil tem uma dívida de sangue indelével (pelos milhões e milhões que morreram de fome e sede sem que os governos nada fizessem), além de todas essas razões, há uma outra ainda, muito importante, decisiva, uma razão moral, que açambarca todas.
Serra, candidato do egoísmo dos ricos e da classe média emergente, já deixou claro que não tem nenhum caráter, escrúpulo, ética ou moral. Sua campanha é suja, eleitoreira, enganadora e hipócrita. Sua promessa de acrescentar um décimo terceiro para o bolsa-família soa como escárnio. Não apenas é uma medida tosca, que traria descrédito a um programa que o Banco Mundial planeja financiar no mundo inteiro, como é um intolerável desrespeito para com as pessoas e instituições que estudam, pesquisam e acompanham os programas sociais, que não foram ouvidas pelo tucano, que aliás não ouve ninguém - suas decisões nascem de ímpetos arbitrários, bruscos, autocráticos, solitários, surgidos sabe-se-lá a que horas da madrugada. A mesma coisa vale para o salário mínimo. Outro escárnio. Serra cuspiu na cara da bancada sindical, dos próprios sindicatos e centrais, e dos trabalhadores. Tudo o que os trabalhadores não querem é que o salário mínimo seja decidido como um decreto real, para baixo ou para cima, e por isso as forças políticas, numa discussão que envolveu também os grandes empregadores, conseguiram chegar a uma solução salomônica, inteligente e constitucional, que é dar um aumento de salário correspondente ao PIB do país no ano anterior. E o que faz Serra? Através de um cálculo maluco onde só entram naturalmente os seus interesses eleitoreiros, promete um salário de R$ 600, pondo por terra as delicadas negociações para que o salário mínimo não fique à mercê das arbitrariedades e conveniências políticas de uma pessoa só, ou seja, do presidente da república.
E agora tivemos o episódio da bolinha de papel. Que importa se foram duas bolinhas, ou se foi uma bolinha e um durex? O mais grave nesse caso é o esforço vil de manipular as eleições, de produzir um clima de caos e violência. Afinal, mesmo que Serra levasse uma pedrada na cabeça, que culpa teria Dilma Rousseff? Por que Serra marcou passeata em frente aos matamosquitos, uma categoria traumatizada pelos desmandos cruéis e autoritários desse mau-caráter? Quando ministro da Saúde, Serra demitiu 5.600 matamosquitos, sumariamente. Isso não se faz. Foi um crime! Cinco deles se suicidaram! O tucano sequer lhes ofereceu um plano de realocação profissional. E daí vem fazer passeata diante do sindicato deles? É um provocador!
Serra é um crápula. Um homem violento, que manda espancar professores e alunos, que joga polícia civil contra polícia militar. Que não dialoga com ninguém. Nas circunstâncias em que irá governar, sem base no Congresso e fraco no Senado, a sua incapacidade para o diálogo o transformará num perigo para as instituições brasileiras.
Outro argumento para votar em Dilma diz respeito à política internacional. O campo político de Lula e Dilma representa a aposta no fortalecimento da ONU, das instituições multilaterais, no respeito às nações em desenvolvimento. Já Serra representa a submissão à Washington e a truculência para com os países pobres, como ele tem deixaro bem claro em suas violências contra Bolívia. Sem medo de parecer exagerado ou patético, o Brasil simboliza a esperança de paz no mundo, e a intervenção de Lula nos esforços americanos para isolar e agredir o Irã mostraram isso. A Europa, por mais humanista que seja na aparência, traz no fundo de sua alma um ranço fascista e covarde. As lideranças européias curvam-se sistematicamente aos interesses da Casa Branca no oriente médio, até porque tem os mesmos interesses. Não fosse o silêncio obsequioso, ou mesmo o apoio tácito, da parte da Europa, os Estados Unidos não teriam feito as cagadas que fez no Iraque. Além disso, a Europa carrega uma culpa que não quer expiar e parece não ter energia para tentar resolver, que é a África, continente vizinho que despeja milhões de imigrantes nos países ricos, os quais nunca chegaram a um acordo sobre a melhor maneira de reduzir a miséria e o sofrimento dos africanos. Por isso Lula é tão idolatrado na Europa, porque ele sabe que é preciso resolver o problema da África, e que o mundo não pode retroceder à Idade Média, com países semelhando as cidadelas fortemente muradas de outrora. Lula representa esse novo mundo, libertário, que deseja encarar os problemas sociais da humanidade de frente, com bravura, criatividade e inteligência. Dilma é a sequência de Lula. Serra é o reverso, o egoísmo militante, orgulhoso, retrógrado, burro e medieval, dos segmentos satisfeitos, ingratos, que depois de conseguir o que desejavam (um carro?, uma casa? um laptop?), não querem que ninguém mais consiga, deleitando-se com essa superioridade artificial, comprada, vulgar.
Por isso fico tão indignado que esses bispos que falam mal de Dilma. São representantes de um clero atrasado, inquisitorial, soberbo, insensível a maior humilhação que pode passar um ser humano, que é a miséria. Ainda bem que uma boa parcela da Igreja Católica e dos evangélicos insurgiu-se contra essa patifaria pseudo-religiosa e declararam, orgulhosamente, apoio à candidata do PT, um partido que sempre defendeu os pobres.
Eu voto em Dilma porque a sua eleição representará uma vitória contra a ditadura, esse fantasma que ainda nos assombra, e contra o qual, pelo jeito, continuaremos lutando por muitas décadas. As forças que se mobilizam contra a esquerda hoje, contra Dilma, são as mesmas que se mobilizaram contra João Goulart em 1964, e são as mesmas que o derrubaram. O falso moralismo, o jornalismo de escândalos, a classe média egoísta, os jornais, a história se repete, farsescamente. Voltaram inclusive os mesmos bordões antissindicais, os mesmos temores ideológicos. De maneira que não está apenas em jogo a vitória ou não do PT, e sim a consolidação de valores democráticos, do que NÓS ENTENDEMOS COMO VALORES DEMOCRÁTICOS e não o que pensam os donos de jornal. A democracia sempre se caracterizou como um regime político dinâmico, flexível, com leis atualizadas à luz das novas circunstâncias sociais e econômicas da cidade. Ou seja, o contrário da concepção de democracia que os segmentos conservadores defendem, uma democracia fechada, estática, impopular.
Na verdade, eu voto em Dilma porque esse é apenas o primeiro passo. Após a sua vitória, é que a guerra de verdade vai começar. Uma guerra boa, democrática, onde ninguém perderá dinheiro ou vida, porque é uma guerra contra a ignorância, o preconceito e a estupidez, para mostrar a todos que o Brasil pode se tornar uma grande nação, desenvolvida, pacífica e justa, servindo de exemplo para o mundo. Tudo depende, no entanto, desse momento crucial, onde podemos dar um passo à frente nessa direção, desafiando o futuro com nossa intrepidez e talento, ou recuar humilhantemente, tendo que suportar, sem perder contudo a galhardia, quatro anos de batalhas defensivas para preservar o que temos e evitar a venda de nossas riquezas a preço de banana para o exterior - que foi o que os tucanos fizeram na era FHC e certamente tentarão novamente num eventual governo Serra.
Por tudo isso, e mais tantas coisas que encheriam volumes e volumes, eu não apenas voto em Dilma, como estou permanentemente deixando meu ateísmo de lado e orando fervorosamente a Deus e a todos os santos que permitam o Brasil ser feliz, que permitam o Brasil ser livre, que permitam o Brasil ser o que ele merece ser, após séculos e séculos de pobreza e sofrimento. Hasta la victória, meus amigos, com Dilma na cabeça e o Brasil no coração! Miguel do Rosário.
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