A baixaria e a hipocrisia que tomaram conta desta eleição têm um símbolo maior: Monica Serra, mulher do presidenciável tucano, José Serra, e protótipo fiel das Amélias modernas. Até então uma ilustre desconhecida, Monica entrou em campanha pelas portas dos fundos com uma missão: fazer nos bastidores o jogo sujo que Serra não tem coragem de fazer às claras.
Por André Cintra
Por André Cintra
No horário político, Serra – que foi um dos maiores críticos do Bolsa-Família – mudou o discurso. Passou a posar como grande defensor do programa. Prometeu até ampliar o número de beneficiados e pagar um 13º. Enquanto isso, Monica participava de eventos com empresários e chamava o Bolsa-Família de "bolsa-esmola". Na prática, ela defendia o que Serra sempre pensou desse programa social, embora esconda na TV.
Monica jogou ainda mais sujo quando foi às ruas para dizer que a candidata Dilma Rousseff defendia o aborto. Não houve uma mera defesa de opinião. O que Monica pôs em prática foi o discurso do medo – e do obscurantismo. Em setembro, ao se dirigir a um camelô no Rio, Monica recorreu a conceitos da época da Guerra Fria: "Ela (Dilma) é a favor de matar criancinhas". Quem denunciou essa frase fascista não fui eu. Foi o jornal O Estado de S. Paulo, que já declarou apoio a Serra e não tem nenhum interesse na vitória de Dilma.
Há duas semanas, porém, a máscara de Monica Serra veio abaixo. A Folha de S.Paulo – outro jornal serrista, que não quer a eleição de Dilma de jeito nenhum – revelou que a mulher de Serra já contou ter feito um aborto (ou "matado criancinha", para usar sua expressão medieval ). Foi na época em que Serra estava exilado no Chile, há quase 40 anos.
Quero deixar claro que sou favorável à prática do aborto como uma medida de saúde pública, que evite a morte de milhares de mulheres (sobretudo jovens) nas periferias do Brasil. Tampouco escrevo estas palavras para condenar o aborto da mulher de Serra. É muito razoável que, em meio às ditaduras do continente, ela tenha preferido não correr riscos. Uma mulher grávida ou com filho recém-nascido teria mais dificuldades para, eventualmente, fugir do país ou se esconder de um regime autoritário.
O que causa indignação é ver essa mesma pessoa sair às ruas com um discurso falsamente moralista para defender o voto em Serra. A maior prova da hipocrisia é que Monica, uma vez desmascarada, não negou pessoalmente nenhuma das denúncias, sumiu da campanha de rua e foi totalmente calada pela campanha de seu marido.
Há quem diga (e eu concordo) que a baixaria maior de Serra é a falta de votos. Mas esta campanha serviu para mostrar que, em busca do voto, muitos políticos dito modernos não têm medo de recorrer às práticas mais atrasadas – um retrocesso inacreditável.
Eu voto em Dilma, mas acho mais do que legítimo que votem em Serra. O que não se justifica é tamanha baixaria num país que já vai eleger seu 40º presidente. Vermelho.
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