Para onde vai a minha.
Para onde vai a minha vida, e quem a leva?
Por que faço eu sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva?
Que parte de mim, que eu desconheço, e que me guia?
O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala,
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e que sou; não me iguala.
Não me compreendo nem no que, compreendo faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando no fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.
Quem sou eu, senhor, na tua treva e no teu rumo?
Além da outra alma que outra alma há na minha?
Porque me deste o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha
Senão com uso não dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus atos? Para que
sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou eu entre quê e os fatos?
Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ò ilusões! Se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos goze esse nada, sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como viver uma paria esquecida”
Fernando Pessoa, 1991, p. 51)
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