Caríssimos do blog Aposentado Invocado - Celso Amorim diz verdades que PIG não gosta:"Brasil sofre menos com crise porque o comércio é diversificado" Excelente entrevista que tira a cortina de fumaça colocada pelo PIG nas conquistas do Governo Lula para que o povo brasileiro não as conheça.
Entrevista
Celso Amorim
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não esconde muito o entusiasmo que sente pela facilidade com que se estabeleceu a química pessoal entre os presidentes Lula e Barack Obama — o chanceler só lamenta, discretamente, que reste apenas um ano e meio de mandato ao governo brasileiro. A intimidade maior com a nova administração americana fica evidente pela frequência com que Amorim se referiu, em entrevista para o Correio, às conversas recorrentes entre Washington e Brasília nesses 100 dias de Obama na Casa Branca. Foi em um desses encontros com a colega Hillary Clinton que o ministro se surpreendeu ao ouvir a secretária de Estado confessar que está, sim, interessada em ouvir conselhos do Brasil. “Você não ouvia isso antes”, comentou. Essa nova atitude da diplomacia americana impressionou o chanceler especialmente durante a Cúpula das Américas, realizada no mês passado em Trinidad e Tobago e dominada pelo tema da reintegração de Cuba ao sistema interamericano. Graças às boas relações que mantém com as duas as partes — “dois países, à sua maneira, muito orgulhosos” —, o Brasil se colocou como pivô de um processo de distensão com alcance histórico. E esse não é o único imbróglio internacional em que o país passou a ser um ator observado com atenção e interesse, inclusive por praticar uma política externa “desassombrada”. Ela estará novamente na vitrine nesta quarta, quando Brasília receberá a visita do polêmico presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, sob pressões e queixas de Israel, que chegou a convocar o embaixador brasileiro no país para comunicar seu “desconforto”. Amorim manobra em campos minados também internamente: ainda na última quinta-feira, foi ao Senado convencer a Comissão de Relações Exteriores a avançar com a tramitação do protocolo de ingresso da Venezuela no Mercosul, uma ampliação na qual está em jogo também o prestígio regional do governo Lula.
“Agora, os EUA nos pedem conselhos”Chanceler brasileiro fala sobre as boas relações com o governo Obama, o papel do país na aproximação com Cuba e a determinação de dialogar de perto com o Irã.
Silvio Queiroz
A discussão no Congresso sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul é mais comercial ou política? Há as duas. Tem gente que diz que é preciso que eles sigam as regras do Mercosul, que haja um cronograma de desgravação, que se chegue a uma tarifa externa comum. Agora, há uma compreensão de que nós precisamos avançar, e isso ficou claro no encontro que tive com o presidente Chávez (na semana passada). Na parte política, temos que levar em conta que estamos tratando com um país que pode não ter tudo do jeito que a gente gostaria, mas tem feito eleições frequentemente, todas com acompanhamento internacional, tem uma imprensa livre… Eu abri jornal lá e não tinha uma página que não fosse crítica ao governo Chávez. Agora, mesmo supondo que haja imperfeições, ou que haja riscos — vamos frisar o “supondo” — a proximidade é muito melhor que o isolamento. Essa Cúpula das Américas deixou isso claro. O presidente Lula tocou no assunto nas várias vezes em que esteve com o presidente Obama, eu falei com a Hillary Clinton também sobre a importância do diálogo. Claro que não foi isso que resolveu, tem a atitude do presidente Obama, o jeito dele de ser, e a boa disposição que o Chávez revelou. Sei que eles se cumprimentaram cordialmente. E no discurso que o Chávez fez na plenária, ele terminou dizendo: “Quiero ser su amigo. I wanna be your friend”. Lembrei dos Beatles… Isso de que é melhor conversar vale também para Cuba? O Brasil tem uma relação boa com Cuba desde o governo Sarney, quando foram restabelecidas as relações. Elas se aprofundaram agora no governo do presidente Lula, com um comércio muito maior, presença de empresas brasileiras lá. Uma vez que eu fui lá, eu fiz um comentário de que o Brasil não quer ser o sócio número 2 nem número 3, quer ser o número 1. Agora, se os Estados Unidos abrirem rápido, vai ser difícil a gente ser o número 1. Mas, enfim, há um interesse nosso em participar desse processo de evolução natural, positiva, que eu acho que Cuba está tendo na parte econômica. Essa também é a mensagem que nós transmitimos para os Estados Unidos. Mas são dois países adultos, ambos muito orgulhosos, não são países que necessariamente estejam pedindo intermediários. Quando a gente pode dar uma boa palavra, a gente dá. Como se faz entre amigos, mas sem dizer que nós somos intermediários, porque nem Cuba aceitaria, nem os Estados Unidos. E nem o Brasil faria. O Brasil está no centro desse processo de distensão que é uma história de 50 anos, tem participado de outros processos. O que significa estar conversando com Hillary, Obama, Raúl Castro? Isso quer dizer que o Brasil tem aumentado o seu peso nas relações internacionais. As pessoas aqui, principalmente a mídia — não é só a brasileira, já reparei que toda mídia faz isso com o próprio país —, sempre procuram diminuir, criticar. Quando eu fui ao Oriente Médio, diziam: “Ah, o Brasil quer o Oriente Médio porque quer uma vaga no Conselho de Segurança (das Nações Unidas)”. Meu Deus, não é assim. Quem primeiro nos pediu para aumentar a presença no Oriente Médio foram os palestinos. E nós sentimos essa receptividade, esse desejo. Eu me lembro aqui, conversando com a Condoleezza Rice — posso dizer isso, porque não é mais segredo. Na época, eles não tinham praticamente diálogo com a Síria, e nós dissemos: “Vocês não podem querer resolver o problema do Oriente Médio se não tiverem diálogo com um ator fundamental”. Agora, com o Brasil macroeconomicamente estável, tratando da sua maior mazela, que é a má distribuição de renda — não está perfeita, mas melhorou muito —, com crescimento econômico e com uma política externa que também é, eu diria, desassombrada… No governo Itamar Franco, nós tivemos a ideia de fazer uma área de livre comércio sul-americana — hoje ela existe, na prática — e muita gente dizia: “Olha, vocês estão cutucando a onça com vara curta”. Eu sei que hoje o próprio Obama chama a Unasul para dialogar com ele. Quer dizer, tem gente que fica vendo assombração em toda parte, aí não dialoga, não sai de casa. Nós nunca defendemos políticas de confrontação, mas tivemos que criticar os Estados Unidos na invasão do Iraque, criticamos. Tivemos que ter uma negociação dura na Alca e na OMC, tivemos. Isso levou a algum rompimento? Nenhum. Essa ideia da assombração se aplica ao Irã, com a visita do presidente Ahmadinejad? Você tem que dialogar. Se você passar entre os 15, 20 países do mundo, o Irã tem que estar entre eles, como a Turquia, a Arábia Saudita, que o presidente também vai visitar agora — uns pela riqueza econômica, outros pela população, pela história. O Irã certamente tem história, população e riqueza econômica, temos que dialogar. Aliás, não é só o Brasil: o presidente Obama também quer dialogar. Agora, isso não nos impede de manifestar opinião. O Itamaraty emitiu uma nota, vocês todos publicaram, com a nossa opinião (censurando as declarações de Ahmadinejad sobre o Holocausto). Isso não vai nos impedir de cooperar nem de dizer o que pensamos. Foi coincidência que a visita só tenha desencantado agora que mudou o governo nos EUA? Coincidência… não sei dizer. Tinha uma vidente americana que dizia: “Eu não acredito em coincidências”, falava isso do Reagan. Não sei se é coincidência ou não, uma coisa pode interferir na outra, mas a minha visita a Teerã foi antes do resultado da eleição nos Estados Unidos, e já era preparação para a visita do presidente, então não tem uma relação direta. Ficou evidente que a relação com o Obama ficou muito mais fácil até no nível pessoal com o presidente Lula. Dá pena de ter só mais um ano e meio com ele? Dá sempre pena de ter só mais um ano e meio… (risos) Mas dá para lançar as bases de um relacionamento, e tenho certeza de que o próximo governo vai continuar levando. O Lula tem naturalmente uma grande chance, com o carisma dele — não são só as posições, tem o carisma do presidente, a capacidade de comunicação. Ele é um homem de posições firmes. Eu sempre senti apoio dele em coisas como a Alca, quando criamos o G-20 e parecia que o mundo ia cair na nossa cabeça por não termos permitido a conclusão da Rodada de Doha. Mas ao mesmo tempo ele é um homem de conciliação e diálogo. Tudo isso que eu falei do Brasil ele simboliza, e não é à toa que a Newsweek faz uma matéria de capa dizendo que o Brasil é a potência engenhosa, habilidosa, que sabe fazer as coisas sem ter bomba atômica. Então, o presidente Lula tem uma boa chance pelo bom diálogo que ele criou com o Obama, até porque eles têm uma trajetória parecida, cada um com a sua característica, mas os dois vêm de setores da população oprimidos, por uma razão ou por outra, e ascenderam — no caso do Obama de maneira muito rápida. Mas tem uma diferença de idade e de experiência no cargo, então é até natural que o presidente Obama procure conversar com o presidente Lula, pedir opiniões. Eu tive uma conversa com a Hillary sobre uma determinada coisa e dei uma sugestão, aí eu mesmo percebi e falei: “Mas eu não quero aqui dar conselho aos Estados Unidos”. Aí, ela disse: “Não, não, mas eu estou querendo conselhos!” Isso é uma coisa que você não ouvia. Todo mundo sabe que os Estados Unidos têm um poder muito maior que o Brasil, mas, enfim, nós temos talvez um savoir faire que também é parte da nossa força em potencial. Enquanto as negociações comerciais continuam travadas, o nosso futuro está no Ibas e na articulação dos Brics? Eu acho que, sem dúvida alguma, em grande parte. Os Brics começaram como uma coisa política, e agora os ministros da Fazenda se coordenam, levaram posições comuns ao FMI. Nós temos que encontrar mecanismos de cooperação para trabalharmos mais em conjunto, mas já temos. No caso do Ibas temos até uma estrutura montada, e eu acho que o Ibas é muito importante manter como está, porque tem uma característica muito especial de serem três grandes democracias, cada uma em um continente, multiétnicas, multiculturais, por coincidência dois (Índia e África do Sul) estão tendo eleições agora. E o terceiro ano que vem… É, o terceiro no ano que vem. São países que estão num processo constante, são democracias vibrantes do mundo em desenvolvimento. E os Brics são as maiores economias emergentes, que têm também muitos interesses comuns. Não sou só eu que digo… eu pego as análises dos economistas, muitos dos quais nos criticaram veementemente porque não demos prioridade aos acordos com os EUA, com a União Europeia, e dizem agora que o Brasil sofreu menos com a crise econômica porque o comércio está diversificado
Entrevista
Celso Amorim
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não esconde muito o entusiasmo que sente pela facilidade com que se estabeleceu a química pessoal entre os presidentes Lula e Barack Obama — o chanceler só lamenta, discretamente, que reste apenas um ano e meio de mandato ao governo brasileiro. A intimidade maior com a nova administração americana fica evidente pela frequência com que Amorim se referiu, em entrevista para o Correio, às conversas recorrentes entre Washington e Brasília nesses 100 dias de Obama na Casa Branca. Foi em um desses encontros com a colega Hillary Clinton que o ministro se surpreendeu ao ouvir a secretária de Estado confessar que está, sim, interessada em ouvir conselhos do Brasil. “Você não ouvia isso antes”, comentou. Essa nova atitude da diplomacia americana impressionou o chanceler especialmente durante a Cúpula das Américas, realizada no mês passado em Trinidad e Tobago e dominada pelo tema da reintegração de Cuba ao sistema interamericano. Graças às boas relações que mantém com as duas as partes — “dois países, à sua maneira, muito orgulhosos” —, o Brasil se colocou como pivô de um processo de distensão com alcance histórico. E esse não é o único imbróglio internacional em que o país passou a ser um ator observado com atenção e interesse, inclusive por praticar uma política externa “desassombrada”. Ela estará novamente na vitrine nesta quarta, quando Brasília receberá a visita do polêmico presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, sob pressões e queixas de Israel, que chegou a convocar o embaixador brasileiro no país para comunicar seu “desconforto”. Amorim manobra em campos minados também internamente: ainda na última quinta-feira, foi ao Senado convencer a Comissão de Relações Exteriores a avançar com a tramitação do protocolo de ingresso da Venezuela no Mercosul, uma ampliação na qual está em jogo também o prestígio regional do governo Lula.
“Agora, os EUA nos pedem conselhos”Chanceler brasileiro fala sobre as boas relações com o governo Obama, o papel do país na aproximação com Cuba e a determinação de dialogar de perto com o Irã.
Silvio Queiroz
A discussão no Congresso sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul é mais comercial ou política? Há as duas. Tem gente que diz que é preciso que eles sigam as regras do Mercosul, que haja um cronograma de desgravação, que se chegue a uma tarifa externa comum. Agora, há uma compreensão de que nós precisamos avançar, e isso ficou claro no encontro que tive com o presidente Chávez (na semana passada). Na parte política, temos que levar em conta que estamos tratando com um país que pode não ter tudo do jeito que a gente gostaria, mas tem feito eleições frequentemente, todas com acompanhamento internacional, tem uma imprensa livre… Eu abri jornal lá e não tinha uma página que não fosse crítica ao governo Chávez. Agora, mesmo supondo que haja imperfeições, ou que haja riscos — vamos frisar o “supondo” — a proximidade é muito melhor que o isolamento. Essa Cúpula das Américas deixou isso claro. O presidente Lula tocou no assunto nas várias vezes em que esteve com o presidente Obama, eu falei com a Hillary Clinton também sobre a importância do diálogo. Claro que não foi isso que resolveu, tem a atitude do presidente Obama, o jeito dele de ser, e a boa disposição que o Chávez revelou. Sei que eles se cumprimentaram cordialmente. E no discurso que o Chávez fez na plenária, ele terminou dizendo: “Quiero ser su amigo. I wanna be your friend”. Lembrei dos Beatles… Isso de que é melhor conversar vale também para Cuba? O Brasil tem uma relação boa com Cuba desde o governo Sarney, quando foram restabelecidas as relações. Elas se aprofundaram agora no governo do presidente Lula, com um comércio muito maior, presença de empresas brasileiras lá. Uma vez que eu fui lá, eu fiz um comentário de que o Brasil não quer ser o sócio número 2 nem número 3, quer ser o número 1. Agora, se os Estados Unidos abrirem rápido, vai ser difícil a gente ser o número 1. Mas, enfim, há um interesse nosso em participar desse processo de evolução natural, positiva, que eu acho que Cuba está tendo na parte econômica. Essa também é a mensagem que nós transmitimos para os Estados Unidos. Mas são dois países adultos, ambos muito orgulhosos, não são países que necessariamente estejam pedindo intermediários. Quando a gente pode dar uma boa palavra, a gente dá. Como se faz entre amigos, mas sem dizer que nós somos intermediários, porque nem Cuba aceitaria, nem os Estados Unidos. E nem o Brasil faria. O Brasil está no centro desse processo de distensão que é uma história de 50 anos, tem participado de outros processos. O que significa estar conversando com Hillary, Obama, Raúl Castro? Isso quer dizer que o Brasil tem aumentado o seu peso nas relações internacionais. As pessoas aqui, principalmente a mídia — não é só a brasileira, já reparei que toda mídia faz isso com o próprio país —, sempre procuram diminuir, criticar. Quando eu fui ao Oriente Médio, diziam: “Ah, o Brasil quer o Oriente Médio porque quer uma vaga no Conselho de Segurança (das Nações Unidas)”. Meu Deus, não é assim. Quem primeiro nos pediu para aumentar a presença no Oriente Médio foram os palestinos. E nós sentimos essa receptividade, esse desejo. Eu me lembro aqui, conversando com a Condoleezza Rice — posso dizer isso, porque não é mais segredo. Na época, eles não tinham praticamente diálogo com a Síria, e nós dissemos: “Vocês não podem querer resolver o problema do Oriente Médio se não tiverem diálogo com um ator fundamental”. Agora, com o Brasil macroeconomicamente estável, tratando da sua maior mazela, que é a má distribuição de renda — não está perfeita, mas melhorou muito —, com crescimento econômico e com uma política externa que também é, eu diria, desassombrada… No governo Itamar Franco, nós tivemos a ideia de fazer uma área de livre comércio sul-americana — hoje ela existe, na prática — e muita gente dizia: “Olha, vocês estão cutucando a onça com vara curta”. Eu sei que hoje o próprio Obama chama a Unasul para dialogar com ele. Quer dizer, tem gente que fica vendo assombração em toda parte, aí não dialoga, não sai de casa. Nós nunca defendemos políticas de confrontação, mas tivemos que criticar os Estados Unidos na invasão do Iraque, criticamos. Tivemos que ter uma negociação dura na Alca e na OMC, tivemos. Isso levou a algum rompimento? Nenhum. Essa ideia da assombração se aplica ao Irã, com a visita do presidente Ahmadinejad? Você tem que dialogar. Se você passar entre os 15, 20 países do mundo, o Irã tem que estar entre eles, como a Turquia, a Arábia Saudita, que o presidente também vai visitar agora — uns pela riqueza econômica, outros pela população, pela história. O Irã certamente tem história, população e riqueza econômica, temos que dialogar. Aliás, não é só o Brasil: o presidente Obama também quer dialogar. Agora, isso não nos impede de manifestar opinião. O Itamaraty emitiu uma nota, vocês todos publicaram, com a nossa opinião (censurando as declarações de Ahmadinejad sobre o Holocausto). Isso não vai nos impedir de cooperar nem de dizer o que pensamos. Foi coincidência que a visita só tenha desencantado agora que mudou o governo nos EUA? Coincidência… não sei dizer. Tinha uma vidente americana que dizia: “Eu não acredito em coincidências”, falava isso do Reagan. Não sei se é coincidência ou não, uma coisa pode interferir na outra, mas a minha visita a Teerã foi antes do resultado da eleição nos Estados Unidos, e já era preparação para a visita do presidente, então não tem uma relação direta. Ficou evidente que a relação com o Obama ficou muito mais fácil até no nível pessoal com o presidente Lula. Dá pena de ter só mais um ano e meio com ele? Dá sempre pena de ter só mais um ano e meio… (risos) Mas dá para lançar as bases de um relacionamento, e tenho certeza de que o próximo governo vai continuar levando. O Lula tem naturalmente uma grande chance, com o carisma dele — não são só as posições, tem o carisma do presidente, a capacidade de comunicação. Ele é um homem de posições firmes. Eu sempre senti apoio dele em coisas como a Alca, quando criamos o G-20 e parecia que o mundo ia cair na nossa cabeça por não termos permitido a conclusão da Rodada de Doha. Mas ao mesmo tempo ele é um homem de conciliação e diálogo. Tudo isso que eu falei do Brasil ele simboliza, e não é à toa que a Newsweek faz uma matéria de capa dizendo que o Brasil é a potência engenhosa, habilidosa, que sabe fazer as coisas sem ter bomba atômica. Então, o presidente Lula tem uma boa chance pelo bom diálogo que ele criou com o Obama, até porque eles têm uma trajetória parecida, cada um com a sua característica, mas os dois vêm de setores da população oprimidos, por uma razão ou por outra, e ascenderam — no caso do Obama de maneira muito rápida. Mas tem uma diferença de idade e de experiência no cargo, então é até natural que o presidente Obama procure conversar com o presidente Lula, pedir opiniões. Eu tive uma conversa com a Hillary sobre uma determinada coisa e dei uma sugestão, aí eu mesmo percebi e falei: “Mas eu não quero aqui dar conselho aos Estados Unidos”. Aí, ela disse: “Não, não, mas eu estou querendo conselhos!” Isso é uma coisa que você não ouvia. Todo mundo sabe que os Estados Unidos têm um poder muito maior que o Brasil, mas, enfim, nós temos talvez um savoir faire que também é parte da nossa força em potencial. Enquanto as negociações comerciais continuam travadas, o nosso futuro está no Ibas e na articulação dos Brics? Eu acho que, sem dúvida alguma, em grande parte. Os Brics começaram como uma coisa política, e agora os ministros da Fazenda se coordenam, levaram posições comuns ao FMI. Nós temos que encontrar mecanismos de cooperação para trabalharmos mais em conjunto, mas já temos. No caso do Ibas temos até uma estrutura montada, e eu acho que o Ibas é muito importante manter como está, porque tem uma característica muito especial de serem três grandes democracias, cada uma em um continente, multiétnicas, multiculturais, por coincidência dois (Índia e África do Sul) estão tendo eleições agora. E o terceiro ano que vem… É, o terceiro no ano que vem. São países que estão num processo constante, são democracias vibrantes do mundo em desenvolvimento. E os Brics são as maiores economias emergentes, que têm também muitos interesses comuns. Não sou só eu que digo… eu pego as análises dos economistas, muitos dos quais nos criticaram veementemente porque não demos prioridade aos acordos com os EUA, com a União Europeia, e dizem agora que o Brasil sofreu menos com a crise econômica porque o comércio está diversificado
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