O economista e ex-bancário Marcolino lidera a bancada do PT na Alesp
por Luiz Carlos Azenha
O deputado Luiz Claudio Marcolino, líder da bancada do Partido dos
Trabalhadores na Assembleia Legislativa de São Paulo, hoje já não tem
mais dúvidas de que o incêndio que atingiu um arquivo em Itu, no
interior de São Paulo, queimando contratos envolvendo o Metrô e a
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), foi criminoso.
O incêndio foi primeiro revelado pela revista IstoÉ:
A papelada fazia parte dos arquivos do metrô armazenados havia três décadas. Entre os papeis que viraram cinzas estão contratos assinados entre 1977 e 2011, laudos técnicos, processos de contratação, de incidentes, propostas, empenhos, além de relatórios de acompanhamento de contratos de 1968 até 2009.
O fogo aconteceu em 9 de julho do ano passado e queimou 15.339 caixas de documentos e 3.001 tubos de desenhos técnicos.
As dúvidas de Marcolino se dissiparam com a sequência de denúncias sobre contratos suspeitos.
Ele diz que até agora não conseguiu que a CPTM e o Metrô descrevessem
exatamente quais foram destruídos. Falam apenas em 15% do total.
O petista acha que o incêndio dificultará a vida de investigadores
brasileiros interessados em se debruçar sobre o esquema de corrupção que
envolve o tucanato paulista e vem sendo denunciado a partir de
investigações das empresas Alstom e Siemens, no Exterior.
Alcançamos o líder petista a caminho de Bauru, onde lideranças do
partido tinham encontro marcado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva na noite desta sexta-feira. Estava previsto o lançamento da
pré-campanha do ministro da Saúde Alexandre Padilha ao Palácio dos
Bandeirantes.
De manhã, em nota, o PT estadual tinha pedido o afastamento de cinco funcionários públicos ligados ao governo tucano:
Marcolino explicou que as escolhas foram feitas com base na avaliação
das informações até agora disponíveis. Todos os nomes que aparecem
acima tiveram envolvimento na formulação e assinatura de contratos sob
investigação.
O líder petista confirmou que acredita no envolvimento de um escalão
ainda mais alto da hierarquia tucana, que dirige o estado de São Paulo
desde 1995.
Dele fariam parte Robson Marinho, que coordenou campanhas do
ex-governador Mário Covas, foi secretário da Casa Civil e hoje é
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado; Andrea Matarazzo,
ex-secretário de Energia, hoje vereador, cujo indiciamento foi sugerido pela Polícia Federal;
e José Luiz Portella, que foi secretário-executivo do Ministério dos
Transportes sob Fernando Henrique Cardoso e secretário de Transportes
Metropolitanos sob José Serra.
Todos, diga-se, negam qualquer irregularidade.
O atual governador, Geraldo Alckmin, chegou a dizer que, se houve de
fato formação de cartel em São Paulo, por parte das empresas que
fecharam contratos para fornecer bens ou serviços na área de
transportes, o Estado foi vítima.
No Facebook, José Serra escreveu sobre a menção
feita a ele em e-mail, por um executivo da Siemens, segundo o qual o
então governador concordou com a montagem de um cartel em 2008. Palavras
de Serra:
A concorrência para compra de 40 trens de São Paulo, realizada em 2008, foi uma verdadeira ação anti-cartel, de defesa do Estado e dos usuários de transportes. Ganhou a CAF, uma empresa espanhola que ofereceu o menor preço. O Estado economizou cerca de 200 milhões de reais. E ganhou 40 trens novos, para transporte coletivo. A Siemens, empresa alemã, ofereceu preços bem mais altos. Por isso perdeu, ficando em segundo lugar. Diga-se que não recebeu nenhum tipo de compensação. Não foi subcontratada nem ganhou contratos novos. Ou seja, os fatos sugeridos nesse(s) email(s) de executivo(s) da Siemens não aconteceram. A fim de anular a concorrência, a Siemens entrou com vários recursos na esfera administrativa e na Justiça, mas não teve êxito. O Governo de São Paulo ganhou na instância final, do STJ. Prevaleceu então a concorrência realizada e os preços mais baixos. O Banco Mundial, que financiou o projeto, supervisionou e aprovou toda a licitação. Como se comprova com facilidade não houve nenhum acordo com empresas para limitar a concorrência. Pelo contrário, o governo e sua secretaria de Transportes Metropolitanos defenderam a concorrência e os preços menores, em benefício da população paulista.
Charge de Vitor Teixeira
Para Marcolino, no entanto, o esquema dos tucanos em São Paulo é bem mais amplo que o que foi noticiado até agora.
Teria começado em 1983, com a empresa Cegelec, que atuava na área de
transmissão de energia; foi se espalhando para chegar ao Metrô, à CPTM,
Sabesp e à área de Saúde; Marcolino diz que denúncias da bancada do PT
também foram feitas em relação à Dersa e ao Departamento de Estradas de
Rodagem (DER).
Ele afirma que o controle dos tucanos sobre cargos-chave, inclusive
no Tribunal de Contas do Estado, faz com que as investigações não
prosperem; estranha que as denúncias feitas pela bancada do PT na Alesp,
em 15 representações ao Ministério Público, desde 2008,
não tenham avançado tanto quanto as que aconteceram no Exterior
envolvendo a Alstom e a Siemens. “O Ministério Público não fez o papel
que deveria”, avalia.
“A alta cúpula do PSDB no estado de São Paulo está por trás desta
estruturação”, diz Marcolino. “Tem um esquema estruturado pelo PSDB que
está usando o patrimônio público”, avança.
Segundo o petista, com a entrada da Polícia Federal em investigações
recentes é possível que detalhes do esquema tucano em São Paulo sejam
finalmente revelados: depois da operação Fratelli, a Máfia do Asfalto
(ver abaixo, na reportagem de Rodrigo Vianna), a PF vai atuar no caso
Siemens a partir da apuração do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica, o CADE. Ao CADE, a Siemens teria confessado participação na
montagem de um cartel que beneficiou as empresas e funcionários públicos
— receptores de propina — e prejudicou os contribuintes paulistas, que
teriam bancado preços superfaturados.
Mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso parece acreditar que há
mais fumaça que fogo. Nesta sexta-feira, disse que o PSDB “não é
farinha do mesmo saco”, ou seja, não se mistura ao PT, um partido
corrupto por causa do chamado “mensalão”.
Marcolino rebateu afirmando que, de fato, os dois não se misturam: ao
contrário do PT, o PSDB sempre criou barreiras às investigações, na
opinião do petista.
O líder do PT sugeriu que o ex-presidente insista com Geraldo Alckmin
para que o governador tucano apoie a criação de uma CPI na Assembleia
Legislativa de São Paulo, proposta petista que vai esbarrar na falta de
votos.
Para ouvir os ataques de Marcolino a FHC, clique no áudio. É
importante ouvir para ter uma ideia de como a cúpula do PT em São Paulo
acredita num amplo esquema de corrupção no estado:
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