O triste fim de um bando de canalhas. Por Carlos Fernandes
Francis Bacon é autor de uma
frase que costumo usar em momentos históricos como o de hoje, 17 de maio
de 2017. Dizia ele que a verdade é filha do tempo e não da imposição.
Nada mais apropriado para o dia
em que caiu por terra, definitivamente, a máscara de soberba e
hipocrisia que encobria a decrepitude de um sistema político dominado
por uma escória que foi capaz de arruinar uma democracia inteira em
defesa dos mais inconfessáveis interesses.
Ironia das ironias, foi por medo
do mais atual instrumento de tortura da idade moderna, a prisão
preventiva indefinida, que os donos da JBS, Joesley e Wesley Batista,
proporcionaram a mais avassaladora delação premiada de toda a operação
Lava Jato.
Não deixa de haver nesse episódio uma espécie de justiça providencial.
Utilizados como ferramentas
medievais na insana busca de argumentos minimamente aceitáveis para
incriminar Lula, Dilma e o PT, prisão preventiva e delações foram
exatamente os recursos que acabaram por provar a escandalosa conspiração
que depôs uma presidenta honesta e perpetuou uma caçada jurídica e
midiática de décadas ao maior líder popular desse país.
Iniciada desde os primeiros
minutos em que Dilma Rousseff foi reeleita em outubro de 2014, o conluio
capitaneado pelo projeto de poder derrotado nas urnas utilizou-se de
todos os meios, instituições inclusive, para minar e inviabilizar o
governo reconduzido pelo povo ao poder.
Munidos com o capital do alto
empresariado, do jornalismo de guerra da mídia familiar e da justiça
cooptada da primeira instância até a mais alta corte, a nata da
corrupção política brasileira enganou descaradamente uma parcela
significativa da população buscando a desestabilização do governo.
Nada representa melhor o que
significou o golpe de Estado sofrido pelo país do que a aceitação do
processo de impeachment ter sido feita por um criminoso como Eduardo
Cunha. O mesmo que, agora está provado, confabulava com o vice
decorativo e sua quadrilha, a tomada violenta do poder.
Poucos messes após uma das mais
vergonhosas sessões já vistas na Câmara dos Deputados, o Senado dava
cabo de um projeto vitorioso de inclusão social e redução da
desigualdade que perdurou por mais de uma década.
Entrou em cena a mais pavorosa
malta já reunida no Palácio do Planalto. A truculência, o machismo, a
misoginia, a incompetência e a falta de diálogo foram postos em ação
para ruir a soberania brasileira em pagamento dos relevantes serviços
prestados pelos grandes interesses internacionais.
Em apenas um ano de governo, o
Brasil retrocedeu décadas. Ficamos mais pobres, mais desiguais, mais
desempregados. Fatiamos e doamos a Petrobrás a empresas internacionais.
Condenamos a educação e a saúde a décadas sem investimentos. Perdemos
todo o prestígio internacional que conseguimos a duras penas.
Em resumo, um escândalo num dia, um desastre no outro. Quando não os dois.
A delação dos donos da JBS vem
pôr fim a um dos mais obscuros momentos políticos de nossa história.
Restou desmoralizado todo o governo Temer, o Supremo Tribunal Federal
que foi incapaz de impedir os atos de Eduardo Cunha e a operação Lava
Jato que terá agora que lidar, fatalmente, com aqueles a quem tanto
tentou proteger.
Escrevi em 7 de julho de 2016,
pouco antes da votação do impeachment no Senado Federal, um artigo
intitulado “O desfecho de Temer será ainda pior do que o de Cunha”.
Não resta dúvidas que esse
medíocre que ora rasteja no lamaçal de imundície que ele próprio criou,
entrará para a história do Brasil como o político mais odiado de todos
os tempos.
Que a profecia seja cumprida e que este seja o triste fim de uma canalha.
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