José
Rodrigues Moreira, mandante do assassinato de José Claudio e Maria do Espírito
Santo, foi absolvido pelo júri, enquanto os dois executores foram condenados à
prisão.
Na presença
de familiares, militantes de movimentos sociais, religiosos, representantes de
organizações de direitos humanos e jornalistas brasileiros e de todo o mundo, o
veredicto apresentado pelo júri diz muito sobre o cenário de violência contra
defensores de direitos humanos no Brasil, ao condenar os executores da
pistolagem, mas absolver o mandante do assassinato de José Claudio e Maria do
Espírito Santo no ano de 2011 em Nova Ipixuna/PA.
José
Rodrigues Moreira, acusado de planejar e financiar os assassinatos, foi
absolvido, enquanto os dois acusados pela participação na morte do casal foram
condenados à prisão: Alberto Lopes do Nascimento foi condenado a 45 anos de
prisão por duplo homicídio triplamente qualificado, e Lindonjonson Silva Rocha
a 42 anos e 8 meses por homicídio duplamente qualificado.
Na avaliação
do advogado e coordenador de Terra de Direitos que acompanhou o julgamento,
Antonio Sérgio Escrivão Filho, condenar os executores de crimes de pistolagem e
absolver os mandantes aparece como um padrão recorrente de impunidade e negação
da justiça observado nos poucos julgamentos dos inúmeros assassinatos de
trabalhadores rurais envolvendo conflitos fundiários.
Os dados
confirmam: de acordo com a pesquisa da Comissão Pastoral da Terra – CPT de 2011,
dos 1.186 casos monitorados pela organização, 94 pessoas foram condenadas pelo
menos em primeira instância, entre elas 21 mandantes e 73 executores dos
homicídios.
Para
Escrivão Filho, as evidências apresentadas no processo demonstraram o quadro de
um crime com nítida motivação fundiária: "Um mandante com intenções de grilagem
de terras públicas, aliado a executores programados para matar. Ocorre que se a
motivação fundiária se coloca no centro do crime, do mesmo modo deve ser
colocado o seu mentor intelectual, o mandante. Sem ele não há razão para a
pistolagem executar as lideranças de trabalhadores rurais”.
Dentre as
provas encontravam-se uma dúzia de relatos sobre o desencadeamento de uma
grilagem de terra que encontrou em José Claudio e Maria do Espírito Santo um
obstáculo mais fortalecido na defesa da reforma agrária e da floresta que o
próprio Estado.
"Como o caso
revela, a incapacidade institucional do Estado para combater a grilagem, a
derrubada da floresta e o avanço do agronegócio nesta e em outras regiões,
aliada ao poder de intervenção do latifúndio junto aos órgãos públicos e sua
influência sobre a justiça, acabam por gerar uma combinação que vulnerabiliza,
criminaliza e vitimiza os movimentos sociais e defensoras e defensores de
direitos humanos que lutam pela terra, território e biodiversidade”, analisa o
advogado.
Além de
engrossar as estatísticas de impunidade aos mandantes, o julgamento terminou
com a criminalização das próprias vítimas, como aponta o assistente de acusação
no caso, Aton Fon Filho, integrante da Rede Social de Justiça e Direitos
Humanos: "Causa grande indignação a inclusão feita pelo juiz do processo, por
sua própria convicção, de que as vítimas haviam concorrido para agravar o
conflito em questão. Evidente criminalização que aparece ao final do julgamento
e como uma espécie de manifestação política da justiça brasileira”.
A condenação
dos executores e a absolvição do mandante do assassinato do casal de
extrativistas de Nova Ipixuna, José Claudio e Maria do Espírito Santo, marca o
início de uma série de sete júris previstos para o ano de 2013 referentes ao
julgamento de crimes contra direitos humanos. "O conjunto de julgamentos que
coloca o desafio histórico para a sociedade brasileira reivindicar e pressionar
a justiça para que assuma a sua responsabilidade sobre a violência e a
impunidade dos crimes contra defensores de direitos humanos”, opina.
Outros casos
Sete
julgamentos de crimes contra direitos humanos estão previstos para
2013:Chacina de Felisburgo (MG), Chacina de Unaí (MG), Chacina da
Fazenda Princesa (PA), assassinato de Dezinho (PA), assassinato de Manoel
Mattos (PB) e assassinato de Sebastião Camargo Filho (PR). Seis deles são
decorrentes de conflitos fundiários, sendo que os últimos quatro foram
encaminhados para o sistema interamericano de direitos humanos.
No caso do
assassinato do trabalhador rural Sebastião
Camargo Filho, ocorrido
no município de Marilena, Paraná, um dos mandantes do assassinato já foi
condenado. Teissin Tina, ex-proprietário da Fazenda Boa Sorte, foi condenado em
27 de novembro de 2012 por contratar pistoleiros que realizaram despejo ilegal
na fazenda e estar no local quando o trabalhador rural foi assassinado. No
mesmo julgamento, Osnir Sanches foi condenado pelo assassinato de Sebastião
Camargo em razão de ajudado a recrutar os pistoleiros que realizaram o despejo
ilegal.
Contudo,
ainda há outros mandantes que devem ser levados a júri popular. Marcos Prochet,
ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR) do Paraná, é acusado de
atuar para a formação de milícias privadas de ter disparado o tiro que
assassinou Camargo. Tarcisio Barbosa de Souza, ex-tesoureiro da UDR e atual
membro da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), é suspeito de
articular a milícia e comandar em campo a ação da milícia.
A condenação
dos mandantes de assassinatos de defensores de direitos humanos é um passo
essencial para a superação de um padrão de violência contra quem luta por
direitos. A simples condenação criminal não ira resolver todos os problemas
ligados às violações de direitos humanos no Brasil, mas pode ser um claro sinal
de que o Estado e a sociedade brasileira não mais aceitarão com passividade que
os grupos sociais dominantes, minoria da sociedade, imponham seus interesses
com base na violência.
Saiba mais
sobre o caso
04/04/13
-2013:
o ano do combate à impunidade dos crimes contra defensores de direitos humanos
em conflitos fundiários no Brasil
24/05/12 -Assassinato de José Claudio e Maria do Espírito Santo completa um ano
07/03/12 -Acusados de assassinar casal de extrativistas em Nova Ipixuna são pronunciados
25/05/11 -NOTA DE REPÚDIO: Assassinato de Maria do Espírito Santo e José Cláudio Ribeiro.
24/05/12 -Assassinato de José Claudio e Maria do Espírito Santo completa um ano
07/03/12 -Acusados de assassinar casal de extrativistas em Nova Ipixuna são pronunciados
25/05/11 -NOTA DE REPÚDIO: Assassinato de Maria do Espírito Santo e José Cláudio Ribeiro.
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