Nem o candidato José Serra, nem a mulher dele responderam às ex-alunas de Monica Serra, segundo as quais Monica narrou na Unicamp, durante uma aula, ter praticado um aborto.
O ato, em si, se houve, é irrelevante.
O que salta aos olhos é a hipocrisia da esposa de Serra, que atacou publicamente a ex-ministra Dilma Rousseff por “matar criancinhas”.
A nota oficial do PSDB, negando o aborto, tenta vitimizar José Serra lembrando o caso de Miriam Cordeiro, a ex-namorada de Lula — quando ele era viúvo — que recebeu o equivalente a 24 mil dólares para depor na campanha de Fernando Collor de Melo, em 1989.
O que aconteceu em 1989?
A notícia de que Lula tinha uma filha com Miriam Cordeiro foi dada, primeiro, pelo Jornal do Brasil. Depois, ela apareceu no horário eleitoral gratuito da coligação de Collor. No dia seguinte, foi parar no Jornal Nacional.
No livro Notícias do Planalto, Mario Sergio Conti narrou os bastidores da decisão de Collor de recorrer a Miriam Cordeiro:
Página 238:
Às onze horas da noite de domingo, Marco Paulo Fileppo telefonou para a casa de Maria Helena [Amaral, assessora de Collor]. Queria confirmar se ela convocara uma equipe de gravação para o dia seguinte. Comunicou-lhe que uma pessoa, que não identificou, lhe entregaria 200 mil cruzados novos, equivalentes a 24 mil dólares, que deveriam ser repassados a Miriam Cordeiro. A jornalista disse a Fileppo que por questões de principio não participaria da transação. Falou depois com Leopoldo [irmão de Fernando]. Afirmou que pagar pela entrevista era corrupção. O irmão do candidato desligou o telefone no meio da conversa. Maria Helena ligou de novo, começou a falar e o coordenador bateu o telefone novamente. Ela discou outra vez. Exaltada, avisou que, se o depoimento fosse ao ar, se demitiria e contaria à imprensa que Miriam Cordeiro havia sido paga — e, dessa vez, ela bateu o telefone. Leopoldo Collor telefonou em seguida. Aparentava calma. Disse que ela estava certa. Mudara de ideia. Não se faria nada com Miriam. Leopoldo pediu que Maria Helena cancelasse a gravação e se apresentasse normalmente para trabalhar na manhã seguinte. Mas a gravação foi feita. Técnicos arrebanhados por Chico Santa Rita e Egberto Batista Miranda fizeram-na no estacionamento da empresa Mikson, em Moema. Collor assistiu à fita com o depoimento de Miriam na tarde de segunda-feira, junto com Leopoldo, Cláudio Humberto, Renan, Belisa e Zélia. Só Leopoldo defendia que a fita fosse exibida no horário gratuito.
O depoimento de Miriam foi ao ar na propaganda eleitoral de Fernando Collor no dia 12 de dezembro de 1989.
No dia seguinte, 13.12.1989, o depoimento foi repetido no Jornal Nacional. Roberto Marinho, que já havia anunciado publicamente seu apoio a Collor, queria ter certeza de que o depoimento de Miriam seria visto por milhões de brasileiros.
Em seu livro sobre a eleição de 1989, Eu Já Vi Esse Filme, Luís Maklouf mostrou que Miriam Cordeiro não apenas foi acusada de receber dinheiro da campanha de Collor, mas foi mantida pelo candidato vencedor nos dias seguintes à eleição, com a promessa de um emprego e uma casa.
Sheila Ribeiro, portanto, não é Miriam Cordeiro.
Conforme escreveu Monica Bérgamo na Folha, ela é filha de uma militante feminista do PSDB!
Além da versão apresentada por ela ter sido sustentada por pelo menos mais uma amiga, em entrevista a Conceição Lemes amigos atestaram que Sheila foi movida pela hipocrisia de Monica Serra, que acusou publicamente Dilma Rousseff de ter “matado criancinhas”.
Repito, aqui, a nota de negativa do PSDB:
Da assessoria de José Serra
Diante de matéria publicada hoje, a campanha de Jose Serra esclarece: Monica Serra nunca fez um aborto. Essa acusação falsa, que já circulava antes na internet, repete o padrão Miriam Cordeiro de que o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva foi vítima na eleição de 1989. E dá continuidade ao jogo sujo que tem caracterizado a presente campanha desde que um núcleo do PT, montado para fazer dossiês contra o candidato tucano à Presidência, foi descoberto em Brasília. Primeiro eles atacaram a filha de José Serra. Depois atacaram o seu genro. Agora eles agridem a sua mulher, Monica, que tem a irrestrita solidariedade, amor e respeito de seu marido, de seus filhos, netos e de milhões de brasileiros.
É uma tentativa clara de deslocar o debate para 1989.
E de igualar José Serra a Lula.
Mas, como sabemos, José Serra não é Lula.
Sheila Ribeiro não é Miriam Cordeiro.
A filha de José Serra, Veronica, foi sócia da filha de Daniel Dantas?
Qual foi o papel do genro de Serra, Alexandre Bourgeois, nos negócios relativos ao sogro (nas privatizações) e à esposa?
Tudo indica que a campanha do tucano vá tentar a tática da “vitimização” passando ao largo dos detalhes comprometedores.
À tentativa de Serra de tentar se misturar com o Lula de 1989, no entanto, sugiro uma consulta ao debate entre o democrata Lloyd Bentsen e o republicano Dan Quayle, nas eleições dos Estados Unidos em 1988 (ambos eram candidatos a vice).
Quayle, jovem senador, gostava de misturar sua biografia à do charmoso John Kennedy.
Ele era o jovem Índio da Costa, dando gás a um político antigo e tradicional, George Bush pai (que encabeçava a chapa do Partido Republicano).
Quayle tentava se associar a Kennedy para se livrar da imagem de inexperiente, pouco preparado para assumir a presidência.
No debate, que assisti pessoalmente, Quayle insistiu na comparação.
Bentsen, senador experiente, velha raposa política, esperou uma oportunidade para o nocaute:
Senador, eu trabalhei para Jack Kennedy, eu conheci Jack Kennedy, Jack Kennedy era um amigo meu. Senador, você não é Jack Kennedy!
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