por Luis Nassif
Merval não é repórter. Nos últimos anos abdicou de sua condição de jornalista para se candidatar a pregador político.
Tem o vezo de dividir o mundo entre analfabetos e a elite intelectual. Merval não é elite intelectual. Não é o analista capaz de identificar fatores-chave na política, analisar tendências, entender processos de mudanças sociais, econômicas e políticas. Ele é um pregador e, como tal, se sustenta em bordões simples, de fácil entendimento por leitores de baixa sofisticação intelectual.
Confira a lógica por trás de seu argumento - de que a imprensa desmontou a tese da participação do Aécio na montagem do livro se Amaury Jr, que está para ser lançado.
Como fazem os jornalistas que não brigam com fatos? Procuram o Amaury e perguntam sobre o livro. Ou podem falar com o Lanzetta - que, como assessor de comunicação, tem por ofício falar com jornalistas. Ou com jornalistas do próprio Estado de Minas. E eles dirão que o conteúdo do livro foi levantado por Amaury Jr contratado pelo Estado de Minas. Que o pessoal do Aécio ficou preocupado com as ameaças de armação por parte de Serra e encomendaram o dossiê preventivamente. Que depois firmou-se a paz e não quiseram usar o conteúdo. E, aí, Amaury decidiu levar a empreitada adiante para não perder "a melhor reportagem da minha vida".
Depois, basta conferir as datas em que Amaury viajou para esses locais e bater com seu contrato de trabalho com o jornal. Não é simples?
Para o jornalismo de Merval, não, porque esses fatos, não tendo saído na velha mídia, não aconteceram. Ele só consegue raciocinar com o material que sai publicado.
A velha mídia não falou do livro do Amaury Jr., logo não aconteceu. Não mencionou que ele teve como fontes de consulta a CPI do Banestado, os promotores que investigam a conta Beacon Hill, em Nova York, dados de paraísos fiscais. E, provavelmente, ajuda de procuradores brasilienses com bronca de Eduardo Jorge.
Os levantamentos até agora mostram que a privacidade dos dados da Receita é uma peneira, de tantos furos que têm. O relatório da PF identificou dois furos envolvendo EJ. Merval, o sujeito de racionalidade cartesiana, que jamais sai do aquário e considera que apenas o que sai na mídia acontece (e se não saiu não aconteceu), conclui de imediato: no mundo criado pela velha mídia só tem o o dossiê e os dois vazamentos; logo os dois vazamentos só podem ter ido para o dossiê.
Qual a evidência? Até agora, nenhuma. Mesmo porque o levantamento de Amaury - pelo que ele relata - se refere a episódios ocorridos na época da privatização.
E a velha mídia sai vitoriosa nesse extraordinário torneio de jornalismo sofisticado, moderno e racional. Durma-se com um Merval desses!
Por Nilson Fernandes
Lula rebaixa a cidadania
De Merval Pereira
O mais espantoso na atuação do presidente Lula no episódio das quebras múltiplas de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB, até mesmo a filha do candidato tucano à Presidência da República, é como ele manipula seus seguidores, explorando-lhes a boa-fé e, sobretudo, a ignorância.
José Serra lamentou que Lula tenha "debochado de coisa séria" quando fez análises nada republicanas sobre o episódio. Segundo o presidente, em cima de um palanque, o episódio não passa de "futrica", e o candidato do PSDB "está nervoso" com a previsão de derrota e está usando sua família "para se fazer de vítima".
Seriam comentários ofensivos à cidadania, partidos de um presidente que deveria ser imparcial quando o assunto são as garantias dos direitos individuais dos cidadãos, sejam eles petistas ou não, lulistas ou não.
Mas o mais grave, do ponto de vista da manipulação do eleitorado, está na frase que jogou no ar como se fosse um desafio: "Cadê esse tal de sigilo que ninguém viu?"
O presidente Lula se utiliza assim da dificuldade que o brasileiro comum tem de compreender os meandros da disputa política, muito mais quando se trata de questões técnicas ligadas a computadores e senhas eletrônicas, para tentar desmoralizar a questão, reduzindo-a a uma "futrica" de perdedor.
Se o tal do "sigilo" não apareceu, é porque não existe, quer levar a crer o nosso nada republicano presidente.
É conhecida a piada que circula entre os petistas segundo a qual Lula teria dito que essa questão de dossiê não abala seu eleitorado, pois eles não sabem o que quer dizer a palavra, e muitos a confundem com "doce".
Há também o raciocínio segundo o qual como apenas 40 milhões de brasileiros de- claram o Imposto de Renda, a imensa maioria dos eleitores não estaria preocupada com o assunto.
Para se ter uma noção do que esse raciocínio perverso embute, dos 130 milhões de eleitores, cerca de 60% são formados por analfabetos, analfabetos funcionais ou pessoas que não completaram o ensino fundamental.
Ora, a esta altura dos acontecimentos, todo cidadão de boa-fé e minimamente informado sabe que os dados colhidos em diversas instâncias da Receita Federal, em várias partes do país, estão espalhados em diversos documentos que circularam no comitê da candidata oficial Dilma Rousseff.
Não foram usados formalmente, nem nunca seriam, pois trata-se de material ilegal. Mas estão sendo espalhados há muito tempo em diversos blogs e continuam sendo usados com insinuações contra as vítimas dos atentados.
A própria candidata Dilma Rousseff, abusando da inteligência de seus interlocutores e seguindo por um caminho perigoso, insinuou em entrevista coletiva que os dados levantados sobre Verônica Serra seriam usados por membros do próprio PSDB contra Serra, que àquela altura ainda disputava com o ex-governador de Minas Aécio Neves a escolha do partido para concorrer à Presidência da República.
Os petistas engendraram uma pseudoexplicação que culpa a vítima, e Dilma se en-carregou de tornar essa intriga em fato de campanha na sua entrevista.
A disputa entre Serra e Aécio seria a verdadeira origem do tal dossiê, que eles negavam existir e agora, diante das evidências, querem jogar no colo de Aécio Neves, numa mesquinha tentativa de confundir os eleitores.
Mais uma vez coube à chamada grande imprensa, para ódio dos governistas e seus blogueiros chapas-brancas, demonstrar que essa versão não se sustenta.
Leia a íntegra do artigo em Lula rebaixa
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
Nenhum comentário:
Postar um comentário