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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Um Feliz 2010



Que em 2010 Jesus Cristo possa nos abençoar com saúde, paz e sabedoria para as nossas decisões. Em 2010 o ano será importante porque decidiremos os rumos da nova década que estará chegando em 2011 com novo governo que irá administrar o pré-sal e os dois maiores eventos do planeta.

Um feliz 2010.

Os paulistas são masoquistas ou estão anestesiados com a publicidade demo-tucana?

Fico a me perguntar se os paulistas são masoquistas ou estão anestesiados com a publicidade demo-tucana? Vejam as campanhas milionárias de publicidades demo-tucanos do Estado mais rico da federação, enquanto isso o povo paulista está na merda, literalmente na merda.

Estava eu aqui no meu sertão querido vendo paulistas viajando  nove horas nas estradas engarrafas, felizes da vida pagando os pedágios  e me perguntei: meu Deus este povo ou é masoquista ou até está anestesiado com a publicidade milionária do Serrapedágio ou do Zéalagão,  como alguns o estão chamando.

Aqui no Ceará também já tivemos esta experiência danosa do governo das  mudanças de Tasso - o coroné do zóio azul. Era propaganda de dia e de noite falando das maravilhas do governo das mudanças. E o resultado de tudo isso foi a maior desruralização da história recente do Ceará.

Cá como lá há uma máquina de propaganda de governo demo-tucano nunca visto neste país. São milhões e milhões de reais gastos para anestesiar o povo e o paulista acha até bom pagar pedágios e mais pedágios. Santa paciência porque já pagamos tantos impostos, inclusive o famigerado IPVA.

Agora, uma provocação:  se o paulista gosta tanto de Serra fique com ele, aliás fiquemcom o governo demo-tucano porque o Brasil vai tão bem, não é? Por que mudar uma equipe liderada por Lula?

Vamos a uma leitura de texto da Folha disponibilizado no blog do


A perda de rumo com os pedágios paulistas
Por H


Rotas para o litoral têm 23 pedágios a mais

Com ampliação do programa de concessão de rodovias em SP, turista pagará mais neste verão em 10 de 12 dos principais trajetos

A maior variação verificada foi no trajeto entre as cidades de Campinas e Caraguatatuba, que custará 70% a mais neste verão

MAURÍCIO SIMIONATO

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

FÁBIO AMATO

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Os paulistas que pretendem viajar de carro em direção ao litoral do Estado para aproveitar o verão vão ter de preparar, além das malas, os bolsos.

Com o programa de concessão de rodovias promovido pela administração José Serra (PSDB), foram criadas, apenas neste ano, ao menos mais 23 praças de pedágio. Além disso, em julho passado o valor das tarifas cobradas pelas concessionárias foi reajustado.

A Folha simulou 12 trajetos em direção ao litoral do Estado partindo de seis cidades paulistas (São Paulo, Ribeirão Preto, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Bauru e Campinas). E calculou a despesa que o motorista vai ter com pedágio -em dez trajetos o custo aumentou em relação ao verão passado; em dois, caiu.

A maior variação verificada foi no trajeto entre Campinas (95 km de São Paulo) e Caraguatatuba. Com a concessão da rodovia D. Pedro 1º e a criação de três novas praças de pedágio, o custo da viagem saltou 70%: de R$ 24,60 para 41,80.

A reportagem verificou também que, em alguns casos, a despesa da viagem para o litoral, ida e volta, pode superar 1/ 3 de um salário mínimo (R$ 465). É o que ocorre com o turista que mora na cidade de Presidente Prudente (565 km a oeste de São Paulo).

Para chegar a Santos e depois voltar para casa, num trajeto total de 1.258 km, ele pode ter de desembolsar até R$ 156,60 em pedágio, dependendo das rodovias que acessar.

No verão passado, o mesmo turista pagou bem menos: R$ 104. A diferença se deve à concessão de rodovias como a Raposo Tavares e ao início da operação de mais sete praças de cobrança na região.

Em alguns trechos, entretanto, os motoristas vão desembolsar menos em relação a 2008. A viagem entre São Paulo e Caraguatatuba caiu 40,2% após a concessão das rodovias Ayrton Senna/Carvalho Pinto, de R$ 22,10 para R$ 13,20.

Os pedágios paulistas são reajustados ou pelo IGPM ou pelo IPCA, dependendo do contrato. Em 2009, o IGPM fechou em -1,72%. Já o IPCA ainda não fechou; a estimativa é que fique em +4,3%.

Protesto

No interior paulista, empresários, moradores e políticos formaram um comitê popular contra os pedágios -que organiza abaixo-assinados, carreatas e bloqueio de estradas.

Na semana passada, por exemplo, cerca de 300 veículos participaram de uma carreata contra pedágios nas cidades de Paulínia e de Cosmópolis, na região de Campinas.

O presidente da Associação Comercial e Industrial de Paulínia, Wilson Machado, que também é um dos coordenadores do comitê antipedágio, disse que alguns empresários já falam em deixar a cidade por causa de três novas praças que começaram a funcionar recentemente em estradas nas proximidades do município.

“Essa taxação excessiva dos pedágios reflete também no bolso do cidadão que não tem automóvel, pois essas cobranças influenciam no preço do transporte dos alimentos”, diz.

O governo paulista diz que não considera alto o custo dos pedágios nas estradas.

Afirma também que a tarifa é o principal recurso para ampliar e modernizar a malha rodoviária, ressaltando que, a prova do sucesso do modelo paulista é o fato de que 15 rodovias do Estado figuram nas lista das melhores do país.
Comentário

Eleições 2010, necessidade de caixa de campanha, falta de projeto político claro provocaram essa loucura, que reflete perda total de rumo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Em 2010 o povo precisa eleger Dilma com Lula e não um hipócrita pós-Lula .

O ano de 2009 foi um ano de muita superação para o governo brasileiro e de grande lição para direita conservadora, golpista e retrógrada brasileira.

As lentes da direita conservadora brasileira que quer eleger a todo custo o demo-tucano Serra - plano A - e/ou Aécio  - plano B, são as lentes de um passado recente, onde o FMI mandada nas políticas públicas brasileiras, onde o seu representante máximo FHC - aluno aplicado do FMI - corria para pedir empréstimos para pagar as contas da quebradeira deste país.

O ano de 2009 foi ano da consolidação da soberania do Brasil de um lado, de outro foi o ano em que o Brasil se transformou em protagonista dos grandes debates e questões deste século. Foi um ano maravilhoso para este país e para o povo brasileiro de uma maneira geral.

Creio que o ano de 2010 será o ano em que o povo brasileiro vai optar pela continuidade de uma politica de fortalecimento interno das políticas sociais e também do fortalecimento da política exterior, que com autonomia colocou o Brasil como uma verdadeira nação - mesmo com os contrastes sociais - no cenário mundial.

Portanto, peço encarecidamente que aos leitores deste blog que façam campanha em casa, pela web, nas ruas, nas fábricas, no trabalho para eleger Dilma porque o Brasil encontrou o seu caminho.

O Brasil precisa da continuidade deste governo. O mundo precisa de um Brasil soberano, solidário com os seus irmãos latinos. O mundo precisa de um governo progressista e que olhe as pessoas com menos oportunidades.

É o que eu acredito. Acredito sim, nas possibilidades da próxima década. Acredito que a próxima década será a mais importante deste século porque colocará de vez o Brasil entre as grandes economias deste planeta.

A próxima década o Brasil deixará apenas o país do futuro. A próxima década o Brasil deixará de apenas o país do carnaval, do samba e do futebol

Que Deus nos abençoe e nos dê sabedoria para as nossas escolhas. O Brasil de fato encontrou o seu caminho.

por Flávio Aguiar*, em Carta Maior

Para a direita brasileira o fim de ano não podia ser pior, apesar de Serra se manter na frente, nas pesquisas para o Planalto. Só deu presidente Lula: prêmio Houphouët-Boigny da Unesco, título de doutor honoris causa na Universidade de Hamburgo (depois da de Lyon), personalidade do ano para o jornal El País, elogiadíssimo pelo premiê Zapatero, sucesso em Copenhague (apesar do fracasso da conferência) e para culminar, personalidade do ano para o jornal Le Monde. De quebra, o chanceler Celso Amorim foi elogiadíassimo como profissional da área por seu colega espanhol, que também não regateou apalusos à política externa brasileira.

E por onde o nome de Lula ou o próprio passa, não faltam aplausos: assim foi perante a platéia de empresários em Hamburgo, em Portugal, na Grã-Bretanha, e em jornais conservadores (e sérios, do ponto de vista jornalístico), como The Economist, Financial Times, Frankfurter Allgemeine, ou progressistas, como o Süddeutschezeitung, ou até mesmo a revista Der Spiegel, conhecida por não dar moleza a políticos, seja de que lado forem.

Para Lula, só elogios. Agora, neste final de fim de ano, o Financial Times nomeou Lula como uma das 50 personalidades que “moldaram a última década”. Segundo o FT, Lula é o político mais popular da história do Brasil, e seu governo implementou “programas de transferência de renda baratos, mas eficientes”. E nem falamos da Ópera Olímpica do Rio de Janeiro. Se Lula acabar ganhando algum Nobel da Paz, a nossa direita vai roer as unhas até os cotovelos. Mas certamente não dará o braço a torcer: vai continuar ressentida contra esse presidente que não só “não fala português direito”, como não fala “sequer uma única língua estrangeira”. Que vergonha! (para a nossa direita, é claro, por se prender a essas mesquinharias de segunda mão, já que lhe falta assunto).

Mas houve mais: perplexa, a direita brasileira viu evaporar-se seu plano de impedir a entrada da Venezuela no Mercosul; assistiu de cadeirinha à consagração de Evo Morales nas urnas de seu país, a de José Pepe Mujica, ex-tupamaro, no Uruguai. Ainda teve de encarar o fato de que a Bolívia está entre os países da América do Sul que mais crescem economicamente, o sucesso de suas políticas sociais, as do Equador, do Paraguai e as do próprio Brasil.

Restaram-lhe alguns prêmios de consolação, mas tão complicados quando reveladores do seu próprio caráter, por osmose ou metonímia (perdoem-me os palavrões; poderia dizer por contaminação ou proximidade). Um foi a enredada tibieza da política externa do governo Obama em relação à América Latina, que serviu de moeda de negociação com os republicanos em troca da liberação de nomeações diplomáticas para a região. Outro, pior ainda, foi o golpe de estado em Honduras e a leniência, para não dizer conivência ou cumplicidade, que ela apregoou em relação a ele. Outro ainda, ao apagar das luzes de 2009, foi a vitória de Piñera, o herdeiro do pinochetismo, no primeiro turno das eleições chilenas, que, ela espera, terá continuidade no segundo turno. Quer dizer: de aberto, tudo o que a nossa direita teve a exibir são compromissos com o passado de subserviência global e de práticas ditatoriais no nosso continente.

Para essa visão comprometida com o que nosso continente sempre teve de mais reacionário e oligárquico, durante o governo Lula a nossa política externa rompeu com a tradição de “pragmatismo” e enveredou por uma perigosa “politização”, embalada por compromissos ideológicos ou por “sonhos megalomaníacos”, como o de conquistar a qualquer preço uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (esquecendo que essa é uma reivindicação brasileira desde a fundação desse organismo internacional). Para o pensamento da nossa direita, “pragmatismo” é reconhecer o golpe em Honduras, mas não as eleições (que sempre houve) na Venezuela, na Bolívia, no Paraguai, no Uruguai e por aí afora.

Ainda para essa visão: ao acolher Zelaya e ao posicionar-se frontalmente contra o golpe em Tegucigalpa, o Brasil ficou “isolado” na cena internacional. Quer dizer, para esse pensamento, o fato de a maioria esmagadora dos países da América Latina e do Caribe não terem reconhecido o golpe nada conta: só conta o fato de que o Brasil teve uma rusga (e não muito séria) com a claudicante política de Clinton/Obama para a região.

Essas questões ajudam a elucidar um aspecto do confronto eleitoral que se prepara em 2010. Uma das chaves da propaganda (já) anti-Dilma é a de que o cavaleiro conservador que entrar na liça não será um “anti-Lula”, mas sim um “pós-Lula”. Olhando-se para esse comportamento da nossa direita na frente externa e suas expectativas, vê-se logo que isso é um fraseado sem pé nem cabeça. Trata-se sim de virar a mesa no sentido anti-horário, quer dizer, anti-Lula, provocando uma regressão histórica de grande monta, assim como a assertiva de FHC de que seu governo poria fim “à era Vargas” não apontava para o futuro, como queria o ex-presidente, mas para o passado, restaurando cacoetes e o viés anti-social da República Velha ou dos Coronéis.

O mundo imaginário e sentimental em que grande parte da nossa direita vive é anacrônico, pautado por um liberalismo brasileiro à antiga, aquele liberalismo que não se liberou jamais de proteger sua condição de casta superior; que sempre preferiu entregar os dedos, as mãos inteiras, os pés e todo o corpo da nação a perder o privilégio dos seus anéis. E que vive embalada por um sonho da carochinha onde prima uma confusão dos Estados Unidos com Disneyworld e da Europa com o mundo de Sissi (que me perdoe a Romy Schneider, uma grande atriz). E por um pesadelo, para eles, chamado Brasil, povoado agora por um povão que vem se revelando difícil de manter nos antigos apriscos excludentes e currais eleitorais.

Uma última observação, quase um desvio de assunto, mas ainda assim seria “a digressão pertinente”. No elogio de Lula nas páginas do Le Monde (24/12/2009, 11h32), o jornalista Eric Fottorino, escreveu: “Desde sua criação, Le Monde, marcado pelo espírito de análise de seu fundados, Hubert Beuve-Méry, quer ser um jornal de (re)construção, também de esperança; ele veicula, à sua maneira, uma parte do positivismo de Auguste Comte, tomando como causa sua os homens de boa vontade e suas proposições”.

Quer dizer, quase 153 anos depois de sua morte (1798 – 1857), Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, um dos avós paternos da nossa bandeira republicana, continua a ditar parte do baralho da nossa canastra política. Que a nossa direita anseia em (re)transformar no pôquer de cartas marcadas onde só os caubóis ganham. Mas isso de Auguste Comte e o Brasil do século XXI é tema para outro artigo, que virá logo. Até 2010, e deixo aqui o lema que me encanta até hoje, como saudação de fim/novo ano às leitoras e leitores que me (e nos) acompanharam até aqui: “Um por todos, todos por um”.

* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior.

Paulo Henrique: Lula resolveu soltar o verbo para afrontar a elite e o PiG


por Paulo Henrique Amorim, no Conversa Afiada

Do presidente Lula, hoje, em São Bernardo, ao inaugurar uma unidade do SUS:

- Nós não fazemos distinção de que partido é o prefeito e o governador – disse Lula … O povo precisa e a gente tem mais é obrigação de fazer sem olhar…Vocês não podem deixar de dar comida para um porco porque você não gosta do dono do porco. É preciso tratar as pessoas com o respeito que as pessoas precisam ter nesse país.

De Lula, hoje, no Blog do Planalto, “O Presidente Responde”:

Murilo Oliveira, 26 anos, publicitário de Amparo (SP) – Nos anos 90, o sr. dizia que se eleito acabaria com o monopólio da mídia. Por que o sr. ainda não cumpriu o prometido?

Presidente Lula – Não há dúvida de que o monopólio da mídia não é bom para a democracia. Aliás, a Constituição é clara: “Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.” Mas cabe ao Congresso regulamentar os mandamentos constitucionais. As próprias mudanças econômicas e sociais, no entanto, vêm provocando transformações na comunicação social no Brasil. Há cinco anos, os jornais tradicionais do eixo Rio-São Paulo estão estacionados em 900 mil exemplares, enquanto os jornais das demais capitais cresceram 41%…


Navalha Conversa Afiada

Nos últimos tempos, o presidente Lula passou a usar uma linguagem mais solta, rústica, mais acessível.

Saiu do campo das metáforas de futebol para invadir outros.

Como agora, com essa do “porco”.

Ora, dirão, os colonistas (*) do PiG (**), isso é linguagem de campanha eleitoral.

É isso e muito mais.

Conversei hoje com minha ilustre irmã, Marilia, especialista em Linguística e professora da Universidade de Paris.

Marilia se diverte com esse novo Lula.

Para ela, Lula resolveu chutar o pau da barraca – Marilia, entre outros atributos, é carioca, e, portanto, chegada a uma metáfora praiana.

Chutar o pau por vários motivos.

Porque ele saiu da província e foi para a capa do Monde.

O Lula é “o cara”, e ninguém mais tira dele o que é dele.

Porém, mais do que isso, observa a Marilia: Lula resolveu mostrar à elite que não leva a elite a sério.

Ele anuncia que, no dia seguinte, o PiG (**) vai escarnecer da linguagem dele.

E escarnece da elite.

Lula não bate de frente.

Ele não bateu no PiG (**).

Mas, agora, ele se considera em condições de botar o PiG (**) e a elite branca no seu devido lugar: eles são minoria com complexo de maioria…

Lula diria assim: olha, eu sei que vocês me acham um nordestino inferior, um metalúrgico ignorante.

Então, eu vou me comportar como se eu fosse.

Vou incorporar o estereótipo em que vocês querem me aprisionar.

E vou rir de vocês.

Lula, sábio, picaresco, incorpora personagem do “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, outro pernambucano sábio.

Mais do que isso, Lula, aos poucos, mostra ao PiG (**) que o PiG (**) é insignificante.

Um câncer em estado terminal: há cinco anos, a tiragem do Globo, da Folha (***) e do Estadão não sai dos 900 mil exemplares.

Por que Lula haveria de polir a linguagem só para agradar o PiG (**) ?

Para dar pérola aos porcos ?

Paulo Henrique Amorim


(*)Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG (**) que combatem na milícia para derrubar o presidente Lula. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

(**)Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

(***) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que avacalha o Presidente Lula por causa de um comercial de TV; que publica artigo sórdido de ex-militante do PT; e que é o que é, porque o dono é o que é ; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Educação que liberta e incomoda


Autor(es): Robson Campos Leite
Jornal do Brasil - 30/12/2009

Ao final do triste período da ditadura militar no Brasil – em que direitos, vidas e liberdades foram lamentavelmente cassados e destruídos – assistimos a um processo de anistia no qual importantes lideranças políticas brasileiras puderam retornar à nossa “pátria mãe gentil”. Personalidades, artistas, ex-mandatários, professores, enfim, um grupo de pessoas que, conforme nos disseram um dia os mestres Aldir Blanc e João Bosco na belíssima composição que conta uma parte dessa história na voz imortal da nossa saudosa Elis Regina, partiram “num rabo de foguete”. Que “sufoco louco” foi, sem sombra de dúvidas, aquele período da nossa história, encerrado com a realização do sonho da volta de pessoas que desejaram e lutaram, como o irmão do Henfil, por um país livre, democrático e com oportunidades iguais para todos e todas.

Entretanto, pouca gente sabe que nem todos os grandes protagonistas da resistência à ditadura puderam retornar ao Brasil naquele momento. Alguns – considerados ainda uma ameaça ao modelo de governo da época – precisaram adiar a sua volta.

Entre eles, o ex-coordenador do Plano Nacional de Alfabetização do Governo João Goulart que, por força de seu exílio com o golpe militar da época, foi para o Chile trabalhar no projeto de erradicação do analfabetismo do governo daquele país. Estou falando do grande mestre Paulo Freire.

O perigo do projeto de Paulo Freire para a ditadura do Brasil da época – que o impediu de ser anistiado no primeiro momento do período de reabertura política do Brasil no fim da década de 70 e no início dos anos 80 – era que ele não apenas alfabetizava o povo mas sobretudo gerava uma grande consciência política e cidadã.

Seu projeto – Plano Nacional de Alfabetização –, laboratório para a sua obra chamada Pedagogia do Oprimido e criada no Chile de Salvador Allende durante o seu exílio, simplesmente ensinava libertando.

Ele, por exemplo, substituía as antigas frases utilizadas em sala de aula de alfabetização de adultos como “vovó viu a uva” por “o povo tem o voto”. Fica fácil perceber o quanto esse tipo de trabalho se tornou uma ameaça não apenas à ditadura militar do Brasil da década de 70 mas também a todo tipo de governo opressor que tente explorar e enganar os seus cidadãos.

A quem interessa um povo consciente e capaz de pensar, refletir e agir por si mesmo? Faço essa pergunta por acreditar – e fico profundamente triste ao afirmar isso – que não é por acaso que a educação nunca tem a prioridade que merece nos debates e projetos nas casas legislativas brasileiras. Vejamos, por exemplo, o que aconteceu no início do mês de dezembro na Câmara Municipal do Rio de Janeiro: o Projeto de Lei 297/2009, de autoria do vereador Reimont Luiz, que instituiria o calendário escolar unificado na cidade do Rio de Janeiro – um avanço que já é realidade em diversos municípios e capitais do Brasil – e que chegou a ser aprovado em primeira votação foi, lamentavelmente, derrubado em definitivo por causa do veto do prefeito do Rio e, principalmente, pela incapacidade da casa legislativa em derrubar esse veto.

Qual o problema deste projeto que trata de uma justa e correta reivindicação dos professores em tentar unificar o tão sacrificado calendário escolar? Como poderemos efetivamente melhorar a educação se o seu profissional – que já ganha muito mal e é obrigado a trabalhar muito acima da carga horária ideal – não pode, sequer, ter o simples direito de tirar férias por força de um calendário desumano e cruel? Eu não encontro outra justificativa a não ser a mesma que fez com que a ditadura militar impedisse o professor Paulo Freire de voltar ao Brasil nos fins dos anos 70. Afinal de contas, volto a insistir, a quem interessa uma educação de qualidade? Ou, pior ainda, a quem interessa o processo de sucateamento da educação que aliena e exclui? Trata-se, de maneira triste e lamentável, de algo que costumo chamar de lógica perversa.

A mesma que impediu o retorno de Paulo Freire ao Brasil e que atrasou, por mais de 20 anos, a construção de uma verdadeira nação em nosso país através de uma educação de qualidade que forme, liberte e, desta forma, incomode, e muito, a certos tipos de políticos que, infelizmente, ainda atuam em nosso país.
Pode interessar a alguém o processo de sucateamento da educação, que aliena e exclui?

Por que é preciso eleger Dilma em 2010?



De Paulo Henrique Amorim

Se continuar como está, a pobreza cai à metade em 2014


Neri: pobreza cai á metade e classe AB dobra

Saiu no Valor de hoje, pág. A11, artigo de Marcelo Neri, “Cenários de crescimento, desigualdade e pobreza”:

Se até 2014 acontecer o que aconteceu entre 2003 e 2008 (ou seja, no Governo Lula – PHA), “é possível obter uma redução da pobreza à metade … de 16% da população para 8%… (O Brasil) já cumpriu a primeira meta do Milênio de fazer a pobreza cair à metade em metade do tempo. Isso significa cumpri-la de novo, em 5 anos, invés de 25 anos.”

A conseqüência é a seguinte: a queda da classe D, que passará de 24% para 20% da população; aumento da classe C (passará de 49% para 56%); e aumento da classe AB, que passará de 10% para 16% da população.

“Ou seja, o cenário auspicioso mostra que se a pobreza cai à metade, a classe AB dobra”.

Marcelo Neri, chefe do Centro e Políticas Sociais do IBRE/FGV, é um dos especialistas em políticas públicas, questões de desigualdade e renda, e um dos primeiros a falar da ascensão da classe C.

Clique aqui para ler entrevista recente que fiz com ele.

Ou seja, se a Dilma fizer o que o Lula faz, o Brasil extirpa a pobreza.

O perigo são os tucanos.

Há 15 anos eles governam São Paulo.

Reduziram a participação de São Paulo no PIB.

Desmontaram o ensino e a saúde pública.

E transformaram uma parte da cidade de São Paulo – Zona Leste – numa Veneza pútrida: a região está alagada há 20 dias

sábado, 26 de dezembro de 2009

O signifiado da vitória do Lula em 2002 e da possível vitória de Dilma em 2010.

A DILMA, seguirá, a partir de 2010, com a política de fortalecimento da soberania do Brasil - isso que é mais importante lembrar ao povo brasileiro nos grandes embates no cenário mundial.

O Brasil deixou de ser coadjuvante para ser um ator principal no cenário mundial - e  a Dilma consolidará o Brasil no mundo, com o apoio do presidente Lula.

Neste sentido, o  texto abaixo  - Brasil como contraste - é muito revelador e cada a boca de um lado da direita hipócrita e conservadora demo-tucana, de outro também cala a boca da esquerda radical e sem discurso, representada principalmente pelo PSOL e PSTU.

Para a direita, que discurso sobrou? E a para esquerda radical nem o  "Fora FMI"? .

Voltando ao texto - Brasil como contraste revela o sentimento de um governo que priorizou políticas sociais consubstanciadas com as políticas de valorização do salário mínimo e outras medidas econômicas que possibilitam criar e fortalecer um mercado interno promissor.  Os resultados estão aí, o México - referência de FHC e de mídia como a Rede Globo se perdeu terrivelmente, e antes disso o muro foi construído Deus sabe as verdadeiras intenções. Cria-se de um lado um mercado global e quebram-se as fronteiras econômicas, mas de outro cria-se um muro que segrega historicamente o México do seu país-irmão - O Grande Irmão do Norte.

No entanto, o Brasil com a eleição de Lula buscou o seu caminho, caminho muito criticado pela mídia demo-tucana (Rede Globo, Folha, Veja, Band, Estadão e assemelhados), aliada incondicional dos interesses americanos neste país, tendo como representantes legítimos ianques neste país a direita golpista e raivosa demo-tucana, cujos os expoentes máximos são os partidos demo-tucanos com os seus líderes: FHC, Serra, Roberto Freire, os DEMOS, que se acostumaram se ajoelhar aos interesses norte-americanos neste país.

A Dilma, eleita em 2010, seguirá com a política de fortalecimento da soberania deste país, isso que é importante, em primeira ordem lembrar.

Vamos ler o texto abaixo para enriquecer o nosso debate nas eleições de 2010. É mais um argumento para o povo brasileiro não aceita a volta dos entreguistas demo-tucanos representados por Serra, Aécio e FHC.

Brasil como contraste


O jornal mexicano La Jornada, de esquerda, publicou recentemente um texto comparando a questão salarial no México e no Brasil. Reproduzo o texto abaixo. O México, como vocês sabem, era citado como o grande exemplo a ser seguido pelo Brasil, não faz muito. O México neoliberal, que se associou aos Estados Unidos como fornecedor de mão-de-obra barata. É só vocês buscarem nos arquivos da mídia brasileira as reportagens exaltando o modelo mexicano. Comparem, agora, com a avaliação feita por um jornal mexicano, em meio a uma profunda crise econômica e a uma guerra contra o narcotráfico que faz os problemas policiais do Brasil -- gravíssimos, diga-se de passagem -- parecerem conto-de-fadas.

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O texto do La Jornada, conforme tradução publicada no Vermelho (com alguns reparos do Viomundo):

Brasil como contraste

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, instituiu um aumento de 10% no salário mínimo, o que significa, quando a medida entrar em vigor em janeiro próximo, um aumento real anual, descontada a inflação, de 5,5% no poder aquisitivo dos trabalhadores. Desde 2003, quando Lula iniciou seu primeiro mandato como presidente, o indicador salarial brasileiro acumulou um aumento de 53,4% em termos reais.

Isto não apenas ajuda a explicar a enorme popularidade de que goza o governante de origem operária. Mais importante, permite-nos compreender a solidez da economia do maior país da América Latina.

Na verdade, o crescente poder de compra dos salários tem dado ao Brasil um mercado interno consolidado que proporciona um crescimento sustentado dos ramos agrícola, industrial e de serviços. Isso permitiu que a crise econômica mundial tenha sido, nessa nação do Sul, muito menos prejudicial do que em outros países. Na verdade, apesar de toda a falência financeira global registrada no ano, a economia brasileira registrou em 2009 números positivos.

Em todas estas áreas, os salários, os mercados domésticos, crises econômicas e mudanças no PIB, é inevitável comparação entre o Brasil e o México. De 2003 até esta data, o salário mínimo no México aumentou 20,4% nominalmente, mas quando comparado com a inflação desse período, a segunda metade do mandato presidencial de Vicente Fox e a primeira da administração de Calderón, o mínimo perdeu, em termos reais, cerca de 10% do seu poder de compra. Isto é simplesmente a etapa mais recente de uma desvalorização deliberada e sistemática de trabalho, estipulada pelo programa neoliberal em curso desde 1988 – ou desde 1982, de acordo com outros critérios.

Esse plano para punir os salários e facilitar a concentração da riqueza em poucas mãos, não só foi catastrófico para os trabalhadores, mas também para a economia como um todo, uma vez que impediu o crescimento de um mercado capaz de sustentar atividades produtivas. No final, a obsessão neoliberal e antinacional dos governantes – por atrair investimento estrangeiro, aumentar as exportações às custas do bem-estar da população, submeter o país ao arbítrio de todo tipo de agentes externos – impôs à atividade econômica um rumo de colapso. Isto pode ser visto no total desamparo do México face aos embates de uma recessão global e suas conseqüências, mais desastrosas e duradouras aqui que no resto das nações do continente.

Não se deve omitir, é claro, as terríveis consequências sociais e políticas das estratégias antissalariais e antitrabalho com que se governou nas últimas décadas. O aumento descontrolado das taxas de criminalidade, a crescente desintegração social, as evidentes carências em educação, saúde e habitação constituem um saldo que, se não mudar o rumo, mais cedo ou mais tarde desembocarão na ingovernabilidade, na desestabilização e numa violência ainda maior do que a sofrida atualmente.

O governo Lula não poderia ser classificado como socialista radical. Ao contrário, em diversas áreas da esquerda se critica o presidente brasileiro por abandonar os postulados ideológicos de sua origem sindicalista, por ter virado as costas, depois de chegar ao poder, aos movimentos sociais que o apoiaram em sua carreira política, e até por ter assumido algumas premissas da ortodoxia neoliberal.

O que ninguém, nem da esquerda nem da direita, nega a Lula é uma visão de Estado.

Como corolário destas considerações pode-se assinalar que não é preciso manter posições progressistas nas esferas social e econômica para entender como é importante a manutenção e melhoria dos níveis de salário. Para partilhar essa visão e essa práxis governamental, basta por o interesse nacional acima daquele de um pequeno grupo de potentados nacionais e estrangeiros.

A contra-revolução jurídica


Está em curso uma contra-revolução jurídica em vários países latino-americanos. É possível que o Brasil venha a ser um deles. Trata-se de uma forma de ativismo judiciário conservador que consiste em neutralizar, por via judicial, muito dos avanços democráticos que foram conquistados ao longo das duas últimas décadas.

(Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).)

Está em curso uma contra-revolução jurídica em vários países latino-americanos. É possível que o Brasil venha a ser um deles.

Entendo por contra-revolução jurídica uma forma de ativismo judiciário conservador que consiste em neutralizar, por via judicial, muito dos avanços democráticos que foram conquistados ao longo das duas últimas décadas pela via política, quase sempre a partir de novas Constituições.

Como o sistema judicial é reativo, é necessário que alguma entidade, individual ou coletiva, decida mobilizá-lo. E assim tem vindo a acontecer porque consideram, não sem razão, que o Poder Judiciário tende a ser conservador. Essa mobilização pressupõe a existência de um sistema judicial com perfil técnico-burocrático, capaz de zelar pela sua independência e aplicar a Justiça com alguma eficiência.

A contra-revolução jurídica não abrange todo o sistema judicial, sendo contrariada, quando possível, por setores progressistas.

Não é um movimento concertado, muito menos uma conspiração. É um entendimento tácito entre elites político-econômicas e judiciais, criado a partir de decisões judiciais concretas, em que as primeiras entendem ler sinais de que as segundas as encorajam a ser mais ativas, sinais que, por sua vez, colocam os setores judiciais progressistas em posição defensiva.

Cobre um vasto leque de temas que têm em comum referirem-se a conflitos individuais diretamente vinculados a conflitos coletivos sobre distribuição de poder e de recursos na sociedade, sobre concepções de democracia e visões de país e de identidade nacional.

Exige uma efetiva convergência entre elites, e não é claro que esteja plenamente consolidada no Brasil. Há apenas sinais, nalguns casos perturbadores, noutros que revelam que está tudo em aberto. Vejamos alguns.

Ações afirmativas no acesso à educação de negros e índios
Estão pendentes nos tribunais ações requerendo a anulação de políticas que visam garantir a educação superior a grupos sociais até agora dela excluídos.

Com o mesmo objetivo, está a ser pedida (nalguns casos, concedida) a anulação de turmas especiais para os filhos de assentados da reforma agrária (convênios entre universidades e Incra), de escolas itinerantes nos acampamentos do MST, de programas de educação indígena e de educação no campo.

Terras indígenas e quilombolas
A ratificação do território indígena da Raposa/Serra do Sol e a certificação dos territórios remanescentes de quilombos constituem atos políticos de justiça social e de justiça histórica de grande alcance. Inconformados, setores oligárquicos estão a conduzir, por meio dos seus braços políticos (DEM, bancada ruralista), uma vasta luta que inclui medidas legislativas e judiciais.

Quanto a estas últimas, podem ser citadas as "cautelas" para dificultar a ratificação de novas reservas e o pedido de súmula vinculante relativo aos "aldeamentos extintos", ambos a ferir de morte as pretensões dos índios guarani, e uma ação proposta no STF que busca restringir drasticamente o conceito de quilombo.

Criminalização do MST

Considerado um dos movimentos sociais mais importantes do continente, o MST tem vindo a ser alvo de tentativas judiciais no sentido de criminalizar as suas atividades e mesmo de dissolvê-lo, com o argumento de ser uma organização terrorista.

E, ao anúncio de alteração dos índices de produtividade para fins de reforma agrária, que ainda são baseados em censo de 1975, seguiu-se a criação de CPI específica para investigar as fontes de financiamento do movimento.

A anistia dos torturadores na ditadura
Está pendente no STF uma Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental proposta pela OAB requerendo que se interprete o artigo 1º da Lei da Anistia como inaplicável a crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de corpos praticados por agentes da repressão contra opositores políticos durante o regime militar.

Essa questão tem diretamente a ver com o tipo de democracia que se pretende construir no Brasil: a decisão do STF pode dar a segurança de que a democracia é para defender a todo custo ou, pelo contrário, trivializar a tortura e execuções extrajudiciais que continuam a ser exercidas contra as populações pobres e também a atingir advogados populares e de movimentos sociais.

Há bons argumentos de direito ordinário, constitucional e internacional para bloquear a contra-revolução jurídica. Mas os democratas brasileiros e os movimentos sociais também sabem que o cemitério judicial está juncado de bons argumentos.

Em 2010, com Dilma - 13, é Lula outra vez


A década da América Latina



Por Emir Sader

A década de 1990 foi das piores que a América Latina já viveu. A crise da dívida – com suas conseqüências: FMI, cartas de intenção, ajustes fiscais, etc. – e as ditaduras militares abriram o caminho para que se impusessem governos neoliberais em praticamente todo o continente. Passamos a ser a região do mundo com a maior quantidade de governos neoliberais e com suas modalidades mais radicais.

A capacidade de reação da América Latina se revelou na sua capacidade de reverter radicalmente esse quadro: passamos a ser a região que concentra aos governos eleitos pela rejeição do neoliberalismo, que abriga processos de integração regional independentemente dos EUA, que promove formas inovadoras de integração fora da lógica mercantil.

Lideres latinoamericanos como Lula, Hugo Chavez, Evo Morales, Rafael Correa, entre outros, se projetaram internacionalmente, por sua capacidade de encarnar as necessidades dos seus povos. A Bolívia, o Equador e a Venezuela se somaram a Cuba, com os países que - conforme a Unesco - , terminaram com o analfabetismo.

Os países que optaram pela integração regional e não por Tratados de Livre Comércio, expandiram suas economias, distribuíram renda, avançaram nos direitos sociais da sua população, extenderam notavelmente o mercado interno de consumo popular, diversificaram seu comércio exterior, aumentaram significativamente o comércio entre eles.

Na década anterior, a América Latina havia sido reduzida à intranscendência. Governantes subalternos – Menem, Fujimori, FHC, Carlos Andrés Perez, Carlos Salinas de Gortari – tinham aplicado mecanicamente o mesmo modelo neoliberal, enfraquecido o Estado, a soberania, as economias nacionais. Os governos dos países que assumiram os programas neoliberais não incomodavam ninguém, havia reduzido nossos Estados a subseqüentes perdedores da globalização, que a aplaudiam, às custas da deteriorização ainda maior da situação dos povos dos nossos países.

A primeira década do novo século apresenta uma nova América Latina, com a maior quantidade de governos progressistas que o continente jamais teve. Com processos de integração regional fortalecidos – do Mercosul à Alba, do Banco do Sul à Unasul, do Conselho Sulamericano de Segurança ao Parlamento do Mercosul, entre outras iniciativas. Desenvolveu-se a Operação Milagre, que já permitiu recuperar a visão a mais de 2 milhões de pessoas, que de outra maneira não teriam possibilidade de recuperar a vista. Formaram-se novas gerações de médicos pobres na melhor medicina social do mundo – a cubana – nas Escolas Latinoamericanas de Medicina.

As crises econômicas da década anterior, típicas do neoliberalismo, que debilitaram a capacidade de defesa dos Estados nacionais diante do capital especulativo, que promoveu, entre tantas outras crises, as do México de 1994, do Brasil de 1999 e da Argentina de 2001-02, devastaram as economias desses países. O Brasil de FHC deixou um país em recessão prolongada e profunda para Lula, a quem coube superar a crise com políticas de desenvolvimento econômico.

Na década que termina, os países latinoamericanos que participam dos processos de integração regional – com destaque para o Brasil, a Bolívia, o Uruguai, o Equador – superaram a crise, desatada pelos países centrais do capitalismo, que ainda estão em recessão, que deverá se prolongar ainda por um bom tempo. Revelou a capacidade desses países de diversificar seu comércio exterior, de intensificar o comercio intraregional e de seguir expandindo o mercado interno de consumo popular.

A América Latina mostra hoje ao mundo a cara – imposta pela predominância de governos progressistas – de um continente em expansão econômica, afirmando sua soberania – em questões econômicas, políticas e de segurança regional -, melhorando a situação social do povo, consolidando políticas internacionais que intervêm na decisão dos grandes temas mundiais. Foi, sem dúvida, esta primeira década do novo século, a década da América Latina, que se projeta para a segunda década como um dos exemplos de luta na superação do neoliberalismo e de construção de sociedades mais justas e solidárias

Lula, o mundo e a mídia

Quando Lula não apenas discordou da mandatária alemã Ângela Merkel e também disse que as potências atômicas não têm moral para exigir que o Irã não tenha direito ao seu programa nuclear, percebemos novamente como opera a linha editorial subproduto do princípio ideológico do “Eixo do Mal”. Há uma ausência sistemática de sintonia entre o eco internacional positivo das falas presidenciais e o tratamento editorial negativo que a mídia nacional lhe atribui, quase por unanimidade.

Por Beto Almeida*

"O mundo me condena
e ninguém tem pena
falando sempre mal do meu nome
deixando de saber,
se eu vou morrer de sede
ou se eu vou morrer de fome!"
Filosofia, Noel Rosa

Fortes e originais declarações de Lula sobre questões espinhosas e complexas do cenário internacional provocam boa oportunidade para nova avaliação sobre a ausência de sintonia entre o eco internacional positivo das falas presidenciais e o tratamento editorial negativo que a mídia nacional lhe atribui, quase por unanimidade.

Primeiro, há que reconhecer: Lula tem tido a audácia de tocar em temas considerados intocáveis como, por exemplo, ao questionar e criticar a reserva de mercado de fato de um clube restrito de países atômicos que pretende impor o desarmamento aos demais países. E, quando algum destes países periféricos reivindica o direito natural e histórico à isonomia de também possuir tecnologia nuclear é logo condenado como se seus objetivos fossem inquestionavelmente terroristas. E são logo colocados no “Eixo do Mal” criado pelo belicoso George Bush.

Já sabemos que os atentados de 11 de setembro de 2001 foram usados como um pretexto pelo mais intervencionista dos países para interferir ainda mais truculenta em cada canto do planeta onde conseguisse. Aliás, recomenda-se a leitura do site “Cientistas pela Verdade”, no qual a versão oficial é questionada com consistência.

Após surgir a categoria do “Eixo do Mal”, vem o golpe midiático fracassado contra Chávez com apoio dos EUA, as prisões clandestinas de “suspeitos” em vários países seqüestrados em vôos clandestinos que usaram bases militares de países europeus que se autodenominam democráticos. Surgiu também a campanha contra as “armas químicas de destruição em massa no Iraque” que, com o apoio midiático internacional dos que controlam o fluxo da informação planetária, resultou na invasão sanguinária àquele país do Oriente Médio. As tropas de ocupação ainda lá estão sem que o Obama, agora Prêmio Nobel da Paz, tenha conseguido fazer com que seu discurso de mudanças tenha tradução verdadeira em atos de sua política externa, que é quase sempre militar, sendo sempre intervencionista.

Eixo do Mal: dirigismo ideológico

Na cabeça de Bush - não mencionamos cérebro - o Eixo do Mal era composto por Iraque, Coréia do Norte, Irã, Cuba e provavelmente a Venezuela. Cuba continua bloqueada, mas, mesmo assim, exporta médicos, professores, vacinas, remédios, livros, desportistas, para mais de 70 países. Os EUA, e os “democráticos” países europeus da OTAN, vão exportando militares, armas, inclusive, obviamente as de destruição em massa. O presidente do Timor Leste, jornalista e poeta Ramos-Horta, me informou que os EUA pressionaram-no para que não recebesse os 350 médicos cubanos que lá estão reconstruindo a nação timorense do mais cruel genocídio da era moderna, proporcionalmente falando. Ramos apenas perguntou ao embaixador norte-americano: “quantos médicos os EUA têm aqui em Timor?” Nenhum! Pois estão lá os 350 médicos cubanos e 600 jovens timorenses estudando medicina em Cuba, gratuitamente!

Ao defender Cuba, ampliando as relações Brasil-Cuba, condenando o bloqueio imposto à Ilha e ao quebrá-lo na prática quando instala empresas estatais brasileiras na Ilha, como a Embrapa, a Petrobrás, etc, Lula vai fazendo sua política na contracorrente da política intervencionista do Eixo do Mal. Como complemento, quando os jovens timorenses se formarem em medicina, antes de voltarem à Ásia, farão estágio na Fiocruz no Brasil, como reza o acordo que Lula firmou com Ramos-Horta

Coréia do Norte está lá de pé porque tem armas atômicas, senão seu destino poderia ter sido o do Iraque. E isto tem que ficar muito claro e ser lembrado todos os dias por todos os brasileiros, dos seringueiros aos militares, dos cientistas aos cineastas, dos religiosos aos carnavalescos. Basta mencionar que um suposto relatório da CIA, divulgado pelo extinto jornal Tribuna da Imprensa, dava conta da vulnerabilidade das torres petroleiras da Petrobrás a ataques terroristas. Lula mandou embaixador para a Coréia do Norte, Arnaldo Carilho, que é também grande pensador do cinema, da brasilidade e da soberania informativo-cultural brasileiras. Lula, outra vez, atuou com independência na contracorrente da linha Eixo do Mal, que tem sua vertente midiática.

Hipocrisia editorial

Recentemente, registrou-se a campanha midiática para que Lula não recebesse o presidente iraniano Mahmud Ahjmadinejad. Para este jornalismo, é como se o Brasil não tivesse direito de ter posições independentes e soberanas em política externa. Este mesmo jornalismo calou-se quando o então chanceler brasileiro da era da privataria obedeceu um guardinha de alfândega nos EUA que lhe obrigou a tirar os sapatos para entrar naquele país. O chanceler assumiu ali sua vocação para vassalagem.... Esta política externa de pés descalços foi arquivada por Lula. Junto com ela o projeto da ALCA, a terceirização/alienação da Base de Alcântara e outras.

Quando Lula não apenas discordou da mandatária alemã Ângela Merkel e também disse que as potências atômicas não têm moral para exigir que o Irã não tenha direito ao seu programa nuclear, percebemos novamente como opera a linha editorial subproduto do princípio ideológico do “Eixo do Mal”. Lula estaria, segundo ela, defendendo um país que apoiaria o terrorismo do Hamas e do Hezbolah. Não há o menor esforço para informar, nem internacionalmente, nem aqui, que o Hamas é um partido político eleito pelo voto direto da população palestina que habita a Faixa de Gaza para o exercício do governo. E como todo governo, tem o direito de ter armas, política de defesa. Israel não tem suas armas atômicas?

Sem informação, como julgar?

Não há também a menor vontade de informar que o Hezbolah é um movimento político, que tem praticamente a metade do Parlamento do Líbano, que tem cargos no governo libanês, administrando boa parte da política de saúde e de educação daquele país de preciosa presença na formação do nosso povo.

É apenas por ser parte do Estado no Líbano que se pode entender como o Hezbolah resistiu e impôs uma verdadeira derrota às agressões de Israel há alguns anos, após o que, pelo voto direto, ampliou sua participação na administração pública libanesa. Vale registrar que a TV do Hezbolah resistiu por várias semanas a terríveis bombardeios israelenses sem sequer sair do ar. Segundo escassas informações, a emissora teve seus transmissores instalados em vários lugares, subterrâneos, exatamente para resistir aos bombardeios. Trata-se de emissora de TV que pode ser sintonizada em todo o mundo árabe e também na Europa.

Talvez isto sirva de estímulo para a TV Brasil vencer todos os obstáculos que ainda a impedem ter visibilidade em todo o território nacional, e também internacionalmente, já que o Brasil pretende, legitimamente, ser protagonista de primeira linha no complexo cenário internacional. Para isto já aposentou corretamente a vassalagem da política de externa de “pés descalços” e , com a criação da TV Brasil, pode construir também uma política de comunicação internacional, aliás como já anunciado. Só lembrando, na Era Vargas, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro era a quarta mais potente emissora do planeta, captada em todos os continentes, transmitindo em quatro idiomas......

Seria muito útil que a TV Brasil informasse ampla e profundamente sobre o que ocorre na Palestina, sob todos os ângulos, e também sobre o que é o Hamas, o que é o Hezbolah, como é o Líbano hoje em cuja configuração de poder político tem a presença, pelo voto direto popular, do Hezbolah. Da outra mídia, que tenta desqualificar a política externa praticada por Lula, e que tenta insinuar que Brasil está estabelecendo cooperação mais ampla com um país (Irã) que “apoiaria o terrorismo”, não podemos esperar informações objetivas e verazes sobre estes processos. Afinal, trata-se de uma mídia que segue o manual de jornalismo do “Eixo do Mal” e condena tudo o que questione esta linha, como agora critica Lula por sua audaciosa posição contra os privilégios dos países atômicos que querem manter os outros desarmados.....Tudo isto tem tradução no jornalismo. Ou seja, Lula tem sido singular construtor de pautas para um jornalismo independente. É preciso aproveitá-las com criatividade e originalidade. Ter a audácia, como Lula o faz em política internacional, de discordar da linha editorial convencional sobre temas tão complexos.

Honduras: a isca ideológica do golpismo


No golpe de Honduras a posição valente da política externa brasileira confrontou-se com a linha editorial praticante do “dirigismo de mercado” que, por não admitir em nenhuma hipótese que aquele país centro-americano desenvolvesse cooperação nas áreas de saúde e educação com Cuba, nas áreas agrícola e energética com a Venezuela, optou pela defesa do golpe. Esta mídia engoliu com prazer a isca ideológica do golpismo, segundo a qual, Zelaya é que era o golpista porque queria sua própria reeleição. Mas, este item sequer constava da consulta popular que seria submetida ao povo hondurenho quando o golpe foi dado. Mas, constava da consulta a destinação da base militar norte-americana no país.......

Tal como na invasão do Iraque, quando a isca ideológica era “as armas de destruição em massa”, no caso de Honduras, o Zelaya é que foi transformado em golpista. O New York Times já pediu desculpas seus leitores por ter difundido a mentira das “armas de destruição em massa”, afinal, jamais encontradas. A não ser nas mãos das tropas da OTAN que contaminaram a Yugoslávia e o Iraque com bombas de urânio empobrecido.

Uma vez mais, Lula foi por um lado, “não converso com golpista” , declarou, e a linha editorial da mídia nacional foi na conversa do Partido Pentágono Republicano que impõe seu dirigismo em nome das encomendas da indústria bélica. A solução para estes desencontros é mais informação, mais pluralidade. Por exemplo: com a ajuda da PDVSA, petroleira estatal Venezuela, Zelaya trocou todas as lâmpadas de todas as residências de Honduras por lâmpadas chinesas, que gastam 70 por cento menos de energia. E Honduras tem escassez energética, depende de termoelétricas, celebrou acordo sobre biocombustíveis com o Brasil. Não fica mais claro compreender o porquê do golpe contra Zelaya? E quando será informado que houve descoberta de petróleo na costa hondurenha?

Venezuela: excesso de democracia

No caso venezuelano há fartos exemplos de desinformação e manipulação por parte desta mídia. Chega até a por em dúvida se houve de fato golpe de estado. Aqui no Brasil, a mídia que apoiou o golpe de 1964 também disse que houve “revolução” porque havia vacância de poder. Na Venezuela o presidente da república foi seqüestrado e a mídia mentiu dizendo que ele havia renunciado.

Mas, concentremo-nos no total desencontro das posições de Lula contra esta mídia que segue editorialmente o Partido Republicano-Pentágono, ou os princípios filosóficos editoriais do Eixo do Mal.

Enquanto toda esta mídia afirma que há ditadura na Venezuela, Lula afirma que “na Venezuela há democracia em excesso”. Em 10 anos, foram realizadas 15 eleições, referendos, constituinte, plebiscitos, dois quais Chávez venceu 14 e respeitou o resultado quando foi derrotado. Este desencontro total alcança até mesmo a linha editorial do Observatório da Imprensa na TV, que nos dois programas especiais sobre a Pátria de Bolívar afirmou que lá há ataque à mídia independente. Registre-se que foram considerados “mídia independente” veículos que compõem o Grupo de Diários da América, jornalões vinculados à SIP – Sociedade Interamericana de Prensa , entidade fundada pela Cia no pós-guerra e que sustentou todos os golpes militares na América Latina, seja o golpe contra Perón, contra Jango, contra Allende, tendo apoiado as mais sanguinárias ditaduras da região. Esta mídia atua livremente na Venezuela, ofende e insulta o presidente Hugo Chávez seja por ser negro ou por ser descendente de índio. Assim como esta mesma mídia chama o presidente Evo Moralez de “narcotraficante”, chama a Chávez de “negro doido”, “selvagem”,”psicopata”, “bêbado”.

Detalhe interessante, não ressaltado no programa televisivo citado: não há jornalistas presos na Venezuela, nenhum jornalista foi assassinado, nem torturado, como ocorre agora mesmo na Colômbia, no México, no Peru, em Honduras de Michelleti. Outra informação interessante: o maior jornal da Venezuela, o Nacional, vendia 400 mil exemplares quando Chávez foi eleito, em 1998. Hoje, após dez anos depois de oposicionismo anti-chavista, vende apenas 40 mil exemplares. A Folha de São Paulo, que já imprimiu 1 milhão e hoje caiu para uma tiragem 3 vezes menor, e com uma vendagem de bancas em torno de 30 mil exemplares apenas, deve estar fazendo suas contas. Mas, mesmo assim, tem a petulância de defender o fechamento da TV Brasil, a única emissora que cumpre integralmente o capítulo da Comunicação Social da Constituição, com uma programação cidadã, plural, diversificada, regionalizada, educativa e humanizadora para o público infantil, respeitosa para com a cultura nacional, do samba ao cinema. Falta o futebol , né?

Independente de quem?

Sobre o grupo empresarial que perdeu a concessão da Rádio e TV Caracas, é preciso informar que a concessão, como ocorre em qualquer país, tem prazo limitado por lei e este prazo terminou. Aqui no Brasil as concessões de rádio e TV de grupos poderosos são renovadas automaticamente. Na prática, adquirem caráter de vitaliciedade. Chávez quebrou um tabu ao não renovar a concessão para o mesmo grupo empresarial, exercendo sua prerrogativa presidencial, prevista em lei, como na maioria dos países do mundo. Mas aquela TV continua operando no cabo, não foi fechada. Isto não foi informado. Não teve a concessão renovada porque o espectro radioelétrico é propriedade do povo venezuelano, não é propriedade privada. Nos EUA centenas de concessões foram revogadas desde meados do século passado. Na França, o presidente Chirac também não renovou concessões. Na Inglaterra de Tatcher, idem. Por que será que contra estes países não houve a escandalosa campanha midiática mundial que se fez contra Chávez?

Estes desencontros entre as posições fortes, destemidas e originais de Lula em política internacional e a linha editorial conservadora, submissa e de ideologia dependente da mídia nacional deveriam merecer um bom debate. Mas, era importante que este debate fosse para as telas da TV e para as ondas do Rádio já que nossa mídia impressa além de ser fechada ao tema, registra taxas indigentes de leitura de jornal e revista. Assim, só mesmo as emissoras do campo público da comunicação, a começar pelos veículos da EBC, as TVs educativas, as legislativas, as universitárias e as comunitárias podem de fato abrir-se democraticamente a este debate e dar-lhe caráter amplo e plural que merece. E é exatamente por isso que são tão justas e tão necessárias as propostas de fortalecimento, expansão e qualificação de todas as modalidades da comunicação pública. É por isso mesmo que elas precisam ser aprovadas nesta primeira Conferência Nacional de Comunicação, a ter início no dia 14 de dezembro. Sendo emblemático que ela tenha a presença de Lula na abertura.

*Presidente da TV Cidade Livre de Brasília; fonte: http://www.cartamaior.com.br/

O MASSACRE APAGADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA


As Vítimas do Massacre do Sítio Caldeirão
têm direito inalienável à Verdade, Memória,
História e Justiça!" Otoniel Ajala Dourado


O MASSACRE APAGADO DOS LIVROS DE HISTÓRIA

No CEARÁ, para quem não sabe, houve também um crime idêntico ao do “Araguaia”, contudo em piores proporções, foi o MASSACRE praticado por forças do Exército e da Polícia Militar do Ceará no ano de 1937, contra a comunidade de camponeses católicos do Sítio da Santa Cruz do Deserto ou Sítio Caldeirão, que tinha como líder religioso o beato JOSÉ LOURENÇO, seguidor do padre Cícero Romão Batista.

O CRIME DE LESA HUMANIDADE

A ação criminosa deu-se inicialmente através de bombardeio aéreo, e depois, no solo, os militares usando armas diversas, como fuzis, revólveres, pistolas, facas e facões, assassinaram mulheres, crianças, adolescentes, idosos, doentes e todo o ser vivo que estivesse ao alcance de suas armas, agindo como se ao mesmo tempo, fossem juízes e algozes.

A AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELA SOS DIREITOS HUMANOS

Como o crime praticado pelo Exército e pela Polícia Militar do Ceará foi de LESA HUMANIDADE / GENOCÍDIO / CRIME CONTRA A HUMANIDADE é considerado IMPRESCRITÍVEL pela legislação brasileira bem como pelos Acordos e Convenções internacionais, e por isso a SOS - DIREITOS HUMANOS, ONG com sede em Fortaleza - Ceará, ajuizou no ano de 2008 uma Ação Civil Pública na Justiça Federal contra a União Federal e o Estado do Ceará, requerendo que: a) seja informada a localização da COVA COLETIVA, b) sejam os restos mortais exumados e identificados através de DNA e enterrados com dignidade, c) os documentos do massacre sejam liberados para o público e o crime seja incluído nos livros de história, d) os descendentes das vítimas e sobreviventes sejam indenizados no valor de R$500 mil reais, e) outros pedidos

A EXTINÇÃO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO DA AÇÃO

A Ação Civil Pública inicialmente foi distribuída para o MM. Juiz substituto da 1ª Vara Federal em Fortaleza/CE e depois, redistribuída para a 16ª Vara Federal na cidade de Juazeiro do Norte/CE, e lá chegando, foi extinta sem julgamento do mérito em 16.09.2009.

AS RAZÕES DO RECURSO DA SOS DIREITOS HUMANOS PERANTE O TRF5

A SOS DIREITOS HUMANOS inconformada com a decisão do magistrado da 16ª Vara de Juazeiro do Norte/CE, apelou para o Tribunal Regional da 5ª Região em Recife, com os seguintes argumentos: a) não há prescrição porque o massacre do Sítio Caldeirão, é um crime de LESA HUMANIDADE, b) os restos das vítimas do Sítio Caldeirão não desapareceram da Chapada do Araripe a exemplo da família do Czar Romanov, que foi morta no ano de 1918 e encontrada nos anos de 1991 e 2007;

A SOS DIREITOS HUMANOS DENUNCIA O BRASIL PERANTE A OEA

A SOS DIREITOS HUMANOS, a exemplo dos familiares das vítimas da GUERRILHA DO ARAGUAIA, denunciou no ano de 2009, o governo brasileiro na Organização dos Estados Americanos – OEA, por violação dos direitos humanos perpetrado contra a comunidade do Sítio Caldeirão.

A “URCA” E A “UFC” PODEM ENCONTRAR A COVA COLETIVA

A Universidade Regional do Cariri – URCA, pelo Laboratório de Pesquisa Paleontológica – LPPU bem como a Universidade Federal do Ceará podem encontrar a cova coletiva, pois têm tecnologia para tal.

COMISSÃO DA VERDADE ATRAVÉS DO PROJETO CORRENTE DO BEM

A SOS DIREITOS HUMANOS pede que todo aquele que se solidarizar com esta luta que repasse esta notícia para o próximo internauta bem como, para seu representante na Câmara municipal, Assembléia Legislativa, Câmara e Senado Federal, solicitando dos mesmos um pronunciamento exigindo que o Governo Federal informe a localização da COVA COLETIVA das vítimas do Sítio Caldeirão.


Paz e Solidariedade,


Dr. OTONIEL AJALA DOURADO
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197 – 8719.8794
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
www.sosdireitoshumanos.org.br

Discurso de Lula na avenida paulista em 2002




Importante reler o discurso de Lula após a vitória  linda e maravilhosa nas eleições de 2002. Lembro-me que choramos (eu e muitos amigos e amigas) de emoção porque vimos a nossa luta de anos pelos nossos ideais ser realizada através da vitoriosa campanha de Lula presidente.

Muitos companheiros não tiveram a oportunidade de ver quantas transformações este país passou nestes últimos anos com a administração petista de Lula da Silva. Companheiros que morreram com o sentimento de dever cumprido, companheiros que morreram com a luz da fé e da esperança de um mundo novo, como os companheiros professores Walquer Cavalcante Maia e Chaguinha.

Foram anos mágicos, de luta, de dor, de angústia, de sonhos e agora vemos como é era simples governar este país para todos: negros, brancos, ricos, homens, mulheres,  pobres e marginalizados. Éramos um país rico de pobre  e a  despeito das grandes transformações ocorridas neste país, continuamos ainda um país rico com uma grande maioria de deserdados de toda a sorte.

No entanto, é imperativo considerar os avanços sociais deste governo e de muitas bandeiras de nossas lutas. Não chegamos a um governo de esquerda  e socialista de fato, mas chegamos, a despeito da oposição midiática e das forças conservadoras e de outras forças ocultas, a governo que criasse mais oportunidades para os menos favorecidos e com " menos sorte".

O Brasil que entra que na próxima década (de 2011 a 2021) é um Brasil com grandes expectativas de cristalizar as grandes mudanças ocorridas na primeira década deste século. O ano de 2010 deverá ser o ano em que as colheitas deverão ser grandes, a julgar pelas lutas deste glorioso povo brasileiro.

O ano de 2010 deverá ser o ano da esperança, da fé e do firmamento de nossa soberania em um mundo cada vez mais globalizado e cada vez mais com crises espalhadas pelo mundo. Algumas economias ainda sofrerão consequências das graves crises financeiras do ano passado, mas o Brasil caminha com passos gigantes para se transformar em uma grande nação no e do século XXI. Na verdade, o Brasil apenas estará ocupando o seu espaço de protagonista no mundo, por ser gigante pela própria natureza, por ter todas as possibilidades para se constituir em um Nação democrática e de todos os brasileiros.

Agora, é preciso eleger Dilma, representante legítima da continuidade do governo de todos e para todos.


Que 2010 seja um ano de paz, de saúde e muita prosperidade para todos. Que Jesus Cristo em sua misericórdia possa nos abençoar sempre. 

Vamos lembrar do discurso do Lula em 2002 na Avenida Paulista diante dos seus companheiros.

 Lula

"Meus queridos e queridas companheiros, vocês devem saber como que está minha cabeça e como é que está o meu coração. Eu queria dizer para vocês que o que nós fizemos até agora foi mais fácil do que o que nós temos para fazer daqui para frente.

Olha, eu queria dizer algumas palavras para vocês. Primeiro, eu queria pedir uma salva de palmas, uma salva de palmas para todos os companheiros que não conseguiram se eleger nesta campanha, mas que têm a mesma importância daqueles que se elegeram. É porque, normalmente, a gente só lembra de quem ganha e eu acho que é importante lembrar que nós somos o resultado da somatória de todos. Mesmo aquele que teve um pouquinho de votos merece de nós a mesma consideração e o mesmo respeito porque sem eles outros não seriam eleitos neste País.

Gostaria de dizer para vocês que foi uma jornada muito dura e que eu não chegaria aqui se não fosse a garra de vocês, a competência de vocês e a credibilidade que vocês depositaram em mim. Eu, hoje, estava lembrando quando fui votar, enquanto os companheiros e companheiras que começaram junto conosco esta luta e que já não estão mais no nosso meio, eu lembrava do meu querido companheiro Sérgio Buarque de Holanda, pai do Chico Buarque, fundador do nosso partido.

Eu lembrava da figura extraordinária de Mário Pedrosa, que também começou junto conosco esta luta. Eu lembrava da extraordinária figura do nosso querido companheiro Henfil. Eu lembrava da extraordinária figura do mais importante educador deste País, o nosso querido Paulo Freire. Eu lembrava do querido Betinho. Eu lembrava do Santo Dias. Eu lembrava do meu companheiro Júlio de Grammond, assessor de imprensa que morreu depois da campanha de 98. Da Bete, minha secretária... Minha cabeça foi virando um parafuso de tantas pessoas que eu lembrei, que iam ficando para trás e que não chegaram até onde nós chegamos.

Eu lembro do companheiro Chico Mendes. Eu lembro do companheiro que desde 89 esteve comigo, o nosso querido João Amazonas, presidente do PCdoB. Aí eu lembro do nosso querido e saudoso Carlito Maia. Nestes últimos dois dias, nós perdemos dois companheiros: um foi comprar material na lojinha do PT pra fazer boca-de-urna e teve um enfarto fulminante dentro do carro levando material. O outro, o companheiro Cabeção, metalúrgico da Ford, desempregado, tava fazendo a passeata do Genoino quando passou mal e morreu.

Agora, eu lembro da minha mãe que tinha medo que eu entrasse no Sindicato com medo de eu ser preso. Ela morreu e eu estava preso e ela não sabia que eu estava preso. Essas pessoas que morreram e que não conseguiram chegar junto conosco até agora, pode ter certeza, que estão lá em cima olhando pra nós, rindo de alegria, porque nós conseguimos construir os sonhos de algumas gerações. Mas, eu não poderia deixar de agradecer aos companheiros Celso Daniel e Toninho de Campinas, que morreram mais recentemente.

Agora, eu não poderia deixar de agradecer o inestimável serviço que esse companheiro prestou nesta campanha. Que a sua esposa, que a minha esposa prestaram nesta campanha. O trabalho fantástico do companheiro Palocci como coordenador de programa de governo, o nosso querido prefeito de Ribeirão Preto, do companheiro Zé Dirceu e da executiva do meu partido que desta vez se preparou para ganhar as eleições. Quero agradecer à direção do PCdoB, quero agradecer à direção do PL, do PMN, do PCB. Quero agradecer os apoios dos companheiros do PMDB, representado uma grande parte dos companheiros do MR8.

Quero agradecer o Movimento Sindical Brasileiro, que se engajou nesta campanha. Quero agradecer aos estudantes brasileiros. Quero agradecer às mulheres e aos homens deste País que fizeram com que a esperança derrotasse o medo nesta campanha de 2002. Eu quero aproveitar para agradecer os companheiros que disputaram o segundo turno, o primeiro turno e que não conseguiram chegar lá e que me apoiaram no segundo turno. Os companheiros do PPS, os companheiros do PSD e outros companheiros que pelo Brasil afora assumiram a nossa campanha.

Eu estava dizendo a vocês que até agora as coisas foram fáceis. O difícil vai começar agora. Eu sempre comparo a política com o casamento. Quando a gente está apaixonado, que a gente quer casar, a gente senta com a nossa namorada e fica alimentando os nossos sonhos, discutindo o quê que a gente pode fazer. E a gente casa. E nem sempre o que a gente quis fazer a gente consegue fazer com a rapidez que a gente imaginava fazer.

Vocês sabem que o nosso País vive uma crise, mas sabem também que a nossa vitória é a concretização da esperança que nós acumulamos durante muitos e muitos anos neste País. Eu quero que vocês saibam que Zé Alencar e eu, e o governo que nós vamos montar, nós vamos trabalhar 24 horas por dia, de domingo a domingo para que a gente possa cumprir cada coisa que nós prometemos nesta campanha.

Qualquer governante deste País pode ganhar as eleições e não cumprir aquilo que prometeu porque é mais um e o povo já sabe. Nós não podemos. Primeiro, porque a expectativa que nós geramos na sociedade é muito grande. Segundo, porque vocês carregam na consciência de vocês a idéia de que somente nós poderemos fazer pelo Brasil o que o Brasil precisa que seja feito. Somente nós seremos capazes de garantir uma efetiva educação de qualidade do ensino fundamental à universidade brasileira. Somente nós iremos fazer a reforma agrária tão sonhada por milhões e milhões de brasileiros. Somente nós iremos garantir a saúde como um direito de todos e não como privilégio de quem pode pagar um plano médico.

Nós precisamos garantir que cada homem ou que cada mulher, por mais pobre que seja, tenha o direito de tomar café de manhã, almoçar e jantar todo santo dia. Nós temos que garantir às pessoas o direito de morar. Nós temos que garantir às pessoas o direito de conquistar a sua cidadania. Eu quero olhar na cara de cada um de vocês e vocês olharem na minha cara e dizer pra todos nós "nós vencemos as eleições, agora, nós vamos governar não para aqueles que votaram apenas. Nós temos que governar para 175 milhões de brasileiros".

E eu quero que vocês saibam que minha mãe dizia... minha mãe nasceu e morreu analfabeta e a minha mãe dizia "meu filho, a única coisa que o homem não pode perder é o direito de andar de cabeça erguida e olhar nos olhos das pessoas com quem está conversando". Eu quero dizer pra vocês, eu jamais, jamais, deixarei de andar de cabeça erguida diante do povo brasileiro... Porque irei dormir todo santo dia com a consciência tranqüila de que cumpri o meu dever. Vamos andar por este País afora, vamos visitar cada região deste País e vamos provar. Já vencemos todos os preconceitos que tinham contra nós. Primeiro, era o medo da bandeira vermelha, depois, era o medo da barba, depois, era o medo de uma série de coisas. E agora, a maioria do povo me deu a oportunidade de provar que um torneiro mecânico junto com um empresário vão poder fazer por este País aquilo que durante anos a elite brasileira não conseguiu construir.

Eu quero, meus amigos e minhas amigas, dizer para vocês que não trairei um só momento a confiança que vocês confiaram no PT e em mim. Aconteça o que acontecer, vocês serão a minha referência. Se um dia eu cometer um erro, pode ficar certo que eu não terei nenhuma dúvida de ir pra televisão pedir desculpas ao meu povo pelo o que eu errei. Mas, quero dizer para vocês que vou fazer o esforço maior que um ser humano pode fazer para que a gente possa fazer o nosso povo voltar a sorrir. Devolver a alegria, devolver a esperança, fazer a economia voltar a crescer, gerar a riqueza para gerar os empregos que tanta gente precisa neste País.

Eu quero terminar, porque, aos 57 anos, o coração vai ficando mais cansado. E eu quero dizer pra vocês muito obrigado, muito obrigado, muito obrigado por vocês existirem porque sem vocês eu não seria ninguém e não não teria chegado aonde cheguei. Muito obrigado por depositarem a confiança em nós. Muito obrigado por terem votado em nós e tenha a certeza que nós continuaremos sendo as mesmas pessoas que nós fomos até agora. Cada vez que eu encontrar com um de vocês, eu quero ter o prazer de olhar no olho de vocês e dizer pra vocês "estamos fazendo aquilo que vocês esperavam que nós fizéssemos".

Que Deus abençoe cada um de nós, que Deus abençoe cada um de vocês e que Deus nos dê saúde e coragem pra gente mudar a história do Brasil e fazer este País ser mais feliz e o nosso povo viver com muito mais dignidade.

Eu quero terminar falando pro Genoino. Eu já disputei muitas eleições, mas nunca disputei uma tendo um companheiro candidato majoritário com uma alegria que esse homem tinha 24 horas por dia. Eu falei pro Genoino: "Genoino, você não perdeu as eleições. Você saiu desta eleição altamente vitorioso. Porque você provou, Genoino, você provou que o PT não é mais um partido de 10% de voto, você elevou nosso partido a 41% dos votos neste Estado de São Paulo. E eu não tenho dúvida nenhuma, Genoino, que você, nesta disputa, só engrandeceu o povo de São Paulo. Você pode estar certo, meu caro, que você ainda vai dar muita alegria as esses milhões e milhões de brasileiros que de São Paulo depositaram... Você é novo ainda, você é novo... Você não tem nem 50 anos como eu tenho. Eu já perdi três vezes, não baixei a cabeça e ganhei. Você não tem que baixar a cabeça e pode ganhar outras eleições neste País".

Gente, muito obrigado. Boa festa para vocês e até amanhã porque amanhã é dia de começar a trabalhar. Um abraço."

Homens que fizeram história neste país - Carlos Marighella




Fundador e dirigente nacional da Ação Libertadora Nacional (ALN).

Depoimento de Clara Charf e editores de “Escritos de Carlos Marighela”, Editorial Livramento, 1979:

“O comandante Carlos Marighella dedicou toda sua vida à causa da libertação dos povos. Com quarenta anos de militância, iniciada no Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi assassinado pela ditadura militar em 1969, aos 57 anos.

Filho de negra e imigrante italiano, Augusto Marighella e Marialva Nascimento Marighella, nasceu em Salvador, Bahia, a 5 de dezembro de 1911. Ainda adolescente despertou para as lutas sociais. Aos 18 anos iniciou curso de Engenharia na Escola Politécnica da Bahia e começou a militar no PCB.

Conheceu a prisão em 1932. Poeta, pagou com a liberdade poema crítico dedicado ao interventor Juracy Magalhães. A militância levou-o a interromper os estudos universitários no terceiro ano.

As Torturas

Em 1935 mudou-se para o Rio. Já fazia parte da Comissão Especial do Comitê Central e era o responsável por todo o trabalho de imprensa e divulgação do Partido. A 1° de Maio de 1936 era novamente preso. Durante 23 dias enfrentou as torturas da Polícia Especial de Filinto Müller. Um ano depois foi libertado e mudou-se para São Paulo. Com 26 anos tornava-se membro do Comitê Estadual de São Paulo.

Sua atividade política, então, se concentrava em torno de dois eixos: a reorganização dos revolucionários paulistas, duramente atingidos pela repressão e o combate ao terror imposto pela ditadura de Getúlio.

Em 1939 voltou aos cárceres. Diante das torturas, renovou seu exemplo de resistência e determinação. O revolucionário, testado diante da violência dos interrogatórios, foi agora submetido a outro tipo de tortura: o cárcere prolongado, o isolamento na ilha de Fernando de Noronha. Sua terceira prisão durou seis anos. Mas não conseguiu abater seu ânimo. Trabalhou duro na educação cultural e política de seus companheiros de cárcere.

Constituinte de 46

Em 1945, conquistada a anistia, voltou à liberdade. Sua capacidade de organização e liderança e seu prestígio público o elegeram deputado à Assembléia Nacional Constituinte de 1946. Representando o Estado da Bahia, proferiu em menos de dois anos 195 discursos, denúncias das condições de vida do povo, da crescente penetração imperialista no país e em defesa de aspirações operárias.

A legalidade democrática e a liberdade partidária duraram pouco. Em 1948, cassado, voltou à clandestinidade. Desta vez pelo resto da vida. As restrições de segurança, no entanto, não o impediram de participar ativamente de todas as lutas políticas da década de 50: a defesa do monopólio estatal do petróleo, contra o envio de soldados brasileiros à Coréia, contra a desnacionalização do ensino e de toda a economia.

Em 1952 passou a integrar a Comissão Executiva do Comitê Central, e, no ano seguinte, foi enviado à China. Durante mais de um ano estudou a experiência da Revolução Chinesa.

Teoria e Rompimento

No Brasil suas atenções cada vez mais se voltaram para o campo. Em 1958, o n° 1 da revista ‘Estudos Sociais’ publicou um ensaio de Marighella intitulado ‘Alguns Aspectos da Renda da Terra no Brasil’. Neste trabalho ele deu uma significativa contribuição ao estudo da questão agrária em nosso País, particularmente em relação às culturas do café, cana de açúcar e algodão.

O início da ruptura de Marighella com a ortodoxia do PCB se manifestou a partir de 1962. Por ocasião da renúncia de Jânio Quadros ele teceu duras críticas à postura do Partido. O golpe militar de 1964 também é um marco neste distanciamento. A esquerda de modo geral, e o PCB, principalmente, estavam completamente despreparados para a resistência.

Marighella aprofundou suas críticas à orientação oficial do Partido. Poucas semanas após o golpe, no dia 9 de maio, foi localizado num cinema da Tijuca, no Rio, e preso. Embora baleado, à queima-roupa, repetiu a postura de altivez das prisões anteriores. Fez de sua defesa um ataque aos crimes da ditadura.

A mobilização política forçou os generais a aceitarem a concessão de um habeas-corpus que novamente lhe deu a liberdade. O episódio resultou em um pequeno livro ‘Porque resisti à prisão’. Escrito em 18 capítulos, os 12 primeiros são um relato minucioso do fato. Os seis últimos, no entanto, são pura lenha na fogueira da luta interna então em curso dentro do PCB.

Em 1966 escreveu ‘A Crise Brasileira’, uma importante contribuição teórica. Ali, o dirigente analisou a fundo a sociedade brasileira e denunciou as ilusões do PCB quanto aos processos eleitorais e sua política de alianças com a burguesia.

Neste documento, ele destaca a importância do trabalho junto aos operários e camponeses e a necessidade da luta armada popular como caminho para a derrubada da ditadura e para a instalação de um Governo Popular Revolucionário.

Marighella caminhava rapidamente para uma ruptura definitiva com a direção do PCB. Em dezembro do mesmo ano apresentou sua carta-renúncia à Comissão Executiva do PCB, mas permaneceu à frente do Comitê Estadual de São Paulo.

Em outros documentos, de meados de 1967 (‘Crítica às Teses do Comitê Central’ e ‘Ecletismo e Marxismo’) o dirigente contrapôs-se ao conjunto de teses baixado pela direção partidária em preparação ao VI Congresso.

Em Havana

Seu passo seguinte, em aberta desobediência à direção do PCB, resultou em rompimento definitivo com o Partido. Em agosto de 1967, os comunistas cubanos promoveram em Havana a 1ª Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (Olas). Ao lado de revolucionários de todo o continente, entre eles Chê Guevara, Marighella empunha a bandeira da luta armada como caminho da libertação dos povos da América Latina.

Expulso do PCB, ainda em Cuba, publicou ‘Algumas Questões sobre a Guerrilha no Brasil’ onde declara sua adesão às teses da Olas, mas rebate a teoria do ‘foco guerrilheiro’ amplamente difundida entre os revolucionários latino-americanos. Para ele a luta armada no Brasil tomaria necessariamente contornos próprios.

A rebeldia de Marighella repercutiu profundamente dentro do PCB. Dos 37 delegados, escolhidos como representantes das bases do PCB em São Paulo à Conferência Estadual realizada em maio de 1967, em Campinas, nada menos de 33 se alinharam às teses defendidas por ele. A maior parte das bases operárias e o setor estudantil do Partido romperam com o Comitê Central e se aproximaram de Marighella, enquanto em outros estados outras dissidências se processaram.

Surgimento da ALN

Em fevereiro de 1968, em documento intitulado ‘Pronunciamento do Agrupamento Comunista de São Paulo’, Marighella expôs os motivos do rompimento com o PCB e anunciou o surgimento de uma organização disposta a dar início imediatamente às ações políticas armadas. A organização foi batizada de ALN – Ação Libertadora Nacional – com a intenção de resgatar o espírito revolucionário da ANL – Aliança Nacional Libertadora – responsável pela Insurreição Armada de novembro de 1935, comandada por Luís Carlos Prestes. Com sua presença pessoal, e sob seu comando e de Joaquim Câmara Ferreira a ALN deflagrou, já em 1968, as primeiras operações de guerrilha urbana no Brasil.

A resistência armada à ditadura, que teve em Marighella uma de suas mais importantes lideranças, rapidamente se espraiou por todo o País. Jovens e velhos militantes abraçaram com entusiasmo esse exemplo de rebeldia. Os revolucionários brasileiros, naquele final de década, irmanavam-se ao espírito de rebelião que incendiava toda a América Latina e alimentava as lutas de libertação anticolonialistas na Indochina e na África.

Ameaçados pelo potencial de explosão dos problemas sociais brasileiros, os generais fascistas revelaram novamente suas garras reagindo com o terror e a tortura. Na noite de 4 de novembro de 1969, Carlos Marighella foi surpreendido por uma emboscada na Alameda Casa Branca, em São Paulo.

A Emboscada

Marighella estava sozinho. Sequer teve tempo de empunhar a arma que trazia dentro da pasta. A fuzilaria desferida pelos policiais comandados pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury fez duas outras vítimas fatais: o dentista Friederich Adolph Rohmann e a própria agente policial Stela Borges Morato.

O “violento tiroteio” referido na nota oficial que comunicou sua morte não passou de uma desordenada troca de tiros entre os próprios policiais.

O laudo da necrópsia foi assinado pelo médico legista Harry Shibata, do IML/SP. Também participaram do assassinato de Marighella os delegados Raul Ferreira, Rubens Tucunduva, Ivahir de Freitas Garcia (ex-deputado), Edsel Magnotti, Firminiano Pacheco, Roberto Guimarães e um último conhecido pelo nome de Rosseti. Enterrado como indigente no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, seus restos mortais foram trasladados para a Bahia em 1980.

Herança

A morte de Marighella, no entanto, não significou o fim da ALN. Câmara Ferreira e outros companheiros levariam a ALN adiante. Do revolucionário baiano ficaram as idéias e o testemunho de uma vida dedicada inteiramente à luta pela libertação nacional e pela causa do socialismo.

Depoimento dos editores de ‘Escritos de Carlos Marighella’, de dezembro de 1979, dez anos após sua morte, apontava a figura deste revolucionário como ainda ‘envolta por paixões que vão do ódio declarado à veneração acrítica’. Só no futuro, advertem eles, ‘será possível compreender com mais objetividade seu papel, da mesma forma que, é lícito lembrar, figuras históricas como Tiradentes e Frei Caneca não foram compreendidas no seu tempo, em sua magnitude exata.”


Inimigo nº 1 há 40 anos, o baiano Marighella é homenageado como herói na Câmara de São Paulo


Haroldo Ceravolo Sereza

Do UOL Notícias 05/11/2009

Em São Paulo

Sentados um ao lado do outro, o chefe de gabinete do governador tucano José Serra, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), e o ex-presidente do PT José Dirceu. Mas a mesa da cerimônia que concedeu o título de cidadão paulistano a Carlos Marighella, na noite desta quarta-feira (4), contava com representantes de vários outros movimentos políticos e sociais.


Lula chama Marighella de herói

O título é relevante menos pela pompa do que por significar uma mudança na forma como Marighella é compreendido pela cidade na qual foi morto, em 1969, numa ação policial - a responsabilidade do Estado por sua morte foi reconhecida em 1996 pela Comissão de Anistia do governo federal.


Inimigo nº 1 do regime militar há 40 anos, o baiano Marighella recebeu tratamento de herói na sessão solene, depois que o decreto legislativo que lhe concedeu o título de cidadão paulistano foi aprovado sem resistência, por unanimidade, nas comissões e no plenário da casa.


Pego de surpresa - o combinado era que não falasse -, o crítico literário Antonio Candido, 91, subiu à tribuna e discursou: "Marighella entrou para a história." Sua figura, avalia, desprendeu-se das posições que tomou durante sua militância.

Para Candido, dessa forma, deixou de representar a liderança deste ou daquele grupo, para se tornar a imagem de "um brasileiro que transcendeu as contingências e é herói da nossa história".


Marighella era o líder da Ação Libertadora Nacional quando, numa emboscada armada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, foi assassinado pelas forças policiais, em 4 de novembro de 1969.


Aloysio Nunes Ferreira, que foi integrante do grupo, não falou durante a cerimônia, mas citou Antonio Candido, ao final do evento, para afirmar que Marighella simboliza a "rebelião contra a tirania".


Carlos Marighella nasceu em Salvador (BA). Sua primeira prisão ocorreu em 1932, quando, militante do Partido Comunista, escreveu um poema com críticas ao interventor no Estado, Juracy Magalhães.


Ao sair da prisão, mudou-se para o Rio. Em 1936, voltou a ser preso, numa manifestação de 1º de maio. Voltaria a ser preso durante o Estado Novo, em 1939. Com o fim da Segunda Guerra e a redemocratização do país, foi eleito deputado federal - os comunistas liderados por Luís Carlos Prestes tiveram uma atuação destacada no pleito.


Outras homenagens a Marighella

No sábado, será aberta, no Memorial da Resistência (Largo General Osório, nº 66, Luz, centro de São Paulo), às 11h, a exposição "40 Anos Marighella Vive". No mesmo horário, será lançado o livro "Carlos, a face oculta de Marighella", de Edson Teixeira. Às 13h, será apresentada no memorial a peça "O Amargo Santo da Purificação", com textos extraídos dos escritos de Marighella.

O PCB seria recolocado na ilegalidade em 1948, durante o governo Dutra (1946-1950), e seu mandato foi cassado. Marighella seguiu millitando no PCB e, nos primeiros meses da ditadura militar, chegou a ser baleado, ao resistir à prisão.


Em 1967, após uma viagem clandestina a Cuba, rompe com o PCB. Viaja pelo país para organizar a ALN, que organiza ações de guerrilha urbana. É a ALN que executa, junto com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), sob o comando de Joaquim Câmara Ferreira, o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, a ação de maior repercussão internacional da resistência armada à ditadura militar brasileira.


Marighella também é autor de alguns livros, entre eles o "Minimanual do guerrilheiro urbano".


Clara Charf, companheira de Marighella, afirmou que Marighella, filho de mãe negra e pai imigrante, foi extremamente "anti-racista e feminista", "quando ainda não se usava essa palavra".

"Quando mataram Marighella", disse o presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, "queriam matar o socialismo, a crença na justiça social e na igualdade". "Quiseram também que o esquecêssemos, o estigmatizaram como inimigo do povo."


O filho de Carlos Marighella, Carlos Augusto Marighella, lembrou o dia em que recebeu, via telefoto, um sistema de transmissão analógica, a imagem do pai morto, que foi reconhecendo aos poucos.


O pai foi enterrado, contrariando pedido da família, antes que ele chegasse, partindo de São Paulo, a Salvador. Só dez anos mais tarde, com a anistia, em 1979, o corpo foi transladado e ganhou um túmulo em Salvador.


Carlos Marighella: mulato, baiano, comunista, brasileiro


Os 40 anos passados desde sua morte na luta revolucionária de resistência à ditadura, só multiplicaram a imagem de Carlos Marighella, como dirigente revolucionário brasileiro e latinoamericano. Identificado com os projetos revolucionários de libertação da América Latina desde a década de 30, teve um protagonismo central nos momentos mais difíceis vividos pelo PCB depois do golpe de 1964, quando debateu as razões do golpe e os novos horizontes de luta da esquerda brasileira. O artigo é de Emir Sader, no Especial Marighella, produzido pela Carta Maior.


Emir Sader


Carlos é o protótipo do brasileiro. Amado na sua Bahia, com quem o povo baiano se identifica, como se identifica com Caimmy, com a Menininha do Gantuá, com tudo o que é expressão genuína daquelas terras tão brasileiras.


Filho de uma negra escrava, Maria Rita, linda, com pai de origem italiana, Augusto, Carlos é uma das expressões mais genuínas da mestiçagem do povo brasileiro. As conversas com os vizinhos da casa modesta onde nasceu e cresceu, em Salvador, as fotos com os colegas de escola, com os amigos, revelam o mulato sestroso, conversador, gentil, sensível, típico dos bairros populares da velha São Salvador.


Como quem chegou à adolescencia naqueles anos-chave da década de 30, Carlos se identificou profundamente com os projetos revolucionarios da década, antes de tudo com a lideranca de Prestes no PCB, depois da aventura extraordinaria da Coluna. Viveu Carlos aí a primeira grande experiência, que o marcaria pelo resto da vida, consolidando nele a opção revolucionária.


Não protagonizou com sua participação os grandes debates no seio do PC ao longo das décadas seguintes. Seu protagonismo ficou reservado para os momentos mais difíceis vividos pelo Partido, logo depois do golpe de 1964. Já sua resistência à prisao na Cinelândia, no Rio, poucos días depois do golpe, demonstrava a atitude de rebeldia e de resistência que Carlos imprimiria à sua atitude e à que convocava aos brasileiros.


Dessa vez Carlos foi o principal protagonista dos debates internos do PCB, sobre as razões do golpe e os novos horizontes de luta da esquerda brasileira. Ele se identificou de forma direta com a dinâmica proposta pela Revolução Cubana, que aparecia como uma alternativa real para os países em que as elites dominantes apelavam para a ditadura, diante das ameaças dos movimentos populares, optando pelo projeto norteamericano da Doutrina de Segurança Nacional.

Carlos conclamou a resistência a aderir ao projeto da luta armada, sob a forma da guerra de guerrilhas, rompendo assim com o PCB e fundando a ALN. Junto com a VPR, dirigida por Carlos Lamarca, protagonizaram a versão mais radical da resistência clandestina à ditadura militar, de que o espetacular sequestro do embaixador dos EUA – com a libertação de 15 militantes da resistência e a leitura de declaração contra a ditadura em cadeia nacional de rádio e televisão – foi uma de suas mais expressivas manifestações.


Os 40 anos passados desde sua morte na luta revolucionária de resistência à ditadura, só multiplicaram a imagem de Carlos, como dirigente revolucionário brasileiro e latinoamericano. Carlos, mulato, baiano, comunista, brasileiro.

09/11/2009

A Crise Brasileira, de Carlos Marighella


Em "A Crise Brasileira", obra escrita em 1966, Marighella analisa a realidade do Brasil naquele momento e evidencia suas divergências em relação às teses que vinham sendo adotadas pelo Partido Comunista Brasileiro. Essas divergências levariam ao seu rompimento definitivo com o partido no ano seguinte e a sua opção pela luta armada de resistência à ditadura militar. Para Marighella, as elites brasileiras já tinham mostrado seu fracasso e uma estratégia revolucionária deveria levar em conta a separação entre o partido do proletariado e os partidos da burguesia.


Edileuza Pimenta de Lima (*)


"Sempre que houve avanço, conquista de direitos sociais e progresso, combate ao imperialismo e ao latifúndio, isto se deveu preponderantemente à presença atuante do proletariado".
 
Essa frase está contida em A Crise Brasileira, obra escrita por Carlos Marighella em 1966 que, além de analisar, à luz da teoria marxista-leninista, a realidade do país naquele momento, evidencia suas divergências em relação às teses que vinham sendo adotadas pelo Partido Comunista Brasileiro.

Essas divergências levariam ao seu rompimento definitivo com o partido no ano seguinte e a sua opção pela luta armada de resistência à ditadura militar. Marighella fundou a Ação Libertadora Nacional, que congregava mais do que comunistas oriundos do PCB, contava também com pessoas de diferentes matrizes ideológicas, objetivando, antes de implantar o socialismo, derrubar a ditadura e instituir um governo antiimperialista, anti-latifundiário, nacional e democrático.

Ao defender a luta armada de libertação nacional, Marighella falava do perigo de os marxistas, seguindo uma estratégia norteada pelo caminho pacífico, "ajudarem a transformar o Brasil num país social democrático, exercendo em nome dos Estados Unidos o papel de freio do movimento de libertação da América Latina" . Ele não poderia ser mais atual, pois, se tivesse sobrevivido à sanha assassina do regime instaurado a partir do golpe civil-militar de 1964, Marighella analisaria o fenômeno recente da guinada à esquerda da América Latina, por meio da ascensão do nacionalismo revolucionário em países como Venezuela e Bolívia, criticando o modelo brasileiro que, apesar de todas as condições objetivas (com destaque para a eleição de um presidente operário) não consegue avançar politicamente em direção ao programa que ele preconizava para o Brasil:

"governo revolucionário do povo, expulsão dos norte-americanos, expropriação do seu capital e dos que com eles colaboram, expropriação do latifúndio, libertação e valorização do homem brasileiro pelo caminho socialista" .


Se em 1967 Marighella aderiu à Organização Latino-Americana de Solidariedade, hoje suas idéias poderiam contemplar aos adeptos da Alternativa Bolivariana para as Américas, pois, segundo enunciou em outro documento, o Chamamento ao Povo Brasileiro, de dezembro de 1968, entre algumas das medidas populares previstas para serem executadas com a vitória da revolução, estaria a seguinte: "tornaremos efetivo o monopólio estatal das finanças, comércio exterior, riquezas minerais, comunicações e serviços fundamentais" , plataforma que vem sendo posta em prática nos países da ALBA a despeito de toda a reação que vem despertando.


Em A Crise Brasileira, Carlos Marighella considerava que "a aliança dos proletários com os camponeses é a pedra de toque da revolução brasileira" e tinha uma preocupação especial com a questão da reforma agrária, tema que está na ordem do dia. Além defender o fim do latifúndio, Marighella sugeria como forma de luta "invadir as terras devolutas e as terras loteadas pelos fazendeiros ou grandes companhias agrícolas" , posição por ele evidenciada em outro documento, Alocução sobre a guerrilha rural, de outubro de 1969, no qual percebe-se que Marighella radicalizou seu programa para o campo após o aborto da tentativa de implantação das reformas de base, passando a defender, por exemplo, que "as plantações dos fazendeiros devem ser queimadas, o gado dos grandes pecuaristas, dos frigoríficos e das invernadas deve ser expropriado e abatido para matar a fome dos camponeses" .


Após 40 anos de sua morte, o pensamento de Carlos Marighella permanece vivo. Há décadas ele dizia que as elites brasileiras já tinham mostrado seu fracasso, e que uma estratégia revolucionária deveria levar em conta a separação entre o partido do proletariado e os partidos da burguesia. É justamente isso o que falta ao país. Marighella sempre soube que "o segredo da vitória é o povo" .


(*) Nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de novembro de 1984. É mestre em História Social pela UFRJ, estuda a Ação Libertadora Nacional e é co-autora da biografia "Virgilio Gomes da Silva: De retirante a guerrilheiro".

09/11/2009