Imprensa mundial humilha a mídia nativa
Montagem: Jornalistas Livres
Por Altamiro Borges
A exemplo do que ocorreu no processo do impeachment de Dilma Rousseff, deflagrado em abril do ano passado por uma “assembleia de bandidos chefiada por um bandido” [Eduardo Cunha] – segundo a síntese de um jornal português –, a imprensa mundial voltou a dar um baile na mídia brasileira na cobertura da greve geral desta sexta-feira (28). Enquanto o noticiário local insistia em afirmar que a paralisação “foi um fracasso” e exibia apenas cenas de violência, visando criminalizar o movimento, os veículos estrangeiros não vacilaram em reconhecer que a greve geral foi um sucesso e poderá atrapalhar os planos regressivos do Judas Michel Temer. Como nos tempos da ditadura militar, para entender o que ocorre no Brasil hoje é melhor acompanhar a imprensa internacional.
O jornal estadunidense The New York Times, por exemplo, publicou longa reportagem com o título “O Brasil se mobiliza contra a austeridade”. O veículo, que já serviu de bíblia para a mídia nativa, afirma que a greve foi nacional e paralisou transportes, bancos, fábricas e escolas. Já o alemão Deutsche Welle afirma em sua manchete que “Brasileiros se mobilizam pela democracia” e lembra que a última greve geral no Brasil ocorreu em 1996, no governo FHC. O veículo explica que o protesto foi as reformas propostas “pelo governo conservador do presidente Michel Temer”. Já o espanhol El País estampa no título: “Greve geral desafia as reformas do governo brasileiro". O francês Le Monde destaca: “Greve histórica”. A rede britânica BBC registra: “Primeira greve geral em duas décadas”. Até o conservador Clarín, da Argentina, foi mais honesto do que os jornais nativos.
O jornalista brasileiro Flávio Aguiar, que atualmente reside na Alemanha, relata que “a repercussão mundial foi enorme... A mídia mundial reconheceu: uma greve enorme sacudiu o Brasil de norte a sul, de leste a oeste”. Até o colunista Nelson de Sá, da Folha, confirmou que a cobertura da imprensa estrangeira foi diferenciada. Ele destacou as matérias de dois veículos dos EUA. "No New York Times, ‘Brasil é tomado por greve geral contra medidas de austeridade’. Segundo o jornal, ‘a capacidade das centrais sindicais de organizar a greve refletiu a ampla insatisfação com Temer’... No Wall Street Journal, ‘Greve geral e manifestações rompem transporte no Brasil’. Segundo o jornal, ‘Temer já enfrenta resistência no Congresso à impopular reforma previdenciária, e a greve pode tornar a aprovação mais difícil ainda’”. Ele também citou outros veículos internacionais:
“Na agência chinesa Xinhua, ‘Lula afirma que greve geral no Brasil foi um 'sucesso completo'... Na agência americana Associated Press, ‘Greve para grande parte do Brasil para protestar contra leis trabalhista e previdenciária’... O correspondente no Rio da ZDF, TV pública da Alemanha, Luten Leinhos, destacou ser um movimento ‘contra o presidente Temer’ e que ‘foi apoiado na Igreja Católica também’... O correspondente em São Paulo da BBC, TV pública do Reino Unido, Daniel Gallas, relatou ‘ruas vazias’ na cidade e ouviu de um porta-voz da Igreja Anglicana que ‘oficialmente a igreja tomou a posição de encorajar seus membros a tomar parte desse movimento, porque entende a situação política’”.
TV Globo tenta justificar o antijornalismo
Já no Brasil, a mídia chapa-branca – alimentada com muita grana em publicidade oficial e por outras mutretas – fez de tudo para invisibilizar os preparativos do protesto e, no dia, acionou seus holofotes para destacar as cenas de violência. As manchetes dos jornalões neste sábado (29) refletem a visão reacionária dos barões da mídia. “Temer lamenta bloqueios e reafirma que fará as reformas" (O Globo); “Manifestação contra reformas afeta as grandes cidades e termina em violência” (Estadão). “Greve atinge transportes e escolas em dia de confronto” (Folha). Nas emissoras de televisão, que desinformam e manipulam milhões de lares brasileiros, a cobertura foi ainda mais grotesca. Como concessões públicas, elas até mereciam a abertura de processo pelo crime de censura e atentado à liberdade de expressão.
Há boatos de que a TV Globo deu ordens aos seus repórteres para não usarem o termo “greve geral” e focarem a cobertura nas cenas de vandalismo – muitas delas patrocinadas por agentes infiltrados da própria polícia. Durante a manhã de sexta-feira, os telejornais da emissora até pareciam agências de trânsito, apenas relatando os congestionamentos e transtornos para os passageiros de ônibus, metrô e trem. A cena foi tão grotesca, de negação total que qualquer manual básico de jornalismo, que a TV Globo teve até que se justificar. A marota autocrítica foi registrada pelo blogueiro Mauricio Stycer, do UOL, na matéria intitulada “Após silêncio na véspera, Globo ‘prova’ que cobriu greve com matéria no JN”. Vale conferir sua postagem neste sábado:
*****
Ignorada em seus principais telejornais na véspera, a greve geral ocorrida nesta sexta-feira (28) em todo país mereceu cobertura caprichada da Globo ao longo do dia, em todos os seus noticiários, tantos os locais quanto os nacionais. No ‘Jornal Nacional’, além de variados relatos sobre paralisações em inúmeros Estados, houve uma longa e didática explicação sobre as causas da greve – uma reportagem que poderia muito bem ter sido exibida um dia antes. O mais curioso foi, ao fim da cobertura, a exibição de uma matéria de quase dois minutos mostrando como a própria Globo cobriu a greve geral. ‘Durante todo dia o jornalismo da Rede Globo cobriu as paralisação por todo o Brasil’, anunciou Renata Vasconcellos, mostrando trechos da cobertura exibidos em outros telejornais. Qual a razão disso? A única explicação que me ocorre é a má repercussão que teve o silêncio de quinta-feira. Na véspera, noticiários da Globo ignoram a greve geral de sexta-feira.
*****
Em outro post no dia anterior à greve geral, Mauricio Stycer foi ainda mais incisivo na crítica à cobertura “jornalística” do império global:
*****
Convocada por centrais sindicais, em protesto contra as propostas de reforma trabalhista e da Previdência, uma greve geral tem atos programados nesta sexta-feira (28) em 24 Estados e no Distrito Federal. Sob qualquer ângulo que se olhe o assunto, concorde-se ou não com o movimento, trata-se de notícia de interesse público. Pois os telejornais da Globo ignoraram completamente o tema nesta quinta-feira (27). Nenhuma notícia sobre a convocação da greve, nem sobre os eventuais efeitos que pode causar em áreas de interesse do espectador, como transporte, saúde e educação, foi ao ar.
O “SPTV” segunda edição, que sempre presta serviço aos espectadores em caso de decretação de greves em serviços essenciais, não tratou do protesto que ocorrerá nesta sexta-feira em São Paulo. O principal telejornal da emissora, o “Jornal Nacional”, igualmente ignorou o assunto, apesar de o movimento ter alcance nacional. O blog não conseguiu apurar o que levou a Globo a tomar uma decisão tão drástica. Mas parece claro, nos dias de hoje, com tantas fontes de informação disponíveis, que o silêncio da maior emissora do país faz mais barulho do que qualquer notícia que ela tivesse dado sobre o assunto.
*****
Leia também:
- Globo, marchas golpistas e a greve geral
- Na mídia oficial, a verdade entrou em greve
- Globo faz jornalismo ruim e culpa a greve
- A greve geral e o jabá no Ratinho
- "Vagabundo" não é quem faz greve...
- 'Veja' toma a maior chinelada na greve geral
- Greve geral e a aula de (não) jornalismo
- A greve e o monstro midiático da mentira
- A "operação-mídia" contra a greve
- Cantanhêde e o nome do marido na Lava-Jato Postado por Altamiro Borges às 00:04
Montagem: Jornalistas Livres
Por Altamiro Borges
A exemplo do que ocorreu no processo do impeachment de Dilma Rousseff, deflagrado em abril do ano passado por uma “assembleia de bandidos chefiada por um bandido” [Eduardo Cunha] – segundo a síntese de um jornal português –, a imprensa mundial voltou a dar um baile na mídia brasileira na cobertura da greve geral desta sexta-feira (28). Enquanto o noticiário local insistia em afirmar que a paralisação “foi um fracasso” e exibia apenas cenas de violência, visando criminalizar o movimento, os veículos estrangeiros não vacilaram em reconhecer que a greve geral foi um sucesso e poderá atrapalhar os planos regressivos do Judas Michel Temer. Como nos tempos da ditadura militar, para entender o que ocorre no Brasil hoje é melhor acompanhar a imprensa internacional.
O jornal estadunidense The New York Times, por exemplo, publicou longa reportagem com o título “O Brasil se mobiliza contra a austeridade”. O veículo, que já serviu de bíblia para a mídia nativa, afirma que a greve foi nacional e paralisou transportes, bancos, fábricas e escolas. Já o alemão Deutsche Welle afirma em sua manchete que “Brasileiros se mobilizam pela democracia” e lembra que a última greve geral no Brasil ocorreu em 1996, no governo FHC. O veículo explica que o protesto foi as reformas propostas “pelo governo conservador do presidente Michel Temer”. Já o espanhol El País estampa no título: “Greve geral desafia as reformas do governo brasileiro". O francês Le Monde destaca: “Greve histórica”. A rede britânica BBC registra: “Primeira greve geral em duas décadas”. Até o conservador Clarín, da Argentina, foi mais honesto do que os jornais nativos.
O jornalista brasileiro Flávio Aguiar, que atualmente reside na Alemanha, relata que “a repercussão mundial foi enorme... A mídia mundial reconheceu: uma greve enorme sacudiu o Brasil de norte a sul, de leste a oeste”. Até o colunista Nelson de Sá, da Folha, confirmou que a cobertura da imprensa estrangeira foi diferenciada. Ele destacou as matérias de dois veículos dos EUA. "No New York Times, ‘Brasil é tomado por greve geral contra medidas de austeridade’. Segundo o jornal, ‘a capacidade das centrais sindicais de organizar a greve refletiu a ampla insatisfação com Temer’... No Wall Street Journal, ‘Greve geral e manifestações rompem transporte no Brasil’. Segundo o jornal, ‘Temer já enfrenta resistência no Congresso à impopular reforma previdenciária, e a greve pode tornar a aprovação mais difícil ainda’”. Ele também citou outros veículos internacionais:
“Na agência chinesa Xinhua, ‘Lula afirma que greve geral no Brasil foi um 'sucesso completo'... Na agência americana Associated Press, ‘Greve para grande parte do Brasil para protestar contra leis trabalhista e previdenciária’... O correspondente no Rio da ZDF, TV pública da Alemanha, Luten Leinhos, destacou ser um movimento ‘contra o presidente Temer’ e que ‘foi apoiado na Igreja Católica também’... O correspondente em São Paulo da BBC, TV pública do Reino Unido, Daniel Gallas, relatou ‘ruas vazias’ na cidade e ouviu de um porta-voz da Igreja Anglicana que ‘oficialmente a igreja tomou a posição de encorajar seus membros a tomar parte desse movimento, porque entende a situação política’”.
TV Globo tenta justificar o antijornalismo
Já no Brasil, a mídia chapa-branca – alimentada com muita grana em publicidade oficial e por outras mutretas – fez de tudo para invisibilizar os preparativos do protesto e, no dia, acionou seus holofotes para destacar as cenas de violência. As manchetes dos jornalões neste sábado (29) refletem a visão reacionária dos barões da mídia. “Temer lamenta bloqueios e reafirma que fará as reformas" (O Globo); “Manifestação contra reformas afeta as grandes cidades e termina em violência” (Estadão). “Greve atinge transportes e escolas em dia de confronto” (Folha). Nas emissoras de televisão, que desinformam e manipulam milhões de lares brasileiros, a cobertura foi ainda mais grotesca. Como concessões públicas, elas até mereciam a abertura de processo pelo crime de censura e atentado à liberdade de expressão.
Há boatos de que a TV Globo deu ordens aos seus repórteres para não usarem o termo “greve geral” e focarem a cobertura nas cenas de vandalismo – muitas delas patrocinadas por agentes infiltrados da própria polícia. Durante a manhã de sexta-feira, os telejornais da emissora até pareciam agências de trânsito, apenas relatando os congestionamentos e transtornos para os passageiros de ônibus, metrô e trem. A cena foi tão grotesca, de negação total que qualquer manual básico de jornalismo, que a TV Globo teve até que se justificar. A marota autocrítica foi registrada pelo blogueiro Mauricio Stycer, do UOL, na matéria intitulada “Após silêncio na véspera, Globo ‘prova’ que cobriu greve com matéria no JN”. Vale conferir sua postagem neste sábado:
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Ignorada em seus principais telejornais na véspera, a greve geral ocorrida nesta sexta-feira (28) em todo país mereceu cobertura caprichada da Globo ao longo do dia, em todos os seus noticiários, tantos os locais quanto os nacionais. No ‘Jornal Nacional’, além de variados relatos sobre paralisações em inúmeros Estados, houve uma longa e didática explicação sobre as causas da greve – uma reportagem que poderia muito bem ter sido exibida um dia antes. O mais curioso foi, ao fim da cobertura, a exibição de uma matéria de quase dois minutos mostrando como a própria Globo cobriu a greve geral. ‘Durante todo dia o jornalismo da Rede Globo cobriu as paralisação por todo o Brasil’, anunciou Renata Vasconcellos, mostrando trechos da cobertura exibidos em outros telejornais. Qual a razão disso? A única explicação que me ocorre é a má repercussão que teve o silêncio de quinta-feira. Na véspera, noticiários da Globo ignoram a greve geral de sexta-feira.
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Em outro post no dia anterior à greve geral, Mauricio Stycer foi ainda mais incisivo na crítica à cobertura “jornalística” do império global:
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Convocada por centrais sindicais, em protesto contra as propostas de reforma trabalhista e da Previdência, uma greve geral tem atos programados nesta sexta-feira (28) em 24 Estados e no Distrito Federal. Sob qualquer ângulo que se olhe o assunto, concorde-se ou não com o movimento, trata-se de notícia de interesse público. Pois os telejornais da Globo ignoraram completamente o tema nesta quinta-feira (27). Nenhuma notícia sobre a convocação da greve, nem sobre os eventuais efeitos que pode causar em áreas de interesse do espectador, como transporte, saúde e educação, foi ao ar.
O “SPTV” segunda edição, que sempre presta serviço aos espectadores em caso de decretação de greves em serviços essenciais, não tratou do protesto que ocorrerá nesta sexta-feira em São Paulo. O principal telejornal da emissora, o “Jornal Nacional”, igualmente ignorou o assunto, apesar de o movimento ter alcance nacional. O blog não conseguiu apurar o que levou a Globo a tomar uma decisão tão drástica. Mas parece claro, nos dias de hoje, com tantas fontes de informação disponíveis, que o silêncio da maior emissora do país faz mais barulho do que qualquer notícia que ela tivesse dado sobre o assunto.
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- Cantanhêde e o nome do marido na Lava-Jato Postado por Altamiro Borges às 00:04
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