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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Como se monta uma denúncia na velha mídia

Hoje, Erenice Guerra, Ministra-Chefe da Casa Civil, encaminhou solicitação para ser investigada pela Comissão de Ética do governo. À tarde, constituirá escritório de advocacia para processar a revista Veja e, possivelmente, o lobista Fábio Baracat.
O quebra-cabeças agora consiste em encaixar peças para entender a quem interessava essa denúncia. Do lado da revista, havia o objetivo eleitoral, evidente. Mas e do lado de que denunciou?
Aparentemente, a revista foi enganada por Fábio Baracat, que se apresentou como dono da ViaNet e representante da MTA. A ViaNet já desmentiu o vínculo; assim como Baracat desmentiu a matéria. A MTA ainda não.
Anos atrás, a revista embarcou de cabeça no lobby de uma quadrilha que operava nos Correios ("O araponga e o repórter"). Esse tipo de cumplicidade é recorrente na revista.
Desde que explodiu o escândalo dos Correios, a MTA estava em posição delicada.
Tempos atrás disputou um contrato amplo com os Correios. Ganhou no quesito preço, perdeu no quesito documentação. A desclassificação ocorreu em julho. Entrou com uma liminar no TFR (Tribunal Federal Regional) que acabou trancando a licitação. Enquanto isto, obteve um contrato emergencial, mas que vence em novembro. Novembro, portanto, é sua data fatal.
Pelas informações, seu homem nos Correios era o tal coronel Quá-Quá, que acabou demitido recentemente.
Baracat se apresentava em Brasília como representante da MTA. Pelo que informou na Nota Oficial, tinha planos de, aos poucos, aumentar sua participação na empresa. Acabou gorando. Apresentava-se em Brasília também como representantes de empresas para resolver pendências em órgãos reguladores. Em outros casos, se apresentava como sócio. Enfim, o lobista típico.
Nesse trabalho, contratou o filho de Erenice para um parecer visando resolver pendência de documentos com a ANAC. Contratou-o como se fosse o dono da empresa. Na hora de formalizar o contrato, não conseguiu nem pela MTA nem pela ViaNet. Acabou assinando em nome de outra empresa, chamada de Martel – que acabou formalizando o requerimento na ANAC em dezembro de 2009. O rapaz caiu como um pato no conto do lobista.
A hipótese mais provável é que Baracat tenha procurado a revista para uma matéria em off, visando criar um enorme salseiro. Deve ter dado declarações à vontade para uma publicação que não dispõe de rigor jornalístico, tendo por hábito soltar sem conferir tudo o que lhe cai na mão.
Quando Veja abriu o off e se descobriu rapidamente que Baracat jamais foi dono da ViaNet, o mundo do lobista desabou – e do repórter provavelmente também – e ele se apressou em desmentir as informações.
O curioso, na história, é que a MTA ainda não se manifestou. Não está afastada a hipótese de que ela tenha se valido das ligações da sucursal da Veja com o submundo brasiliense.
Será curioso conferir a tal gravação que o repórter diz possuir. Poderá servir, por muitos anos, de material didático para aulas de jornalismo: como engabelar um jornalista, quando a ideia fixa o faz abandonar princípios comezinhos de checagem de informações.

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