ISTOÉ.
Por que tudo deu certo
Em uma campanha pensada nos mínimos detalhes, Dilma soube aproveitar o desejo de continuidade do eleitor brasileiro, exibiu propostas concretas e surpreendeu aliados e adversários
Adriana Nicacio
DEDICAÇÃO
Dilma seguiu à risca os conselhos dos auxiliares
com experiência em eleições
Dilma Rousseff entrou na disputa presidencial com o aval de um governo muito bem avaliado e do presidente mais popular da história do Brasil. Ainda na fase da pré-campanha, construiu um leque de apoio com uma amplitude jamais obtida pelo PT desde a sua fundação, em 1981. Esses já são ingredientes que poderiam explicar o êxito da campanha. Mas eles não são suficientes para justificar o tamanho da vantagem de Dilma sobre o oposicionista José Serra (PSDB), segundo os dados revelados pelos institutos de pesquisa. O que os especialistas apontam e até os adversários admitem é que Dilma surpreendeu. Os tucanos esperavam encontrar uma adversária frágil quando distante do presidente Lula, dona de um temperamento explosivo que não resistiria a provocações e, acima de tudo, despreparada para o debate. Mas não foi nada disso que Dilma transmitiu durante a campanha. Além de todos esses ingredientes, ela apresentou-se para o eleitorado enumerando propostas concretas para os próximos anos, trouxe uma mensagem de continuidade e se contrapôs a uma candidatura oposicionista incapaz de apresentar projetos para as diversas áreas do governo.
Os acertos começaram durante a escolha da equipe no período da pré-campanha. Apesar da inegável influência de Lula e do PT na montagem, Dilma sempre teve voz ativa na escolha de assessores e auxiliares. Com o aval da ex-ministra da Casa Civil, o marqueteiro de Lula, João Santana, foi convocado para produzir o programa eleitoral, considerado impecável. “Eles valorizaram bem o fato de Dilma ser a espinha dorsal do governo Lula. Como analista, não vejo nenhum erro importante que a campanha tenha cometido”, observa o publicitário Antônio Lavareda, filiado ao PSDB. Santana dirige o programa, analisa as pesquisas qualitativas, define os discursos e opina até sobre o visual.
Para enfrentar a maratona de comícios e debates, Dilma
preparou-se com uma equipe de especialistas em eleições
O trabalho não seria bem-sucedido, porém, se não fosse a aplicação da candidata. Metódica, Dilma seguiu à risca os conselhos da equipe de políticos tarimbados que a cercam, como o deputado estadual mais votado de São Paulo, o jornalista Rui Falcão (PT), o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) e o presidente do PT, José Eduardo Dutra. No início da campanha, ao ver Dilma discursando em São Bernardo do Campo (SP), num comício do PT, um dirigente petista mandou torpedo para outro colega dizendo: “Pilates já para ela”, numa referência ao exercício físico que ajuda a controlar a respiração, a manter o equilíbrio e a combater o estresse. Dilma não precisou de Pilates. “Ela tomou gosto pela campanha, pelo contato diário com o povo e pela política”, diz Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara. “Dilma teve competência para capitalizar todos os pontos fortes do governo”, afirma o especialista em mídia e política do CPDOC da FGV, Fernando Lattman-Weltman.
De acordo com Dutra, a primeira estratégia era transformar a campanha na mais plebiscitária possível, levando o eleitor a comparar os governos de Lula e de Fernando Henrique Cardoso. Depois, costurar o maior número de alianças dessas eleições. “Tentamos reproduzir a mesma aliança que o presidente Lula tem no Congresso, mas perdemos o PTB. De qualquer forma, somos dez partidos coligados. Não conseguimos isso nem com o Lula”, afirma Dutra. Em sua opinião, a ampla aliança foi fundamental para a candidatura contar com tempo expressivo de televisão no horário eleitoral gratuito. Ao unir dez partidos, Dilma passou a contar com dez minutos e 38 segundos de televisão, deixando José Serra com sete minutos e 18 segundos. “Depois começamos a trabalhar, viajar pelo País, vincular a imagem com o Lula e contar com os erros da oposição. Ao final, ganha quem erra menos”, avaliou Dutra.
As rápidas negociações que desaguaram na aliança com o PMDB e na definição do presidente da Câmara, Michel Temer (SP), como vice na chapa petista tornaram-se mais um trunfo de Dilma. Sobretudo, diante da demora do principal adversário, José Serra (PSDB), em definir seu companheiro de chapa. No PSDB, a escolha de Índio da Costa (DEM) ocorreu em meio a polêmica e ameaças do DEM, principal aliado dos tucanos, em abandonar a candidatura de Serra. Com Dilma aconteceu o oposto. Em 21 de fevereiro de 2010, quando a ministra foi aclamada pré-candidata do PT em congresso do partido, já se sabia que o PMDB ocuparia a vaga de vice. Apesar de ter torcido o nariz num primeiro momento e até sugerido uma lista tríplice para tentar emplacar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, Dilma soube pacificar um partido tradicionalmente dividido e reconhecer que Temer era o nome que teria mais condições de unir o PMDB em torno de sua candidatura.
A participação de Dilma nos debates é encarada como fundamental para o favoritismo da candidata petista nesta reta final da campanha. Ao contrário do que esperavam os adversários e temiam os petistas, ela não vacilou. Esteve nervosa nos primeiros embates, mas foi ganhando confiança com o tempo. Em nenhum momento se mostrou insegura diante do ataque de seus adversários.
Ricardo Caldas, cientista político da UnB, diz que aparentemente Dilma estava na situação difícil de quem faz parte da máquina oficial. Mas, nesse caso, segundo ele, a propaganda eleitoral foi muito bem elaborada e soube mostrar as realizações do governo, principalmente a mobilidade das classes sociais e os avanços sociais e econômicos, de maneira bastante didática. No horário gratuito, a equipe de Dilma também soube blindar a candidata contra a principal crítica da oposição: sua suposta falta de experiência política, diante do fato de Serra já ter sido prefeito e governador.
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