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terça-feira, 7 de junho de 2016

Impeachment, apenas um detalhe, mas que atinge nosso corpo, nossa alma e nosso bolso.

Impeachment, apenas um detalhe.

A nós, brasileiros, um detalhe, mas que atinge nosso corpo, nossa alma e nosso bolso. No campo internacional é, tão somente, um passo na conquista planetária pelo sistema financeiro internacional, ou como a chamo – a banca.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!
(Carlos Drummond de Andrade)

Recordemos o ano de 1990, que estabeleço como marco da dominação da banca. Na década anterior, Margaret Thatcher e Ronald Reagan promoveram, obrigando o mundo a imitá-los, a quebra de todos os controles e desmonte das fiscalizações sobre o sistema financeiro internacional, revogando e reescrevendo leis, normas e regulamentos. Possibilitando que todo o capital oriundo do ilícito (tráfico de drogas, de armas, de pessoas, governos e instituições corruptas, fugindo dos tributos nacionais e recursos não escriturados) encontrasse abrigo nesta banca revitalizada. Também nesta década, por motivo que a História ainda conhecerá, Mikhail Gorbachev extinguiu a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sendo o momento emblemático a queda do Muro de Berlim, em 1989.

A banca, como sabemos, age com dois objetivos principais: controle e apropriação das rendas dos demais segmentos econômicos (indústrias, transportes, construções civis etc) e a concentração de renda e de poder.

Na década de 1990, com as “crises” fabricadas, a banca cresceu, avançou e dominou vários governos nacionais, dentre os quais o Brasil. Sua roupagem, buscada em teóricos do século XVIII, era do Estado Mínimo e do neoliberalismo. Em outras palavras, caberia ao Estado, unicamente, construir o galinheiro onde raposas e galinhas disputariam “livremente” seu dia a dia.

Como é óbvio, logo se insurgiram contra este padrão novos opositores, conquistando pelo voto o governo de países que se afastaram destes preceitos e imposições vindas não apenas da banca mas de suas já dominadas instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A imprensa, ecoando a voz dos verdadeiros donos, demonizava estes governos/países, contando com os serviçais acadêmicos e outros venais e oportunistas, e poucos, mas sem dúvida existentes, adeptos ideológicos.

O grande opositor surge com a criação dos BRICS (República Federativa do Brasil, Federação Russa, República da Índia, República Popular da China, República da África do Sul), formalmente em 18 de maio de 2008, com a reunião dos chanceleres, e em junho de 2009 com a I Reunião de Cúpula. Estes países, além da grande extensão territorial e população, tinham economias em desenvolvimento que somavam um expressivo valor. Além disso, se empenhavam na criação de Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) – voltado para o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em economias emergentes e países em desenvolvimento – e no Arranjo Contingente de Reservas (ACR) – destinado a prover apoio mútuo aos membros do BRICS em cenários de flutuações no balanço de pagamentos. Ou seja, livrarem-se do FMI, Banco Mundial (WB) e da tutela da banca.

Tamanho “crime” não podia ficar sem resposta. Ela veio com três acordos comerciais que resumo.


Acordo Comercial Transpacífico (TTP), integrando os Estados Unidos da América (EUA), 10 países asiáticos (entre os quais: Japão, Coreia do Sul, Brunei, Filipinas, Malásia, Singapura, Tailândia, Vietnã, mas não incluindo a China nem a Índia) e quatro latinoamericanos (México, Chile, Peru e Colômbia).
Acordo Transatlântico de Comércio e Investimentos (TTIP), que reúne a nata do capitalismo: EUA e União Europeia (UE), que foi recentemente vazado pelo Greenpeace. Cabe aqui um rápido comentário, a margem. O objetivo concentrador da banca coloca, vez por outra, em choque interesses norteamericanos e ingleses, os principais capitais da banca. Este vazamento por instituição vinculada aos interesses do Reino Unido (UK) pode ser parte de um conflito interno.
Acordo sobre Comércio de Serviços (TiSA), que abrange 53 países, nenhum do BRICS, cujos rascunhos já começaram a sair pelo Wikileaks.

É, no mínimo, muito estranho que acordos plurinacionais sejam tratados com tanto sigilo e não incluam países continentes e de grande presença no mundo de hoje como a China, a Rússia, a Índia e o Brasil, e que o mundo africano, ao que se saiba, esteja totalmente ausente (como mostra o mapa abaixo).



Dos documentos vazados surge uma pista. Todos estes acordos, além da presença hegemônica dos EUA, tem em comum a submissão dos Estados Nacionais às corporações transnacionais, ou seja, sobre o interesse dos países prevalecerá o interesse do negócio. No mínimo poderíamos afirmar que são acordos antidemocráticos pois às leis nacionais, constitucionais ou infraconstitucionais, resultantes de processos eleitorais, prevalecerão o lucro e o interesse das corporações. Mas há ainda mais. Consigna uma clara agressão aos direitos trabalhistas, aos direitos sociais e ambientais, sempre que forem impeditivos do ganancioso lucro máximo.

Analisando o texto da TiSA, vazado pelo Wikileaks, a pesquisadora mexicana Silvia Ribeiro, conforme artigo de Antonio Martins (O fantasma do ultra-capitalismo), ressalta que ele requer o fim das proteções nacionais “desde a água e alimentação, à saúde, educação e pesquisa científica, às comunicações, correios, transportes, telecomunicações, comércio eletrônico, vendas no varejo e atacado e serviços financeiros”. Aí está, o governo de um país passa para ser exercido por corporações no estrangeiro.

O que tem o impeachment da Presidente Dilma com isso, pode perguntar algum incrédulo. Ora, basta ler as declarações, as Pontes para o Futuro, os 15 pontos do PSDB para apoiar um futuro eventual governo Temer, os discursos de senadores, como de José Serra, pedindo que o Brasil se “liberte das amarras” representadas pelos BRICS, Mercosul e Unasul, para se atar aos acordos mencionados, que “se abra para o mundo”, passando a obedecer à banca e ao FMI, considerando inadiável a revogação da legislação do trabalho e da previdência, voltando o Brasil à República Velha e por que não ao Império, com a revogação da Lei Imperial nº 3.353 de 13 de maio de 1888.

Lutar contra as forças que comandam o impeachment é muito mais do que lutar pela democracia e contra a corrupção e a vilania. É defender a nossa Nação. Pode ser um detalhe, mas parafraseando o poeta: como dói.

Autor: Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado.

Agradecimentos de Dinamica Global pela colaboração do autor e seu excelente texto.
https://dinamicaglobal.wordpress.com/2016/05/09/impeachment-apenas-um-detalhe/

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