Quando o Brasil é ainda importador de aço e continua exportação em ritmo acelerado minério de ferro de alta qualidade é forçoso reconhecer como somos um país mal administrado com gente com o único objetivo de enriquecer a qualquer custo. Pobre Brasil.
Lúcio Flávio Pinto: Ritmo de exportação de minério de ferro de Carajás “é crime de lesa Pátria” 16 de junho de 2012 às 10h58
por Luiz Carlos Azenha
Recentemente passei quase três semanas no Pará, viajando pelo estado. Notei, nas bancas de Belém, a presença sempre destacada do Jornal Pessoal, do repórter Lúcio Flávio Pinto, que também tem versão digital.
Comprei o dossiê que ele preparou sobre a Companhia Vale do Rio Doce, sobre o qual o Viomundo tinha publicado um texto, reproduzido da Adital.
Dias depois, tive um breve encontro com o repórter na praça da República, onde fica o lindíssimo Teatro da Paz, herança dos tempos do ciclo da borracha.
Há, é importante frisar, um paralelo entre o ciclo da borracha e o ciclo do minério de ferro, que sai de Carajás, no sul do Pará, ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano: nenhum deles enriqueceu o estado.
Em nossa conversa, Lúcio Flávio confessou que sentiu um nó no peito toda vez que viu o trem carregado de minério partindo de Carajás em direção ao porto da Ponta da Madeira, no Maranhão, onde é embarcado para exportação.
Ele se sente tão indignado com o assunto que, além do dossiê, lançou um blog, no qual pergunta: a Vale é mesmo nossa?
O que mais deixa o repórter preocupado não é o fato de que a Vale engorda, enquanto o Pará emagrece. Nem o fato de que as ações preferenciais da empresa, aquelas que têm prioridade para receber dividendos, são controladas majoritariamente por norte-americanos. Ou seja, um novaiorquino dono de ações da Vale ganha muito mais com o minério de Carajás que o paraense que vive em Marabá ou Parauapebas.
O que deixa o jornalista indignado é o ritmo das exportações de minério de ferro de Carajás, nas palavras de Lúcio Flávio “o melhor do mundo, com o dobro de teor de hematita que o minério da Austrália”, outro importante fornecedor da China e do Japão — que compram 80% das exportações brasileiras.
Quando a exploração de Carajás começou, em 1984, a previsão é de que a mina duraria 400 anos. Ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano, que devem crescer para 230 milhões em 2016, a previsão agora é de que Carajás dure mais 80 anos, diz Lúcio Flávio. “Um crime de lesa Pátria”, “um crime que viola a soberania do país”, afirma.
O jornalista traça um paralelo com a exportação de manganês da Serra do Navio, no Amapá. Durante 50 anos, os Estados Unidos importaram 1 milhão de toneladas anuais do Brasil. E até hoje guardam estoques estratégicos do minério brasileiro, de altíssima qualidade, que misturam ao minério de baixa qualidade para garantir a siderurgia local, dependente em 90% das importações.
A mina do Amapá se esgotou em 2002. Qual foi o legado principal para o estado? Quando se descobriu que o manganês fino tinha uso industrial, foi implantada no Amapá uma usina de pelotização, que usou grandes quantidades de arsênio no processo. O arsênio hoje contamina o porto de Santana em doses muito superiores às recomendadas pela saúde pública.
Para Lúcio Flávio, os chineses estocam o minério de ferro brasileiro de forma estratégica, além de transformá-lo em bens de imenso valor agregado.
No dossiê, pergunta: “Temos algum controle sobre o processo de formação de preços? Quem estabelece a escala da produção, que está duplicando, para incríveis 230 milhões de toneladas, em 2015, a atual produção de Carajás? Atraídos pelo canto da sereia dos preços altos, estamos renunciando a uma ferramenta poderosa de futuro e, com ela, à possibilidade de agregar mais valor ao processo produtivo?”.
“A Vale é boa para si e os seus grandes clientes. Mas não — ao menos na mesma medida — para o Brasil”, conclui.
Para ouvir um trecho da entrevista, clique abaixo:
Lucio 1
Leia também:
por Luiz Carlos Azenha
Recentemente passei quase três semanas no Pará, viajando pelo estado. Notei, nas bancas de Belém, a presença sempre destacada do Jornal Pessoal, do repórter Lúcio Flávio Pinto, que também tem versão digital.
Comprei o dossiê que ele preparou sobre a Companhia Vale do Rio Doce, sobre o qual o Viomundo tinha publicado um texto, reproduzido da Adital.
Dias depois, tive um breve encontro com o repórter na praça da República, onde fica o lindíssimo Teatro da Paz, herança dos tempos do ciclo da borracha.
Há, é importante frisar, um paralelo entre o ciclo da borracha e o ciclo do minério de ferro, que sai de Carajás, no sul do Pará, ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano: nenhum deles enriqueceu o estado.
Em nossa conversa, Lúcio Flávio confessou que sentiu um nó no peito toda vez que viu o trem carregado de minério partindo de Carajás em direção ao porto da Ponta da Madeira, no Maranhão, onde é embarcado para exportação.
Ele se sente tão indignado com o assunto que, além do dossiê, lançou um blog, no qual pergunta: a Vale é mesmo nossa?
O que mais deixa o repórter preocupado não é o fato de que a Vale engorda, enquanto o Pará emagrece. Nem o fato de que as ações preferenciais da empresa, aquelas que têm prioridade para receber dividendos, são controladas majoritariamente por norte-americanos. Ou seja, um novaiorquino dono de ações da Vale ganha muito mais com o minério de Carajás que o paraense que vive em Marabá ou Parauapebas.
O que deixa o jornalista indignado é o ritmo das exportações de minério de ferro de Carajás, nas palavras de Lúcio Flávio “o melhor do mundo, com o dobro de teor de hematita que o minério da Austrália”, outro importante fornecedor da China e do Japão — que compram 80% das exportações brasileiras.
Quando a exploração de Carajás começou, em 1984, a previsão é de que a mina duraria 400 anos. Ao ritmo de 100 milhões de toneladas por ano, que devem crescer para 230 milhões em 2016, a previsão agora é de que Carajás dure mais 80 anos, diz Lúcio Flávio. “Um crime de lesa Pátria”, “um crime que viola a soberania do país”, afirma.
O jornalista traça um paralelo com a exportação de manganês da Serra do Navio, no Amapá. Durante 50 anos, os Estados Unidos importaram 1 milhão de toneladas anuais do Brasil. E até hoje guardam estoques estratégicos do minério brasileiro, de altíssima qualidade, que misturam ao minério de baixa qualidade para garantir a siderurgia local, dependente em 90% das importações.
A mina do Amapá se esgotou em 2002. Qual foi o legado principal para o estado? Quando se descobriu que o manganês fino tinha uso industrial, foi implantada no Amapá uma usina de pelotização, que usou grandes quantidades de arsênio no processo. O arsênio hoje contamina o porto de Santana em doses muito superiores às recomendadas pela saúde pública.
Para Lúcio Flávio, os chineses estocam o minério de ferro brasileiro de forma estratégica, além de transformá-lo em bens de imenso valor agregado.
No dossiê, pergunta: “Temos algum controle sobre o processo de formação de preços? Quem estabelece a escala da produção, que está duplicando, para incríveis 230 milhões de toneladas, em 2015, a atual produção de Carajás? Atraídos pelo canto da sereia dos preços altos, estamos renunciando a uma ferramenta poderosa de futuro e, com ela, à possibilidade de agregar mais valor ao processo produtivo?”.
“A Vale é boa para si e os seus grandes clientes. Mas não — ao menos na mesma medida — para o Brasil”, conclui.
Para ouvir um trecho da entrevista, clique abaixo:
Lucio 1
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário