Em 1962, o jovem Wanderley Guilherme dos Santos escreveu um texto
premonitório prevendo o golpe de Estado – que ocorreria dois anos
depois.
Quais as diferenças substanciais entre o Brasil de 1962 e o de 2016?
Foi a primeira pergunta que lhe fiz no Brasilianas de ontem à noite. - Luis Nassif
Sua resposta foi objetiva: são dois países completamente diferentes. O
de 1962 tinha 6 milhões de eleitores; o de 2016 115 milhões,
constituindo uma das maiores democracias do planeta.
O de 1962 não tinha sociedade civil, movimentos populares. Em
determinado momento, Wanderley foi conhecer as míticas Ligas Camponesas.
E constatou que eram praticamente inexistentes, servindo apenas como
álibi para a direita utilizar o fantasma do comunismo.
Hoje em dia, o país está coalhado de organizações sociais, movimentos
populares, sociedade civil. Politicamente, centro-oeste, norte, parte
do Nordeste se integraram ao mercado de consumo, de opinião e político.
Mesmos os chamados partidos nanicos têm uma função civilizatória
relevante, ao integrar na política partidária os grupos dos cafundós do
país, que antes resolviam suas questões a bala ou a facadas.
Aliás, Wanderley tem uma opinião bastante singular sobre esses grupos
e sobre os políticos religiosos. Constatou ele que esses políticos têm
muito mais afinidade com seu meio e com seus eleitores do que os
políticos de centros mais avançados.
Na opinião de Wanderley, a representação política é eficiente no
plano municipal, um pouco menos no plano estadual e quase inexistente no
plano federal, conforme se pode conferir no episódio dantesco da
votação do impeachment na Câmara,
Mas faltam pesquisas para mostrar como a atuação desses políticos, no
plano nacional, é percebida por seus eleitores no plano municipal.
O grande problema da corrupção política está nas matérias analisadas
pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) diz ele. É o sistema eleitoral,
com suas possibilidades de coligações e de venda de horários gratuitos
que abiu espaço para a corrupção. O financiamento de campanha sempre se
dá pelo caixa 2, diz ele. Mas a roubalheira não está no financiamento em
si, na empresa que dá e no partido que recebe. O problema é o que
acontece no decorrer desse processo, na passagem pelas várias mãos,
permitindo golpes de enriquecimento pessoal.
Quando se pergunta se a democracia está ameaçada pelos novos tempos,
sua resposta é rápida: a democracia foi derrubada no processo de
afastamento de Dilma.
Wanderley não tem dúvidas de que nos próximos meses haverá uma
escalada de violência. Os movimentos sociais e demais setores não
aceitarão perdas, retornar ao patamar anterior, e o governo insistirá
nesse jogo. A cada movimento de um lado haverá a reação do outro, em um
crescendo incontrolável até que chegue a um grau de temperatura que será
resolvido de outras maneiras.
Não tem ilusões quanto a possibilidade de um pacto que reduza o ódio e
permita uma travessia mais calma porque, para ele, a única figura
externa capaz de mediar os conflitos seria Lula. Mas ele foi
imprudentemente massacrado pelas forças políticas. Não existe no
horizonte nenhuma figura pública que possa preencher esse vácuo.
É igualmente pessimista em relação ao futuro da política. Para ele, a
queda do Muro de Berlim foi o sinal definitivo do início de uma nova
idade média, com a predominância do individualismo exacerbado, da busca
do sucesso individual. Não se ilude muito com a militância dos
secundaristas, com seus propósitos nobres. Acha que à medida que foram
crescendo, os apelos para o sucesso individual se sobreporão aos
princípios da solidariedade
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