As elites nunca gostaram desse país porque afinal o sonho de consumo era a Europa e agora os EUA. E o país não está apenas cometendo suicídio, mas sendo assassinado pelo PSDB, PMDB, Globo, STF, MPF e PGR.
"Brasil comete suicídio político", diz historiadora da Sorbonne - As vozes do mundo
Debate
sobre a crise política no Brasil: da esquerda para a direita, Gabriel
Zacarias, Laura de Mello e Souza, Juliette Dumont e Frédéric Pagès.
RFI/Adriana Moysés
Para a historiadora Juliette
Dumont, do Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina (Iheal), da
universidade parisiense Sorbonne Nouvelle, o provável afastamento da
presidente Dilma Rousseff "vai fragilizar o Brasil e prejudicar, durante
muitos anos, a credibilidade do país no cenário internacional". "O
Brasil cometerá um suicídio político", se o Senado aprovar o pedido de
impeachment de Dilma, opina a pesquisadora.
A atual crise política revelou
que "as forças conservadoras ainda estão muito presentes e existe um
movimento importante contra o que o Partido dos Trabalhadores (PT)
representa", disse a historiadora. Ela reconheceu que há evidências de
que o PT está envolvido em corrupção, mas recordou que foi nos governos
de Dilma e do ex-presidente Lula que a Polícia Federal teve mais
liberdade de investigação. "Espero que o voto no Senado não seja a farsa
que foi o voto na Câmara", acrescentou. Dumont mediou um debate
organizado nesta quarta-feira (4) pelo Movimento Democrático 18 Março
(MD18), grupo de estudantes brasileiros e europeus que tem denunciado um
"golpe" institucional no Brasil.
Especialista em relações internacionais, a historiadora da Sorbonne considera que a credibilidade do Brasil está profundamente abalada. Segundo Dumont, a votação do pedido de impeachment "deu uma imagem patética" da Câmara. "Eu acho que o Brasil vai levar muitos anos para corrigir os danos que foram feitos ao país no exterior, a começar na própria América Latina."
Para dar um exemplo das consequências da devassa política, ela cita que o Brasil estava muito perto de conquistar a tão sonhada cadeira de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. "Demorou muitos anos, mas, enfim, o país tinha conseguido o apoio dos vizinhos latino-americanos, o que era uma grande novidade", afirma. "Como o Brasil terá força para continuar a defender seus interesses nos fóruns internacionais ou na Organização Mundial do Comércio (OMC) se a democracia está em risco", questiona Dumont.
"O Brasil voltou a ser aquele país que não é sério e leva tempo para combater esses esteriótipos em política internacional", diz. Na opinião da historiadora, nem com eleições antecipadas ou com uma reforma política o Brasil se recuperará a curto prazo. "A lógica do jogo é essa, credibilidade exige um esforço diplomático enorme e isso leva tempo", conclui.
Novas eleições não resolvem problema de renovação dos políticos
Dumont não acredita que o país esteja preparado para enfrentar uma nova eleição presidencial ainda este ano, como desejam 60% dos brasileiros, segundo pesquisas. "A classe política precisa de renovação e o debate está muito polarizado. Antes, os políticos brasileiros devem se dar conta do mal que estão causando ao país no exterior", destacou Dumont.
Cerca de 50 pessoas assistiram ao debate realizado na sede da central sindical CFDT, em Paris. Também fizeram parte da mesa Laura de Mello e Souza, uma das maiores especialistas em história moderna do Brasil, filha do sociólogo Antonio Candido, o músico francês Frédéric Pagès, estudioso do Brasil, a jornalista da Globonews Elizabeth Carvalho, correspondente em Paris, além de estudantes brasileiros atualmente fazendo mestrado ou doutorado em universidades francesas.
"O que mais dá medo é o retrocesso", diz professora
O que mais preocupa Laura de Mello e Souza é o retrocesso que o Brasil está vivendo e as profundas lacunas na área da educação. Ela fez uma retrospectiva histórica de momentos de ruptura e de avanços da sociedade brasileira no último século e considera que o país dá, nesse momento, "um grande passo atrás", ao afastar do poder uma presidente eleita com 54 milhões de votos.
"O problema mais grave na sociedade brasileira são as desigualdades sociais. Nós negamos as desigualdades o tempo todo e a elite deixou de se preocupar com a educação. O mais terrível é que mesmo os partidos de esquerda não conseguiram enfrentar as desigualdades", constata a historiadora da USP. Mello e Souza reside em Paris há dois anos e dá aulas de História do Brasil na Sorbonne.
As nomeações de evangélicos para postos ministeriais no eventual governo de Michel Temer representam um risco extremamente grave para o país, adverte. "Os pastores evangélicos possuem canais de rádio e TV e fazem lavagem cerebral em uma população sem conhecimentos", lamenta.
Cobertura da imprensa francesa é criticada
O papel da mídia brasileira na desestabilização do governo Dilma esteve em destaque no debate e respingou na imprensa local. O músico francês Frédéric Pagès criticou a forma superficial como a imprensa francesa tem coberto a crise. Ele condenou particularmente as coberturas dos jornais Libération, de esquerda, e do Le Monde, "com manchetes acusatórias ao ex-presidente Lula". "A mídia francesa tem feito títulos baseados em rumores e publicado textos sem profundidade analítica", afirmou. Pagès criticou ainda o silêncio dos líderes europeus em relação aos ataques à presidente Dilma, uma chefe de Estado democraticamente eleita.
O estudante Daniel Garroux, doutorando em Teoria Literária, também desaprova a cobertura superficial das publicações francesas. Ele assinalou que os correspondentes no Brasil pecam não só pela parcialidade, mas também pela falta de aprofundamento no tratamento das informações. "Outro dia, o Libération disse que a presidente Dilma já tinha sido afastada. Eles nem se preocupam em checar as informações mais básicas dessa narrativa", argumentou. O estudante lamentou a ausência de reportagens sobre as manifestações contra o impeachment na imprensa francesa. "Elas têm acontecido quase diariamente, em várias regiões do país, e isso não é revelado pelos jornais", disse.
Especialista em relações internacionais, a historiadora da Sorbonne considera que a credibilidade do Brasil está profundamente abalada. Segundo Dumont, a votação do pedido de impeachment "deu uma imagem patética" da Câmara. "Eu acho que o Brasil vai levar muitos anos para corrigir os danos que foram feitos ao país no exterior, a começar na própria América Latina."
Para dar um exemplo das consequências da devassa política, ela cita que o Brasil estava muito perto de conquistar a tão sonhada cadeira de membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. "Demorou muitos anos, mas, enfim, o país tinha conseguido o apoio dos vizinhos latino-americanos, o que era uma grande novidade", afirma. "Como o Brasil terá força para continuar a defender seus interesses nos fóruns internacionais ou na Organização Mundial do Comércio (OMC) se a democracia está em risco", questiona Dumont.
"O Brasil voltou a ser aquele país que não é sério e leva tempo para combater esses esteriótipos em política internacional", diz. Na opinião da historiadora, nem com eleições antecipadas ou com uma reforma política o Brasil se recuperará a curto prazo. "A lógica do jogo é essa, credibilidade exige um esforço diplomático enorme e isso leva tempo", conclui.
Novas eleições não resolvem problema de renovação dos políticos
Dumont não acredita que o país esteja preparado para enfrentar uma nova eleição presidencial ainda este ano, como desejam 60% dos brasileiros, segundo pesquisas. "A classe política precisa de renovação e o debate está muito polarizado. Antes, os políticos brasileiros devem se dar conta do mal que estão causando ao país no exterior", destacou Dumont.
Cerca de 50 pessoas assistiram ao debate realizado na sede da central sindical CFDT, em Paris. Também fizeram parte da mesa Laura de Mello e Souza, uma das maiores especialistas em história moderna do Brasil, filha do sociólogo Antonio Candido, o músico francês Frédéric Pagès, estudioso do Brasil, a jornalista da Globonews Elizabeth Carvalho, correspondente em Paris, além de estudantes brasileiros atualmente fazendo mestrado ou doutorado em universidades francesas.
"O que mais dá medo é o retrocesso", diz professora
O que mais preocupa Laura de Mello e Souza é o retrocesso que o Brasil está vivendo e as profundas lacunas na área da educação. Ela fez uma retrospectiva histórica de momentos de ruptura e de avanços da sociedade brasileira no último século e considera que o país dá, nesse momento, "um grande passo atrás", ao afastar do poder uma presidente eleita com 54 milhões de votos.
"O problema mais grave na sociedade brasileira são as desigualdades sociais. Nós negamos as desigualdades o tempo todo e a elite deixou de se preocupar com a educação. O mais terrível é que mesmo os partidos de esquerda não conseguiram enfrentar as desigualdades", constata a historiadora da USP. Mello e Souza reside em Paris há dois anos e dá aulas de História do Brasil na Sorbonne.
As nomeações de evangélicos para postos ministeriais no eventual governo de Michel Temer representam um risco extremamente grave para o país, adverte. "Os pastores evangélicos possuem canais de rádio e TV e fazem lavagem cerebral em uma população sem conhecimentos", lamenta.
Cobertura da imprensa francesa é criticada
O papel da mídia brasileira na desestabilização do governo Dilma esteve em destaque no debate e respingou na imprensa local. O músico francês Frédéric Pagès criticou a forma superficial como a imprensa francesa tem coberto a crise. Ele condenou particularmente as coberturas dos jornais Libération, de esquerda, e do Le Monde, "com manchetes acusatórias ao ex-presidente Lula". "A mídia francesa tem feito títulos baseados em rumores e publicado textos sem profundidade analítica", afirmou. Pagès criticou ainda o silêncio dos líderes europeus em relação aos ataques à presidente Dilma, uma chefe de Estado democraticamente eleita.
O estudante Daniel Garroux, doutorando em Teoria Literária, também desaprova a cobertura superficial das publicações francesas. Ele assinalou que os correspondentes no Brasil pecam não só pela parcialidade, mas também pela falta de aprofundamento no tratamento das informações. "Outro dia, o Libération disse que a presidente Dilma já tinha sido afastada. Eles nem se preocupam em checar as informações mais básicas dessa narrativa", argumentou. O estudante lamentou a ausência de reportagens sobre as manifestações contra o impeachment na imprensa francesa. "Elas têm acontecido quase diariamente, em várias regiões do país, e isso não é revelado pelos jornais", disse.
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