Sou
uma um grande família de origem do interior de Jaguaruana. Quando a
parteira chegou, depois de atravessar o Rio Jaguaribe em uma pequena
canoa, lá pelas últimas horas da madrugada, eu já tinha nascido. Ainda
me sinto impregnado com o cheiro do curral, do pó de carnaúba, do
orvalho da manhã.
os banhos no rio Jaguaribe, a casa e sua varanda, a
chuva caindo na calçada, o palheiro onde meu pai plantava,
a casa de fazer cera de carnaúba com a sua prensa E principalmente a
varanda onde os amigos de meu pai contava histórias, as carnaubeiras, as
noites assustadoras e longas. E me crisei de sonhos e ideias. De certa
forma, continuo muito ligado à terra, à natureza. E nunca perdi a
capacidade de sonhar, de ter esperanças, de buscar as coisas novas, e de
lutar contra as coisas que não concordo. Meus pais me ensinaram
princípios e lutaram para eu chegar até a universidade. Lá me desenvolvi
mais humano, tornei-se uma pessoa de esquerda e jovem entrei na
militância política. E fiz da militância política uma opção de vida. E
vejo que muitas coisas que lutei durante a adolescência e juventude
estão se confirmando agora. Chorei tanto nas derrotas de Lula como em
suas vitórias. Chorei porque pessoas que admiro como Paulo Freire,
Florestan Fernandes, D Helder Câmara, Henfil, Betinho, Brizola, Darcy
Ribeiro, não puderam testemunhar as coisas boas que estão acontecendo
neste país. Chorei também pelas minhas derrotas e vejo que elas me
fizeram bem, porque jamais perdi a esperança, jamais abandonei a luta,
por quê? Porque vejo que as nossas crianças e jovens terão mais
oportunidades do que meus pais tiveram.