Fiori: Grã Bretanha e EUA seguem controlando “mar interior” do Brasil - Viomundo
publicado em 2 de janeiro de 2014 às 12:41
Mapa extraído do Geopolítica do Petróleo
27/12/2013 – Copyleft
O Brasil e seu “mar interior”
Situado entre a costa leste da América do Sul, e a costa oeste da
África Negra, o Atlântico Sul ocupa um lugar decisivo do ponto de vista
do interesse econômico e estratégico brasileiro: como fonte de recursos,
como via de comunicação, e como meio de projeção da influência do país
no continente africano.
Além do “pré-sal” brasileiro, existem reservas de petróleo na
plataforma continental argentina, e na região do Golfo da Guiné,
sobretudo na Nigéria, Angola, e no Congo, Gabão, São Tomé e Príncipe.
Na costa ocidental africana, também existem grandes reservas de gás,
na Namíbia, e de carvão, na África do Sul; e na bacia atlântica, se
acumulam crostas cobaltíferas, nódulos polimetálicos ( contendo níquel,
cobalto, cobre e manganês), sulfetos ( contendo ferro, zinco, prata,
cobre e ouro), além de depósitos de diamante, ouro e fósforo entre
outros minerais relevantes, e já foram identificadas grandes fontes
energéticas e minerais, na região da Antártica.
Além disto, o Atlântico Sul é uma via de transporte e comunicação
fundamental, entre o Brasil e a África, e é um espaço crucial para a
defesa dos países ribeirinhos, dos dois lados do oceano.
A Argentina tem 5 mil km de costa, sustenta uma disputa territorial
com a Grã Bretanha, e tem uma importante projeção no território da
Antártida e nas passagens interoceânicas do canal de Beagle e do
estreito de Drake.
Do outro lado do Atlântico, a África do Sul ocupa o vértice
meridional do continente africano, e é um país bioceânico, banhado
simultaneamente pelo Atlântico e pelo Indico, com 3000 km de costas
marítimas, e cerca de 1 milhão de km2 de águas jurisdicionais, ocupando
uma posição muito importante como ponto de passagem entre o “ocidente’ e
o “oriente”, por onde circula cerca de 60% do petróleo embarcado no
Oriente Médio, na direção dos EUA e da Europa.
Finalmente, a Nigéria e Angola têm 800 e 1600 km de costa atlântica,
respectivamente, e as reservas de petróleo do Golfo da Guiné estão
estimadas em 100 milhões de barris.
Mas não há duvida que o Brasil é o país costeiro que tem maior
importância econômica e geopolítica dentro do Atlântico Sul, com seus
7490 km de costa, e seus 3.600 milhões de km2 de território marítimo,
que podem chegar a 4,4 milhões — mais do que a metade do território
continental brasileiro — caso sejam aceitas as reivindicações
apresentadas pelo Brasil perante a Comissão de Limites das Nações
Unidas: quase o dobro do tamanho do Mar Mediterrâneo e do Caribe, e
quase 2/3 do Mar da China.
O interesse estratégico do Brasil nesta área vai além da defesa de
seu mar territorial, e inclui toda sua Zona Exclusiva Econômica (ZEE),
por onde passam cerca de 90% do seu comercio internacional; e onde se
encontram, cerca de 90% das reservas totais de petróleo do Brasil, e 82%
de sua produção atual; e mais 67% de suas reservas de gás natural.
Além disto, o Brasil possui três ilhas atlânticas que tem uma
importante projeção sobre o território da Antártida, e que são altamente
vulneráveis do ponto de vista de sua segurança.
Apesar disto, o controle militar do Atlântico Sul segue em mãos das duas grandes potências anglo-saxônica.
A Grã- Bretanha mantém um cinturão de ilhas e bases navais através
do Atlântico Sul, que lhe conferem uma enorme vantagem estratégica no
controle da região.
E os EUA dispõem de três comandos que operam na mesma área: o
USSOUTHCOM, criado em 1963, o AFRICOM, criado em 2007, e a sua IV Frota
Naval criada durante a II Guerra Mundial, e reativada em 2008, com
objetivo explícito de policiar o Atlântico Sul.
Além disso, as duas potências anglo-saxônicas controlam em comum, a
Base Aérea da Ilha de Ascenção, onde operam simultaneamente, a Força
Aérea dos EUA, a Força Aérea do Reino Unido e forças dos países da OTAN.
Na mesma Ilha de Ascenção estão instaladas estações de interceptação
de sinais e bases do sistema de monitoramento global, denominado
Echelon, que permite o monitoramento e controle de todo o Oceano
Atlântico.
Caracterizando-se uma enorme assimetria de poder e de recursos entre
as forças navais e aéreas, das potencias anglo-saxônicas e da OTAN, e a
dos demais países situados nos dois lados do Atlântico Sul.
Neste ponto o Brasil não tem como enganar-se: possui a capacitação
econômica e tecnológica para explorar os recursos oferecidos pelo
oceano, mas não possui atualmente a capacidade de defender a soberania
do seu “mar interior”.
A capacitação naval do Brasil foi inteiramente dependente da Grã
Bretanha e dos Estados Unidos, pelo menos até a década de 70, e o Brasil
segue sendo um país vulnerável do ponto de vista da sua capacidade de
defesa de sua costa, e de sua plataforma marítima.
E este panorama só poderá ser modificado no longo prazo, depois da
construção da nova frota de submarinos convencionais e nucleares que
deverão ser entregues à marinha brasileira, entre 2018 e 2045, e depois
que o Brasil adquira capacidade autônoma de construção de sua própria
defesa aérea.
De imediato, entretanto, o cálculo estratégico do Brasil tem que
assumir esta assimetria de poder como um dado de realidade e como uma
pedra no caminho de sua política de projeção de sua influência no
continente africano, e sobre este seu imenso “mar interior”.
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