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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A torcida organizada não é pelo fracasso da Copa, mas pelo fracasso do Brasil e por tabela, o fracasso do governo Dilma.

Torcida organizada pelo fracasso da Copa

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Acabo de ler um desses panfletos eletrônicos da campanha contra a Copa de 2014.

Procuram atemorizar o turista dizendo que somos um dos países com maiores índices de assassinato do mundo. Também temos uma polícia extremamente violenta. Também temos uma educação ruim, uma saúde pública péssima, um transporte urbano idem.

São problemas reais, é óbvio. Mas a atitude é de torcida organizada pelo fracasso. Não se procura fazer um debate racional para encontrar soluções e alternativas. O esforço é produzir um fiasco inesquecível, atitude que só prejudica o Brasil.
O nome disso é guerra psicológica. Não é um movimento pela razão mas que procura a política pela emoção.

Janio de Freitas escreveu um artigo de mestre a respeito, na Folha de ontem. Quero abordar alguns aspectos do mesmo tema.
 
Teremos muita guerra psicológica, em 2014, para que, justamente no país do futebol, a Copa do Mundo venha a se tornar um problema político.

Josep Blatter, o presidente da FIFA, será endeusado quando começar a falar mal do governo federal. Vai passar de demônio a santo em 24 horas. Será por isso que ele já começou a fazer críticas ao governo brasileiro? Justo quem.

Olhando a situação com frieza, o ambiente não deveria ser este.

Começando pelo futebol pois, salvo segundo aviso, é disso que se trata.

A verdade é que, ao contrário do que se anunciou durante todos estes anos, os estádios – novos e reformados – vão ficar prontos no prazo necessário para os jogos.

São estádios modernos, seguros, confortáveis. Depois que entrarem em uso regular, a ocorrência de tragédias como a de Joinville e outras cenas de violência que marcam os campeonatos tradicionais.

Só para dar um pouco de realidade ao debate. Compare as obras da Copa com o Metrô paulista, por exemplo.

Tudo aquilo que se diz contra os estádios se demonstra - até com ajuda da Justiça Suíça - no metrô paulista. Os atrasos duram anos. O superfaturamento bate recordes. E então? Cadê a indignação?

Quando o Brasil ganhou o direito de organizar a Copa, o país fez uma festa. Quem não gostou da ideia ficou em silêncio.

Alguém disputou a eleição de 2010 falando mal da Copa? Não me lembro. Nem candidato a síndico de prédio se atrevia a tanto.

Salvo casos patológicos de desprezo pelas necessidades da maioria da população, quem não queria a Copa como proposta esportiva, dizendo que o país teria outras prioridades - esta era minha opinião na
época - admitia a vantagem keynesiana. Era uma forma de apontar uma perspectiva de investimentos em larga escala, no país inteiro, nos anos seguintes.
 
Depois da crise mundial de 2008, quando o capitalismo entrou em depressão em escala mundial, a Copa de 2014 se tornou uma benção em vários lugares. Ajudou a manter o crescimento e o emprego de quem não teria outra chance de arrumar trabalho.

Na dúvida, dê uma volta no país e converse com pessoas da vida real.

O problema é a psicologia.

A maioria dos brasileiros concorda - racionalmente, com base em dados objetivos e também por experiência própria - que poucas vezes se trabalhou com tanto empenho para distribuir a renda e melhorar a vida dos mais pobres como aconteceu depois da chegada de Lula no Planalto.
Neste ponto, é um governo de valor histórico.

A terapia emocional de massas quer nos convencer do contrário. Embora tenha chegado ao Planalto em 2003, procura-se criminalizar o condomínio Lula-Dilma pela omissão de seus adversários ao longo da história.

É por isso que se fala muito do futebol.
E procura-se esconder o drama do metrô. Aliás: deu para notar que os atrasos do metrô geram menos protesto do que as críticas a demora relativa nas obras da Copa?

Qual é mesmo prioridade?

O esforço da terapia é esse: mudar prioridades sociais e transformar a Copa num drama político.

Adversário de tantas ditaduras do século XX, David Rousset deixou uma frase muito útil para se enfrentar grandes operações contra as democracias:

- As pessoas normais não sabem que tudo é possível.

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