Reforma Administrativa: modernização
ou bomba contra o serviço público?
Uma
proposta de reforma administrativa, que será apresentada nesta semana pela
Câmara dos Deputados, prevê alterações significativas no serviço público,
incluindo a aplicação imediata de novas regras para servidores já em atividade.
O que muda
Entre
as principais mudanças está o fim das férias de 60 dias por ano para juízes e
promotores, que passarão a seguir a mesma regra dos demais trabalhadores: 30
dias anuais. A medida, que quebra um tabu da reforma anterior do governo
Bolsonaro, visa reduzir privilégios e promover igualdade no setor público.
Nos últimos meses, a Rússia deu sinais claros de que
não pretende mais permanecer com restrições autoimpostas em seu arsenal
nuclear. A justificativa oficial é a crescente ameaça percebida vinda da
modernização e proximidade do poder militar dos Estados Unidos, além da
hesitação europeia em conter essa escalada.
Em agosto de 2025, o fim da moratória sobre mísseis
de curto e médio alcance marcou a retomada de uma postura mais agressiva:
Moscou agora se reserva o direito de responder militarmente caso considere
necessário.
Aposta
Nuclear de Trump e a Resposta Russa: um jogo perigoso para a geopolítica global
O
cenário internacional vive um momento de tensão máxima, marcado pela escalada
retórica e estratégica entre os Estados Unidos, a Rússia e seus aliados. A
recente “aposta nuclear” de Donald Trump — envolvendo o deslocamento de
submarinos nucleares norte-americanos para áreas estratégicas — provocou reação
imediata do Kremlin e intensificou a sensação de incerteza em torno da guerra
na Ucrânia e da estabilidade global.
Ceará:
histórias de resistência, migração e memória
No
Ceará, muitas histórias permanecem apagadas, embora sejam
fundamentais para compreendermos a formação do nosso povo. Sou
filho de agricultores e cresci em um tempo em que meus pais
aprenderam matemática e economia na escassez: dividindo, somando,
multiplicando… talvez diminuir fosse o menos praticado em suas
vidas.
Minha
família guarda lembranças que atravessam o país. Tive avós que
foram soldados da borracha na Amazônia e tios que desapareceram por
lá. Recentemente, um parente padre, que mora na Alemanha, entrou em
contato com meu irmão após realizar um teste genético. Meu irmão
e minha mãe fizeram o exame e, ao acessar os registros, descobriram
uma extensa família em Jaguaruana, nossa cidade de origem. A alegria
maior veio ao constatar que nossa tradição católica permaneceu
viva em padres, freiras e outros familiares, um legado que de alguma
forma também seguiu o parente que realizou o teste.
O
“Colonialismo” dos Aliados: quando a Europa vira colônia
Recentemente,
uma declaração de um importante economista americano, comentada no
programa da Fox News, deixou até o apresentador boquiaberto. Segundo
Scott Bessent, a política econômica dos Estados Unidos passará a
tratar a riqueza de seus próprios aliados — sim, seus parceiros da
OTAN e do G7 — como se fosse um fundo
soberano americano.
Em
outras palavras, caberia ao presidente dos EUA decidir, “a seu
critério”, como direcionar esse capital estrangeiro para construir
fábricas e reindustrializar o país. O apresentador chamou isso de
offshore
appropriation,
ou seja, apropriação de riqueza alheia além-mar. Um nome polido
para o que, em termos mais diretos, poderíamos chamar de roubo
institucionalizado.
O
analista Arnaud Bertrand foi direto: isso é espólio
colonial.
A diferença é que, desta vez, o alvo não é o Sul Global —
historicamente vítima das potências ocidentais —, mas os próprios
aliados ocidentais, especialmente a Europa.
A
lógica é simples (e perversa): incapaz de extrair riquezas ou
vencer guerras de forma confortável contra um Sul Global mais
assertivo e independente, Washington volta-se para dentro do seu
círculo de aliados. Esses países, dependentes dos EUA para sua
“proteção” militar, estão tão vulneráveis quanto as colônias
do século XIX diante de seus “protetores”.
A canção Beatriz, fruto da parceria entre Chico Buarque e Edu Lobo, é uma verdadeira obra de arte. O acompanhamento de piano é magistral, com um arranjo magnífico, capaz de sustentar a delicadeza e a intensidade da composição.
A letra é fantástica, quase como uma história real, cheia de imagens e perguntas que nos colocam dentro da cena. Há um detalhe curioso e revelador da genialidade de Chico: a palavra céu é cantada na nota mais aguda, enquanto chão aparece na mais grave, algo que encantou e surpreendeu Edu Lobo pela coincidência expressiva.
Na voz de Milton Nascimento, a canção atinge um patamar ainda mais alto. Ele consegue transitar por modulações complexas sem ceder à tentação da desafinação, algo que, segundo o próprio Edu Lobo, é um desafio para grandes intérpretes pela dificuldade de execução.
O piano e o arranjo musical seguem impecáveis, mantendo o compasso e o tempo exatos imaginados por Edu, sem perder de vista a poesia da letra. Beatriz, que rima com atriz e com por um triz evoca a sensação de se aproximar da vida de alguém e arriscar-se a entrar no seu mundo.
A introdução do piano é um convite à contemplação, como se preparasse o ouvinte para as perguntas de Milton: “Será que é moça? Será que é triste? Será que é o contrário? Será que é pintura o rosto da atriz? Será que dança no sétimo céu?” e assim seguimos, embalados pela imaginação, acreditando que possa existir “um outro país”.
Beatriz é, enfim, uma lição de imaginação e sensibilidade, capaz de nos conduzir para dentro de um universo íntimo e encantado, onde a música e a poesia se fundem em beleza.
Brasil
envia generais para a China: um gesto inédito na diplomacia militar brasileira
A
notícia divulgada pela Sputnik Brasil no dia 11 de agosto marca um movimento
histórico na política externa brasileira: até o final deste ano, o Brasil
enviará dois adidos militares com patente de general ou equivalente para a
embaixada em Pequim. Até então, essa distinção só era concedida à embaixada
brasileira em Washington, centro histórico da cooperação militar e diplomática
com os Estados Unidos.
O
planeta vive um tempo de instabilidade permanente. O chamado Relógio do Juízo
Final, criado pelo Bulletin of the Atomic Scientists, avança impiedoso: 90
segundos para a meia-noite, a menor distância da história até o “fim simbólico”
da civilização. As ameaças são múltiplas e interligadas — uma verdadeira
policrise.
De um
lado, a geopolítica incandescente. Conflitos abertos, como a guerra
Rússia–Ucrânia, o Oriente Médio em chamas e a crescente tensão entre Estados
Unidos e China, alimentam o espectro de um Armagedom nuclear. Ao mesmo tempo,
sanções econômicas, disputas por tecnologia e a fragmentação das cadeias de
suprimentos redesenham silenciosamente o mapa do poder mundial.
Do
outro lado, a crise ambiental não dá trégua. Mudanças climáticas aceleram
secas, tempestades, incêndios e inundações. Tsunamis e terremotos, fenômenos
geológicos que sempre existiram, agora encontram populações mais vulneráveis e
cidades construídas em áreas de risco. Florestas queimam, espécies desaparecem
e ecossistemas inteiros entram em colapso.
A
guerra econômica, a destruição ambiental e a instabilidade política formam um
circuito fechado. Catástrofes naturais geram fome e migração em massa,
alimentando conflitos e extremismos. Conflitos, por sua vez, destroem
cooperação internacional e bloqueiam acordos climáticos, empurrando o planeta
ainda mais para o abismo.
Vivemos
em um mundo onde as crises não são mais eventos isolados, mas peças de um
dominó global. Um mundo onde a linha entre o presente instável e o futuro
irreversível se torna cada vez mais tênue. A pergunta que se impõe não é mais se
conseguiremos evitar o pior, mas quando decidiremos agir como se o pior ainda
pudesse ser evitado.
Do golpe de 2016 ao sequestro da Câmara: um fio que não se rompe
A história política recente do Brasil pode ser lida como uma linha
contínua de eventos conectados por um mesmo objetivo: o controle da opinião
pública e das instituições. Como observou o jornalista Janio de Freitas, o
golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, a operação Lava Jato, a prisão do
ex-presidente Lula e a candidatura de Jair Bolsonaro formam um conjunto
articulado. Essa articulação contou com o apoio e financiamento de institutos liberais,
empresas e até do governo dos Estados Unidos, criando o terreno fértil para o
avanço de uma agenda de retrocessos políticos, econômicos e sociais.
O golpe parlamentar de 2016 abriu caminho para a criminalização seletiva
da política e para uma ofensiva judicial e midiática sem precedentes. A Lava
Jato, hoje desmoralizada por suas ilegalidades, foi peça-chave nesse processo,
ajudando a inviabilizar a candidatura de Lula em 2018 e facilitando a ascensão
de Bolsonaro ao poder. Ao mesmo tempo, um trabalho persistente de manipulação
da opinião pública, potencializado pelas redes sociais, consolidou uma base de
extrema-direita disposta a desafiar o próprio Estado Democrático de Direito.
Os ecos dessa trajetória ressoam até hoje. No dia 8 de agosto de 2025, um
grupo de 14 deputados federais sequestrou, simbolicamente, a Câmara dos
Deputados. Ao impedir o presidente interino, Hugo Motta, de exercer suas
funções e paralisar as votações, esses parlamentares buscavam pressionar pela
anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A manobra,
descrita por muitos como um “sequestro” do Congresso, revela o medo dessa ala
radical de ver seus aliados julgados pelo Supremo Tribunal Federal.
O episódio não é um fato isolado: ele se insere numa cadeia de acontecimentos
que, desde 2016, fragilizam as instituições e colocam em xeque o pacto
democrático. O que começou como um ataque político-midiático contra um governo
eleito se transformou numa disputa aberta pelo controle das regras do jogo e
pela impunidade de quem tenta subverter a democracia.
Se o país não romper esse fio histórico, corre o risco de ver a
democracia sendo corroída não apenas por golpes declarados, mas também por
ações silenciosas, articuladas e repetidas, cada uma pavimentando o caminho para
a próxima.
Por fim, Bob Fernandes traz um prontuário de cada deputado e deputada, o que interessante observar no vídeo. Incrível a ficha corrida de cada deputado e deputada no roubou das emendas secretas. Por isso, estes deputados (as) querem acabar com o foro privilegiado para que possam ser jugados na primeira instância de seus estados onde têm mais chances de "jogo".
Vivemos um tempo em que as placas tectônicas da geopolítica mundial
estão em movimento. E, como bem lembram o cientista político argentino Ezequiel
Bistoletti e o pesquisador Pascal Lottaz, os ventos que antes sopravam
unicamente de Washington agora enfrentam resistência.
Em uma conversa densa, mas reveladora, eles afirmam com todas as letras:
a hegemonia dos Estados Unidos está ruindo e o Sul Global começa a
traçar seu próprio caminho.
De Berlim a Buenos Aires, do canal Demoliendo Mitos de la Política ao
YouTube, a análise deles percorre o mundo com precisão cirúrgica: Argentina,
México, Brasil, Rússia, China... Cada país com sua trajetória, cada nação
buscando respirar fora do velho guarda-chuva norte-americano.
E aqui do sertão, o que essa conversa nos diz?
Diz que a força sem estratégia está com os dias contados. Os EUA,
acostumados a impor vontades pelo poderio militar e econômico, agora enfrentam
potências como Rússia e China, que agem com paciência, estratégia e diplomacia.
O que antes era uma estrada de mão única, agora virou um cruzamento perigoso e
promissor para quem ousa mudar o rumo.
O Brasil, especialmente após se posicionar nos BRICS e encarar os
desmandos de Washington, aparece como peça-chave nesse novo tabuleiro. Um país
continental, com riquezas e diversidade, que começa a compreender que não
precisa se curvar, que pode negociar de igual para igual — se tiver coragem,
clareza e projeto de nação.
O mais impressionante é que, em meio a essa reconfiguração global, a
desdolarização emerge como símbolo dessa transição. Vários países estão
deixando de usar o dólar em suas transações internacionais. É como se o mundo
dissesse:
“Podemos fazer diferente. Podemos fazer por nós mesmos.”
Reflexões dos Olhos do Sertão
Este cenário global nos convida a refletir:
Que lugar o povo do campo, o agricultor familiar, o jovem do interior
ocupa nesse novo mundo?
Que papel a educação, a soberania alimentar, a cultura popular podem ter
nesse processo?
A resposta talvez esteja em algo que o sertanejo conhece bem:
resiliência com sabedoria.
Saber esperar o tempo da colheita. Resistir às estiagens. Plantar mesmo quando
o céu parece fechado.
Porque o mundo está mudando e o sertão também está acordando
para seu papel nesse novo tempo.
O futuro não virá pronto de Washington nem de Pequim.
Mas pode brotar do chão onde pisamos, se formos capazes de pensar com os
pés na terra e os olhos abertos para o mundo.
Resumo da conversa entre Bistoletti e Lottaz
A seguir, destaco os principais pontos discutidos no vídeo
compartilhado, onde os pesquisadores analisam a transformação da ordem mundial
e o surgimento de uma nova multipolaridade, liderada em parte pelo Sul Global e
pelos BRICS:
Fim da Hegemonia Americana
Bistoletti argumenta que os EUA perderam sua capacidade de liderança
global racional e estratégica.
O império norte-americano já não oferece uma narrativa ou projeto
convincente para o mundo.
A política externa dos EUA hoje é baseada mais na força bruta do que em
diplomacia ou planejamento.
Emergência do Sul Global
América Latina, África e Ásia estão reorganizando suas prioridades
geopolíticas.
Países como Brasil, México, Argentina e Índia buscam alternativas que
não dependam dos EUA ou da Europa Ocidental.
O Sul Global deixa de ser apenas “campo de batalha” e se torna agente
ativo da nova ordem global.
Desdolarização
Um dos temas centrais da conversa é o processo de desdolarização.
Diversos países dos BRICS estão substituindo o dólar em transações
internacionais.
Essa mudança enfraquece o poder dos EUA de impor sanções.
China e Rússia lideram o movimento, com o Brasil sinalizando apoio.
O Brasil no Tabuleiro Geopolítico
Sob a liderança de Lula, o Brasil busca retomar uma política externa
soberana.
Sofre pressões dos EUA, especialmente dos setores alinhados à linha dura
trumpista.
Tenta manter relações com o Ocidente, sem abrir mão de fortalecer sua
posição nos BRICS.
EUA sem estratégia, Rússia e China com visão
Enquanto os EUA apostam em sanções, guerra e contenção, Rússia e China
atuam com pragmatismo e visão estratégica.
A China amplia sua influência por meio da diplomacia econômica,
investimentos e acordos comerciais, como a Nova Rota da Seda.
Conclusão
Os ventos da geopolítica estão mudando. E quem observa com atenção — até
mesmo aqui, dos Olhos do Sertão - pode perceber que um novo mundo está
nascendo.
Um mundo onde o centro do poder já não dita sozinho as regras.
Cabe a nós decidir: vamos ser espectadores ou protagonistas?
Talvez o futuro esteja menos em Washington ou Pequim, e mais no chão que
cultivamos, no saber que preservamos e na coragem de reinventar nossos próprios
caminhos.