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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Renato Rabelo: Petrobras e os porta-vozes da privataria


Viomundo
por Renato Rabelo, no Vermelho, sugestão de Franco Atirador
Quantas empresas no mundo podem ostentar a cifra de R$ 21 bilhões em lucro líquido?
A resposta desta questão pode elucidar sobre o que está por trás da tentativa, insólita e desonesta, da mídia e da oposição de desestabilizar não somente a Petrobras e o governo, mas principalmente o nosso país.
A tática é simples e simplista.
 
Observa-se a queda da taxa de lucros de uma grande empresa em relação ao ano anterior.
O passo seguinte é espalhar uma onda capaz de atingir milhões de pessoas – utilizando grandes meios de comunicação e assim provocar uma corrida pela venda de papéis da empresa e assim beneficiar (financeiramente) a especulação.
E a especulação sobre uma empresa com grandes expectativas de futuro é um negócio muito rentável, quase risco zero.
Política e especulação financeira andam lado a lado não somente neste caso.
O PSDB governou em função dos interesses da especulação financeira a ponto de ter transformado o BNDES numa agência de repasse de dinheiro público ao financiamento de privatizações (e que foi pensado para financiar a privatização e desnacionalização completa da própria Petrobrás).
Sendo a Petrobras um grande símbolo de competência nacional que ganhou muita força durante o governo Lula, não é de surpreender que os porta-vozes da privataria tentem utilizar esta grandiosa empresa num dos calcanhares de Aquiles do governo.
E o oportunismo ganhou relevo diante do “problema” gerado aos acionistas privados (a União é dona de 50,26% das ações ordinárias e os acionistas privados contam com 39,6%).
É muito claro que com a queda de rendimentos da empresa é seguida pela queda de lucros dos acionistas privados e é esse filão que a oposição tenta encampar com o discurso da excessiva interferência do Estado na Petrobras.
E essa “interferência” do Estado é explicável ao menos por dois motivos.
Um é óbvio, pois o controle da maioria das ações pertence ao Estado, portanto é mais do que normal que o Estado tenha maior poder de decisão.
O outro motivo está relacionado com o fato de nenhuma empresa do mundo que opera num setor tão estratégico quanto a energia estar fora do escopo da própria estratégia nacional de seus respectivos Estados Nacionais.
Portanto existe somente uma explicação para este nível de gritaria: oposição política.
Todos querem ter uma carta na manga do porte da Petrobras, seja para desestabilizar o governo, seja como moeda de troca com os especuladores e o capital estrangeiro interessados no futuro quase certo de uma empresa deste nível de solidez.
São porta-vozes e herdeiros da privataria e a Petrobras deve ser a bola de vez desta gente caso alcancem o governo central.
Porém, o campo da análise deve ser mais amplo e deve envolver que tipo de Estado e projeto de nação queremos – do ponto de vista estratégico.
Existe um fato concreto a ser assinalado: uma potência da estatura do Brasil, prestes a se transformar num grande produtor e exportador de petróleo, ainda importa gasolina.
Trágico e cômico ao mesmo tempo se esse tipo de observação não fosse lastreado pela própria explicação dada pela presidenta da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmando que a queda dos lucros teve como causa “o aumento da importação de derivados a preços mais elevados, pela, desvalorização cambial, que impacta tanto nosso resultado financeiro como nossos custos operacionais”.
Dois problemas objetivos relacionados a falta de planejamento que acomete nosso Estado desde a década de 1990.
Ao invés de lamentar a desvalorização cambial, dever-se-ia ter uma resposta – buscando meios e maneiras de aproveitar esta situação criada pelo aumento de demanda de gasolina e da própria desvalorização cambial – que induzisse a substituição deste tipo de importação dado o impacto não somente na balança de pagamentos da Petrobras, mas do país como um todo. Este mesmo raciocínio vale para a dita “inflação de alimentos” que ocorre num dos gigantes mundiais da produção de cereais.
O delicado momento político deve servir para sistematização de um discurso político ofensivo contra a oposição.
Mas a história ensina que momentos-limite são ótimos para se repensar os nossos próprios limites, a história destes limites e a necessidade de recolocação tática e estratégica.
Certamente, a Petrobras e o governo Dilma estão sofrendo este ataque justamente num momento de transição na política monetária cuja consequência é a própria recomposição da política macroeconômica do país diante da herança maldita da década de 1990.
Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB
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