Por Altamiro Borges
A Editora Abril envia às bancas nos próximos dias o gibi “O
país dos metralhas”, reunindo 10 histórias dos famosos larápios de
Wall Disney. O lançamento já agitou as redes sociais. Os que conhecem os
truques sujos da famiglia Civita observam que o título da publicação é
parecido
com os dois livros do pitbull da Veja, Reinaldo Azevedo – “O país dos
petralhas”.
Também informam que o gibi traz uma tradução escrota do termo “nasty”
(sórdido), impresso como “petralha”. Há, ainda, a cor vermelha nas
camisetas dos metralhas.
Em seu blog, o pitbull da Veja já desqualificou os críticos.
Ele garante que o seu patrão não teve motivação política. Mas confessa
que gostou do título. “Todos sabem que a palavra ‘petralha’ foi inspirada na
turma? Eu fiz eco aos bandidos do gibi, e o gibi faz eco aos livros ‘O País dos
Petralhas’. Não! Não foi conspiração. Eu nem sabia... Eu curtia, quando
moleque, a história dos larápios ingênuos que sempre se davam mal no fim. Os
petralhas acham que já triunfaram. Tanto é assim que agora resolveram dar
início à caça às bruxas”.
Já o tradutor João Lucas Gontijo Fraga, em texto postado no
blog de Luis Nassif, criticou a tradução do termo “nasty”, mas aconselhou os
internautas a evitarem polêmicas desnecessárias. Reproduzo seu texto na íntegra:
*****
Sou tradutor e fui o primeiro a me enfurecer quando a Abril
traduziu ‘nasty’ (termo pejorativo geral) por ‘petralha’ (termo pejorativo
específico). O que a Abril fez na ocasião foi prostituir a minha profissão. Não
aceito isso e levo essa questão MUITO a sério.
Então tenho autoridade para dizer que:
1- Não era uma tradução, pelo visto, e sim uma escolha. Uma
escolha com agenda política, óbvio, mas, pelo menos dessa vez, a Editora Abril
não prostituiu minha profissão.
2- Em termos de efeito, mudar a cor da camisa dos Irmãos
Metralha e fazer auto-referência a um livro de RA tem mais ou menos a mesma
eficiência de cuspir em um míssil que vem na sua direção na esperança de mudar
sua trajetória.
3- O PSDB foi quem ficou enchendo a paciência quando Dilma
vestiu vermelho. Se queremos ser diferenciados deles, convém não mordermos a
isca.
4- Eles dizem mentiras bem piores, de formas bem mais
grotescas, o tempo todo. Foco nas coisas sérias, não nas trivialidades”.
*****
Seja qual for a intenção da famiglia Civita – que deixou os
EUA nos anos 1950 e desembarcou no Brasil com um estranho contrato de
exclusividade para a publicação das histórias em quadrinhos de Wall Disney –, o lançamento
do novo gibi serve para algumas indagações. Afinal, quem são os verdadeiros
bandidos no país? Carlinhos Cachoeira, o mafioso que mantinha íntimas ligações
com o editor-chefe da Veja, Policarpo Júnior, encaixa-se neste perfil? E o
senador cassado Demóstenes Torres, o “mosqueteiro da ética” da Veja?
Bob Civita, o chefão da Editora Abril, sempre esteve próximo
dos poderosos. Tanto dos generais golpistas de 1964 como dos políticos
fisiológicos que infernizam o país. Como os gatunos de rua, Civita nunca deu
transparência às suas operações. Até hoje permanecem nebulosas as negociações
com os governos tucanos para a compra de assinaturas das revistas da Abril e para a
aquisição de milionários anúncios publicitários. Quem são os verdadeiros metralhas
no Brasil – que não têm nada de ingênuos?
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