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Escrito por Romina Lascano
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Quarta, 24 de Outubro de 2012
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O conflito
geoestratégico com a China, o futuro da América Latina e o interesse de
Washington na região são o miolo do novo livro da analista Telma Luzzani, Territorios
Vigilados, recentemente apresentado em Buenos Aires, que deixa claro como
opera a rede de bases militares estadunidenses na América do Sul.
Segundo a
autora, a ideia do livro foi amadurecendo pouco a pouco até que em 2008
escreveu uma nota sobre a reativação por parte dos Estados Unidos da IV Frota
Naval do Comando Sul, a fim de patrulhar os Oceanos Pacífico e Atlântico.
"O
que me perguntava nessa nota é por que razão os EUA teriam interesse em
reativar uma frota de semelhante poder de fogo no território onde,
visivelmente, não havia nada que chamasse a uma guerra”, assinala Telma.
"Falei
com vários analistas e o resultado dessa nota era que, justamente, nossas
riquezas, com os recursos naturais e mais as mudanças que estavam acontecendo
no mundo em âmbito econômico e político, tornavam necessário para os Estados
Unidos militarizar a zona, para continuar mantendo seu poder e seu domínio”.
Depois
ficou-se sabendo que o ex-presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, naquele
momento à frente do governo, havia acordado a presença de sete bases
militares em seu país. Esse foi o início de uma investigação de vários anos e
de um livro que tardou quase dois anos para ser publicado.
Com a
colaboração dos jornalistas Emiliano Guido e Federico Luzzani, a autora
começou a desenrolar o motivo que levou à instalação e manutenção das bases
militares – que passaram de 14 (em 1938) para 30.000 (em 1945), das quais, ao
finalizar a II Guerra Mundial, somente permaneceram abertas 2.000 – sem
conflito bélico à vista. Explica: “Todos os impérios tiveram bases militares.
Os países que têm uma frota marítima significativa necessitam de lugares onde
abastecer-se, treinar-se, acumular recursos. Então, as bases militares, na
realidade, são parte da estrutura militar de uma potência. Quando os Estados
Unidos se converteram na maior potência juntamente com a União Soviética,
após a II Guerra Mundial, decidiram expandir suas bases em função de um
projeto de dominação global”.
Segundo a
jornalista, em cada período político, e de acordo com as circunstâncias, as
bases vão mudando de características: “Uma base tradicional, grande, com
muito pessoal, é muito cara e é odiosa para o país que tem de alojá-la. Em
geral, cria conflitos, traz problemas ambientais. Após a queda da União
Soviética, os Estados Unidos redesenharam seu poder militar e decidiram em
algum lugar deixar as bases tradicionais, e em outros abrir novas bases ou
substituir as que tinham por outras menores, dissimuladas, com pouco pessoal,
que é rotativo. Para o governo que as aloja, é fácil convencer seus cidadãos
de que não se trata de uma base militar...”.
Com
relação ao critério empregado para situar as bases, a autora ressaltou que é
geoestratégico. “Está vinculado à guerra e ao comércio”. E aprofundou, em uma
das hipóteses de seu livro, o potencial conflito entre os Estados Unidos e a
China rumo a 2016: "É somente uma projeção; 2016 é o ano assinalado pelo
Banco Mundial como o momento em que, provavelmente, a China superaria os
Estados Unidos como primeira potência econômica do mundo. Os Estados Unidos
não vão esperar por 2016 e que isso seja um fato consumado; essas coisas são
resolvidas antes que aconteçam. Não sabemos se a China continuará o mesmo
esquema expansionista dos Estados Unidos. Vamos rumo a um sistema que ainda
não conhecemos”.
Nesse
contexto, Luzzani analisou a papel da América Latina e ressaltou duas
questões importantes. “Uma é que, pela primeira vez, os Estados Unidos têm de
deslocar uma presença militar evidente, que até aparece com a Base de Manta
(EQU), mas não fazia falta porque havia uma quantidade significativa de
governos militares, cuja linha de mando terminava diretamente no Pentágono.
E, em segundo lugar, uma escassez de recursos naturais que, em nosso
território, são abundantes”.
Luzzani
também busca desmascarar com seu texto a denominada irrelevância
latino-americana. “Outra hipótese que trabalho no livro é o fundamento que
diz que a América Latina não tem nenhuma importância para os Estados Unidos.
Tento demonstrar que é exatamente ao contrário. É tão importante que, em
geral, sempre está presente em seus primeiros objetivos sobre o que vai
acontecer na região. Sem a América do Sul e a América central, os Estados
Unidos não poderiam ser a potência que são”.
A
jornalista argumentou que daí provém a necessidade de dominar a região e de
separar o Brasil e a Argentina, união que considerou como “um dos piores pesadelos
dos Estados Unidos”. Telma Luzzani explicou que alguns fatos políticos não
puderam ser incluídos no livro. "O que aconteceu com (Fernando) Lugo é
importante porque eles têm uma base militar, que é a de Mariscal
Estigarribia. Que no Paraguai exista um governo como o de Lugo ou o de
Federico Franco faz uma grande diferença. Nesse sentido, me interessava muito
ampliar esse enfoque”.
Antecipou
que poderia mudar algum capítulo para se aprofundar sobre o processo de paz
iniciado entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia (Farc). "O presidente Juan Manuel Santos surpreendeu muito. A
Colômbia sempre foi o país aliado estratégico dos Estados Unidos. A presença
do Plano Colômbia justificada pelo narcotráfico, pelo terrorismo, parece que
vai por água abaixo caso avance o processe de paz. Suponhamos que o processo
seja um êxito e que o argumento do terrorismo e do narcotráfico se debilitem.
Então, não se justificaria semelhante deslocamento militar”.
Em relação
à reeleição do presidente venezuelano Hugo Chávez, a autora ressaltou que
para os Estados Unidos é uma má notícia e ressaltou que esse país também está
rodeado por bases militares norte-americanas. "Há bases que estão a 50
quilômetros da costa venezuelana. Estão também as bases da Colômbia. O modelo
venezuelano e o tipo de política que é levado adiante na Venezuela são
exatamente o que os Estados Unidos não gostariam que tivesse êxito, porque é
totalmente contrário ao que eles disseram por toda a vida que era melhor”.
Na hora de
desvelar se a América Latina pode libertar-se do controle norte-americano,
Luzzani não deu lugar a dúvidas. “Se pensarmos nas riquezas que temos, creio
que, no momento, é muito difícil que deixemos de ser um território vigiado”.
(Territorios
vigilados. Como opera la red de bases militares norteamericanas en Sudamérica;
Editorial Debate, Buenos Aires, 560 páginas).
Romina
Lascano é jornalista do Página 12, onde a matéria foi originalmente
publicada.
Traduzido
por Adital.
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