Lula manda recado ao PIG e e a políticos e sindicalistas brasileiros
por LuisMuller's
“Se Dirceu vai preso, será uma vingança, porque nesse momento no PT estávamos discutindo a regulamentação dos meios audiovisuais, que no Brasil estão concentrados em mãos de apenas seis famílias”, disse Lula em Buenos Aires. Aos dirigentes de Unidos e Organizados disse:
“Precisamos de dirigentes políticos, sindicais e sociais, que não tenham medo da imprensa. Que falem com o povo pensando em suas ideias e em seus interesses e não em como vão ser as manchetes dos jornais no dia seguinte”.
Ao mesmo tempo colocou as coisas em seu devido lugar: disse que as eleições na região demonstraram que “os meios de comunicação não decidem o voto popular, porque os povos votam de acordo com a sua própria experiência”.
A fala acima foi feita na Argentina, onde Lula foi proferir conferência. A matéria integral, que reproduzo abaixo, é do Carta Maior.Lula na Argentina: só seis famílias controlam a imprensa no Brasil
Em visita a Argentina na semana passada, o ex-presidente falou, entre outras coisas, sobre a concentração dos meios de comunicação no Brasil nas mãos de apenas seis famílias e defendeu a necessidade de se ter dirigentes políticos, sindicais e sociais que não tenham medo da imprensa, “que falem com o povo pensando em suas ideias e em seus interesses e não em como vão ser as manchetes dos jornais no dia seguinte”.
Martín Granovsky – Página12
O ex-presidente acaba de visitar a Argentina durante dois dias e deu uma aula de lulismo explícito.
Não escapou de nenhum interlocutor, mas impôs hierarquias em suas relações.
Junto com o embaixador brasileiro Enio Cordeiro, foi recebido no aeroporto de Ezeiza por um funcionário da Presidência com status de secretário de Estado, Rafael Follonier. Ex-assessor de Néstor Kirchner na Unasul, Follonier mantém contato assíduo com Luiz Dulci, ex-secretário geral da Presidência e seu atual braço direito no instituto com sede em São Paulo que antes se chamava Instituto da Cidadania e agora, sem rodeios, Instituto Lula.
A lembrança de Kirchner esteve presente em seus contatos argentinos. Tanto em Olivos como com os dirigentes cristinistas, disse que “Néstor refundou a Argentina, e a Argentina fez e continua fazendo uma contribuição extraordinária, junto com o Brasil, para a América Latina desde que reestruturou a dívida e procura a reindustrialização”.
A primeira reunião política lhe permitiu encontrar-se com “Unidos e Organizados”, a força cristinista que integram, entre outros, a Frente Transversal de Edgardo Depetri, a La Cámpora de Andrés Larroque, o Movimento Evita de Emilio Pérsico e o Novo Encontro de Martín Sabbatella.
O segundo compromisso foi um almoço em Olivos com a Presidenta. Incluiu, antes, um cara a cara de 20 minutos com Cristina. Sem testemunhas.
O terceiro compromisso político foi com os dirigentes da Frente Ampla Progressista, de Víctor de Gennaro, Claudio Lozano e Hermes Binner. Lula é amigo de De Gennaro e trata com os dirigentes da Central de Trabalhadores Argentinos há 30 anos. Com o socialismo, o PT tem relação orgânica de partido a partido e o próprio Binner foi um dos convidados argentinos a presenciar as eleições de 2002 no comitê eleitoral paulista do Ibirapuera.
Não houve mais reuniões especiais de Lula. Com o resto, fotos. Todos tiveram direito de ficar com um aperto de mãos e uma foto com ele. O secretário de uma das CGT, Hugo Moyano tem uma e o ex-embaixador no Brasil e presidenciável José Manuel da Sota, também. Assim como o ex-candidato a governador bonaerense Francisco de Narváez e o presidente da Fiat Argentina e dos fabricantes de automóveis Cristiano Rattazzi. E todos o escutaram no Instituto para o Desenvolvimento de Executivos na Argentina, IDEA, que pagou ao Instituto Lula pela conferência do ex-presidente em Mar del Plata.
Foi assim que Lula impôs seu estilo. Sua mensagem implícita indica que, em termos sociais, é bom falar com todos. Com os dirigentes sindicais e com os empresários, ainda que “nenhum empresário brasileiro deveria se comportar na Argentina como imperialista”. Para Lula, em termos políticos também pode ser válido o contato. Mas quando se trata de fixar prioridades em uma agenda apertada, como foi o caso desta, o ajuste é mais fino. Primeiro encontros com o Governo e sua força política mais próxima. Segundo, com a principal força de oposição nas últimas eleições que, além disso, não exerça o questionamento ao Governo de uma ótica conservadora. “É bom que não queiram construir uma oposição unificada junto com a direita”, teria dito segundo contou um deles ao Página/12.
Uma interpretação simplista das fotos indiscriminadas poderia induzir a erros sobre o comportamento de Lula. É um político, e um político popular dentro e fora do Brasil, mas, sobretudo é um dirigente ocupado em que seu país não mude de rumo e possa incidir solidamente na América do Sul e no mundo. Atualmente é presidente honorário do PT, nem bem se curou de seu câncer, aproveitou a energia disponível, começando pela energia de suas cordas vocais, para intervir nas eleições municipais de sete de outubro. Assim como em fevereiro de 2010 impulsionou a candidatura à presidenta de uma ex-subordinada sua, a ministra de Energia e depois chefa da Casa Civil Dilma Rousseff, naquele momento abaixo da intenção de voto do opositor José Serra, acaba de fazer o mesmo com o ex-ministro de Educação, Fernando Haddad, que passou do terceiro lugar em São Paulo a consagrar-se como um dos dois adversários para o segundo turno, no próximo domingo 28. O outro é, de novo, Serra, um afiliado do ex-presidente neoliberal Fernando Henrique Cardoso. Lula foi capaz de agradecer o chamado de FHC quando o atacou o câncer e por sua vez prometer, diante de seus amigos, que um dos objetivos pelo resto de sua vida é que os tucanos, como são chamados os partidários de FHC, não voltem ao poder no Brasil.
Lula está feliz ultimamente. Em capitais importantes como Porto Alegre, Recife e Rio de Janeiro o PT não ganhou, mas sim partidos aliados. Em São Paulo, a última pesquisa dá em primeiro Haddad por 17 pontos. E tudo isso apesar de o STF ter escolhido justamente a campanha eleitoral para julgar o processo do “mensalão”, um grupo de delitos segundo os grandes meios de comunicação, erros, mas não delitos, segundo disse Lula nas reuniões destes dias, contra seu ex-chefe da Casa Civil José Dirceu e um grupo de ex-dirigentes e parlamentares acusados por suposta compra de votos parlamentares em 2005.
A chave da acusação foi tipificar o grupo como uma quadrilha e botar Dirceu como seu chefe. “Se Dirceu vai preso, será uma vingança, porque nesse momento no PT estávamos discutindo a regulamentação dos meios audiovisuais, que no Brasil estão concentrados em mãos de apenas seis famílias”, disse Lula em Buenos Aires. Aos dirigentes de Unidos e Organizados disse: “Precisamos de dirigentes políticos, sindicais e sociais, que não tenham medo da imprensa. Que falem com o povo pensando em suas ideias e em seus interesses e não em como vão ser as manchetes dos jornais no dia seguinte”. Ao mesmo tempo colocou as coisas em seu devido lugar: disse que as eleições na região demonstraram que “os meios de comunicação não decidem o voto popular, porque os povos votam de acordo com a sua própria experiência”.
E a re-reeleição? Lula festejou a vitória de Chávez. Nas reuniões de Buenos Aires e Mar del Plata disse que era parte do atual processo sul-americano. Significa que a estimula no resto do continente? Tanto em seus contatos públicos como privados Lula falou de seu apreço pela alternância e até recomendou aos venezuelanos construir uma alternativa dentro da força governante, algo que deve ser entendido se for levado em conta não só a política, mas o câncer aparentemente avançado de Chávez. No Brasil não é preciso interpretar nada. Está na história. Lula considerou em 2009 que tentar uma reforma constitucional para habilitar-se a si mesmo a uma “re-re” lhe parecia um caminho institucionalmente arriscado.
Que aconteceria se a base aliada tivesse um bom resultado nas eleições legislativas de 2013? Discute recém nesse momento o tema (como anunciou esta semana o deputado Carlos Kunkel), eventualmente consegue os dois terços de ambas as câmaras para declarar a necessidade de uma reforma constitucional e, entre outras coisas, consegue introduzir a re-re? Um pouco de lulalogia futurista: Lula teria, obviamente, uma conclusão própria, mas aguardaria enquanto espera o resultado da reforma e as eleições, se preocupa para que o tema não gere instabilidade na Argentina, e, portanto, na América do Sul, e depois tomaria uma decisão com as cartas sobre a mesa.
Não resta dúvida de onde iria esse voto virtual em um hipotético duelo entre o cristinismo e, digamos, Mauricio Macri. Uma situação que só se daria, claro, se Macri deixasse de ser algum dia, como parece ser hoje, um Carlos Reutemann que ameaça candidatar-se a nível nacional e no último momento nem constrói nem faz.
Em Mar del Plata Lula falou que o Brasil vigia o déficit e evita uma inflação alta, mas o faz no marco de uma política que considera o gasto social, o investimento público e um processo de maior igualdade como uma condição econômica do crescimento e não como uma mera aspiração moral, e menos ainda como um subproduto do derrame sobre os mais pobres do restante de bem-estar que possa sobrar depois que os mais ricos cheguem a estar saciados.
O lulismo explícito deixou também algumas situações divertidas. Lula perguntou muito sobre a situação do movimento sindical, com duas CGT e duas CTA. Dirigentes de Unidos e Organizados afirmaram ao Página/12 que Lula comentou, em alusão a De Gennaro: “Víctor está equivocado e vou dizer a ele quando o vir”. Consultados, dirigentes da FAP disseram que Lula não fez nenhuma crítica a De Gennaro no café da manhã que compartilharam em Mar del Plata. “O que sim nos disse é que tinha ficado surpreso com um ponto da reunião com Unidos e Organizados”, relatou um dirigente. “Disse que os via sem espírito de debate crítico inclusive dentro do projeto oficial, e que entre setores progressistas era mais comum a discussão, como acontece no PT com as correntes internas.”
Atentos ao que acontece no Brasil, aliado e sócio da Argentina e destino das exportações argentinas nos dois primeiros lugares junto com a China, os interlocutores argentinos de Lula ficaram contentes com o prognóstico de que, no ano que vem, o gigante ao lado crescerá no mínimo 4%. Também escutaram um conceito que Lula repetiu em público e em privado: a prioridade, sobretudo em meio de uma crise mundial que continua, é manter o emprego e ao mesmo tempo avançar na integração sulamericana.
Tradução: Libório Junior
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