O Legado Lula I - Um Colchão de Segurança
Artigo de Stephen Kanitz
Blog 'O Brasil que dá certo' - Publiquei em 2004 na Veja, o artigo 'Faça um Colchão de Segurança', onde colocava uma preocupação com o baixo nível de reservas internacionais do Brasil na época, e que diante da crise que viria em 2008 foi presciente.
"Volatilidade faz parte da vida - e sempre fará. O correto é conviver com ela, e não tentar impedi-la. Governos anteriores acreditavam que saberiam intervir inteligentemente no câmbio ou nos juros, a cada nova crise, e portanto acumular reservas seria desnecessário e custoso. Nunca criamos reservas internacionais suficientes para enfrentar crises. Hoje (2004) temos somente 18 bilhões de dólares, dez dias de nosso PIB.
Reservas financeiras substanciais compram tranqüilidade e tempo, já que nenhuma crise dura para sempre. TODAS as crises foram nefastas para o Brasil porque nossas reservas sempre terminaram antes. Criar reservas nunca foi nossa prioridade. A China vive uma fase de prosperidade porque possui nada menos que 420 bilhões de dólares, o suficiente para enfrentar a pior crise que se possa imaginar.
Ninguém sabe como será o amanhã, exceto que teremos muitas crises pela frente. Se você tiver zero de reservas familiares, a crise o afetará 100%. Quanto mais reservas você tiver, menos ela o afetará. Quem enfrenta uma crise sem ter reservas acaba contraindo mais dívidas, como sempre acontece com o Brasil.”
Gostaria de dizer que Lula leu este artigo na Veja e mandou o Banco Central começar a acumular os 200 bilhões de reservas um ano depois, reservas que acababaram nos protegendo da crise de 2008. Certamente foi incentivado por Henrique Meirelles, primeiro administrador financeiro guinado ao Banco Central, que adota os mesmos princípios do artigo, como todo administrador. Reservas internacionais será um legado do governo Lula, que nenhum sucessor terá coragem de desmontar.
Dizer que Lula surfou a onda dos 18 bilhões de reservas deixadas pelo Plano Real é uma bobagem monumental. 18 bilhões não seguram crise alguma, desaparecem em duas semanas, como desapareceram em 1998 no final do Primeiro Mandato de FHC. Lula ao criar estas reservas de 200 bilhões lutou contra dezenas de especialistas, inclusive economistas de seu próprio partido, que achavam que 200 bilhões de reservas deveriam ser gastos em "saúde e educação".
Estas reservas, apesar de óbvias, eram politicamente complicadas devido ao seu custo elevadíssimo. O governo tinha que financiá-las a um juro interno de 16% ao ano, e só recebia 4% de juros quando aplicadas em títulos estrangeiros.
A crise americana de 2008 foi até uma benção, ao provar a tese de que reservas são necessárias, sempre. Nunca mais teremos que recorrer ao FMI, ou à amizade de um Bill Clinton. Estas reservas acumuladas por Lula serão um legado para sempre. Nos salvou da crise de 2008, bem diferente do desastre da crise de 1998 quando não tínhamos reservas suficientes.
Ter reservas suficientes será política de todo futuro governo, e precisamos ficar atentos e protestar se um futuro presidente decidir torrar as reservas, como algo custoso e desnecessário.
O que esse artigo do Stephen Kanitz relata é mais ou menos o que venho martelando nesse blog há algum tempo. A imprensa tenta vender para o país que o governo FHC foi 'uma mar de rosas' no campo fiscal. Enaltecem a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal como prova e seu governo parece que é sinônimo de responsabilidade fiscal. Balela.
Só que se esquecem de dizer que a LRF foi criada em 1999 justamente para ajudar a recuperar os 4 anos (95-98) de déficits primários que nos fizeram sair de pires nas mãos ao FMI. Não é a toa que o Brasil entrou nas crises asiáticas da forma como entrou, despreparado, frágil, sem recursos e tendo que pagar prêmios de risco na cada dos 1.700 pontos.
Como a crise financeira de 2008 mostrou ao Brasil, o problema não é a crise, mas a forma como nos preparamos para ela. Um desnutrido não enfrenta um resfriado da mesma forma como um bem alimentado. Nessa crise, o maior prêmio de risco que o Brasil pagou foi de 400 pontos e já estamos em 230 pontos. E estamos falando de instituições que sempre viraram a cara para o governo petista.
Nunca houve um mandato tão fiscalmente irresponsável quando FHC 1.0. Para mim FHC 2.0 é o principal herdeiro dessa herança maldita, que Lula ainda pegou de rebarba na crise cambial de 2002. Crise essa gerada pela nossa fragilidade fiscal e pelo terrorismo dessas mesmas agências de risco. Como um grande empresário que disse que sairia do Brasil caso Lula vencesse.
O Santander não captou hoje R$ 14,1 bilhões em seu IPO por conta dos belos olhos ou do choro do presidente Lula em Copenhagen, mas porque os investidores avaliam que o Brasil é hoje um país que lhe dá garantias. Garantias de ter contas públicas em ordem e um mercado interno aquecido.
Justamente o que não tínhamos em crise anteriores.
Leia também: Lula: 'Fiz o maior ajuste fiscal da História'
Fonte: Blog do Alexandre Porto
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