Durante entrevista a blogueiros, integrantes do MPL celebram a vitória, falam em infiltrados e expõem próximos passos
Viomundo
publicado em 19 de junho de 2013 às 23:43
Momento em que o governador paulista Geraldo Alckmin e o prefeito de
São Paulo, Fernando Haddad, anunciavam a redução das tarifas em São
Paulo. Em seguida, o mesmo anúncio foi feito no Rio (foto LCA).
por Luiz Carlos Azenha
Fomos convidados para um encontro com integrantes e apoiadores do
Movimento Passe Livre (MPL), que nas últimas duas semanas protagonizaram
um episódio histórico: levaram o povo de volta às ruas para
reivindicar. Desde crianças a pessoas da terceira idade. Foram vítimas
de repressão só comparável àquela empregada pela Polícia Militar
paulista na desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos.
No meio da conversa, a notícia: o governador Alckmin e o prefeito
Haddad anunciaram a redução das tarifas conforme o reivindicado pelo
movimento.
Houve celebração.
Dentre os convidados, os blogueiros Rodrigo Vianna, Altamiro Borges,
Leonardo Sakamoto e este que lhes escreve, o empresário de mídia Joaquim
Palhares, o ativista Sergio Amadeu e a jornalista Maria Inês Nassif.
O objetivo era, basicamente, dizer que “sim, somos de esquerda e
temos uma pauta de esquerda”. Ou: “Não, não seremos manipulados pela
pauta da direita”.
O professor de História Lucas Oliveira, o Legume, falou em nome do
MPL. Ele e ativistas ligadas ao movimento descreveram a unidade que
conseguiram forjar com integrantes de partidos de esquerda nos últimos
dias — PSOL, PSTU e PCO, entre outros — além de militantes do PT e de um
grande número de movimentos sociais, dentre os quais o MST, a UJS (do
PCdoB) e a UNE.
Sim, sim, estavam todos extremamente preocupados com a possibilidade
de infiltração e manipulação da pauta do movimento por grupos de
direita, que buscam se apropriar das manifestações para atacar o governo
federal.
Negaram que os anarquistas estavam na origem da tentativa de retirar
as bandeiras de partidos do movimento, dizendo que a iniciativa era de
“caras-pintadas” recém-chegados.
Lembraram que era impossível controlar as multidões que se juntaram
às manifestações — segundo uma pesquisa do Datafolha, a grande maioria
saiu às ruas pela primeira vez.
Confirmaram o ato desta quinta-feira, comemorativo, na avenida Paulista.
Para as próximas mobilizações, pretendem reforçar os coletivos de segurança, comunicação e primeiros socorros.
O ativista digital Sergio Amadeu exibiu um gráfico mostrando que nos
últimos dias o MPL tinha perdido protagonismo nas redes sociais
relativamente a grupos de direita, que passaram a ter maior poder de
mobilização de seguidores com seu perfil ideológico — o que talvez
explique a aflição de muitos apoiadores do Passe Livre.
A próxima mobilização talvez tenha relação com a PEC 90,
de autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que torna o transporte
um direito social. Além disso, trabalhando com o vereador petista Nabil
Bonduki, o MPL pode tentar aprovar o passe livre na Câmara Municipal de
São Paulo.
Todos estavam certos da presença de provocadores e agentes
infiltrados durante as manifestações. Alguns, provavelmente da Polícia
Militar, encarregados da coleta de imagens e informações. Outros, de
grupos de extrema-direita, empenhados em promover vandalismo atribuído
posteriormente ao MPL.
Numa avaliação coletiva, os blogueiros presentes concordaram que o
prefeito Fernando Haddad foi o grande perdedor no processo — poderia,
por exemplo, ter anunciado sua disposição de reduzir as tarifas depois
de ouvir opiniões do Conselho da Cidade, que praticamente endossou a
pauta do MPL.
O papel desempenhado por Haddad — que foi ao Palácio dos Bandeirantes
para acompanhar o anúncio, falando depois do governador Geraldo Alckmin
— também causou estranheza. Como a redução das tarifas foi anunciada
quase ao mesmo tempo no Rio de Janeiro, especulou-se sobre um acordo de
governantes para aliviar o establishment da pressão das ruas.
A celebração foi grande, tendo em vista que o MPL tem um núcleo duro
bastante reduzido de militantes, com idade média calculada no chute em
23 anos de idade. Ainda assim, conseguiu a maior vitória desta geração
de jovens militantes nas lutas sociais.
Abaixo, Sergio Amadeu expõe o gráfico demonstrando a perda de
protagonismo do MPL nas redes sociais, relativamente a outros grupos —
alguns dos quais de direita.
Nota do MPL:
A cidade não esquecerá o que viveu nas últimas semanas. Aprendemos
que só a luta dos de baixo pode derrotar os interesses impostos de cima.
A intransigência dos governantes teve de ceder às ruas tomadas, às
barricadas e à revolta da população.
Não foi o Movimento Passe Livre, nem nenhuma outra organização, que barrou o aumento. Foi o povo.
O povo constrói e faz a cidade funcionar a cada dia. Mas não tem
direito de usufruir dela, porque o transporte custa caro. A derrubada do
aumento é um passo importante para a retomada e a transformação dessa
cidade pelos de baixo.
A caminhada do Movimento Passe Livre, que não começa nem termina
hoje, continua rumo a um transporte público sem tarifa, onde as decisões
são tomadas pelos usuários e não pelos políticos e pelos empresários.
Se antes eles diziam que baixar a passagem era impossível, a revolta do
povo provou que não é. Se agora eles dizem que a tarifa zero é
impossível, nossa luta provará que eles estão errados.
Por uma vida sem catracas!
Movimento Passe Livre São Paulo
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