Brasil de Fato
Enquanto alguns querem impor suas pautas em
protestos, juventude que se diz “apartidária” corre o risco de
desviar-se da luta central ao atacar partidos
19/06/2013
José Francisco Neto,
da Reportagem
Durante
o quinto e o sexto protesto contra o aumento das tarifas do transporte
público em São Paulo, foi notável a heterogeneidade de reivindicações. A
pauta central do Movimento Passe Livre (MPL), que pede a redução das
tarifas, parece estar perdendo a centralidade. Surgem em meio às
manifestações cartazes com dizeres como: “Contra a corrupção” e
“Impeachment à Dilma”.
Na segunda-feira (17) e na
terça-feira (18), a reportagem do Brasil de Fato constatou uma sensível
diferença nos atos comparando-os com a semana anterior. Os gritos não
eram os mesmos puxados pelos movimentos sociais. As bandeiras dos
partidos não foram mais estiadas. Muitas, inclusive, foram impedidas de
serem levantadas por um grupo de pessoas que pediam “Sem partido!”, com
bandeiras do Brasil nas mãos e cantando o hino nacional.
A
reportagem passava ao lado da prefeitura de São Paulo quando presenciou
um grupo de pessoas que segurava uma bandeira vermelha de um movimento
sem-teto. Um rapaz, de aparentemente 27 anos, ao ver a bandeira, disse
irritado: “que merda é essa? Só faltava ter comunista aqui agora”.
Na
segunda-feira, militantes da Juventude do PT quase foram agredidos por
tentarem erguer a bandeira do partido. Já pessoas ligadas ao PSTU não
conseguiram recuar e foram violentados por alguns manifestantes.
"Começaram com gritos de longe e depois vieram para cima dizendo que
nenhum partido os representava e que os partidos deveriam sair do ato.
Aos socos e ponta-pés as bandeiras do PSTU foram arrancadas das mãos dos
militantes e rasgadas por aqueles manifestantes que comemoraram logo
depois", conta uma manifestante que presenciou a cena.
Presente
nos atos, o cientista social Bruno Casalotti lembra que ser contra os
partidos é corroborar com o fascismo. "A existência de partidos é
fundamental para a garantia da democracia. É ótimo que eles estejam nos
atos, inclusive a juventude do PT", destaca.
União
popular é o que conclama Casalotti. "Quer pressionar o Haddad a baixar a
tarifa? Vamos fazer isso junto com a juventude do próprio partido dele
que temos mais força! PSTU, PSOL, todos têm o direito de estarem nos
atos e levantarem suas bandeiras", reforça.
Cartaz distribuído na manifestação - Foto: Bruno Casalotti |
Somando-se
ao debate, o professor de sociologia e história do Instituto Federal de
Educação e Ciência, Kennedy Ferreira, ressalta que em uma manifestação
democrática cabem todas as bandeiras, "em especial aquelas que sempre
estiveram ao lado dos mais desfavorecidos".
Direita radical
Fatos
inusitados não presenciados nas primeiras manifestações também foram
registrados pelo cientista social Bruno Casalotti. Ele disse ao Brasil de Fato que,
enquanto caminhava junto a manifestação, uma menina, de aproximadamente
17 anos, entregou dois panfletos a ele com dizeres do tipo “Prisão
rural perpétua, não queremos sustentar bandidos” ou “eliminação da idade
mínima penal, independentemente da idade, o infrator deve ser punido".
Ao ser questionada sobre a origem dos panfletos, ela respondeu: “um cara
me deu esse bolinho pra distribuir”.
Casalotti
considera que os dizeres presentes nesses panfletos são pautas da
direita mais reacionária do Brasil. “A existência de um panfleto como
esse demonstra que há setores que estão interessados em desvirtuar as
motivações iniciais dos protestos, e o pior é que são setores escusos,
porque nem assinar o panfleto eles assinaram”, reforça.
Foto do topo: Reprodução/Instagram
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