O pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no 7 de setembro de 2025 se inscreve em um contexto político e geopolítico marcado por tensões comerciais, disputas de narrativas sobre soberania nacional e polarização interna. O discurso, embora revestido de celebração cívica e patriótica, possui forte caráter político e estratégico, articulando três eixos principais: a reafirmação da soberania nacional, a defesa da democracia e a crítica à oposição bolsonarista.
Em primeiro lugar, Lula retoma o
marco histórico da independência como símbolo de ruptura com a condição
colonial e o subjugamento a potências estrangeiras. Ao destacar que “não somos
e não seremos novamente colônia de ninguém”, o presidente reforça uma ideia de
autodeterminação que ultrapassa o plano simbólico e se projeta nas atuais
relações internacionais do Brasil. Esse ponto é relevante diante da recente
imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo Donald
Trump, episódio que dá lastro à narrativa de resistência contra ingerências
externas. Assim, o conceito de soberania é atualizado e vinculado à capacidade
de o país gerir suas riquezas, sua economia e suas políticas sociais sem
submissão a pressões estrangeiras.
Em segundo lugar, o discurso
relaciona a soberania à democracia e à justiça social. Para Lula, ser
independente não é apenas manter autonomia frente a outros países, mas também
garantir políticas públicas inclusivas, combate à fome, proteção dos
trabalhadores e investimentos na juventude. Esse deslocamento semântico do
termo “soberania” — do campo geopolítico para o cotidiano social — é uma
estratégia discursiva que aproxima a data cívica da vida concreta dos cidadãos.
Ao associar a independência ao “Mapa da Fome”, ao “PIX público” e ao “combate
ao crime organizado”, Lula transforma símbolos históricos em argumentos de
governo.
Por fim, o presidente não deixa
de inserir no discurso um componente de enfrentamento político interno. Ao
denunciar como “traidores da pátria” os políticos que, no exterior, defendem sanções
contra o Brasil, Lula reforça a narrativa de que setores da oposição,
especialmente ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, atuam contra os
interesses nacionais. A retórica é dura e moralizante, inscrevendo a disputa
política em termos de lealdade ou traição à pátria. Essa estratégia, além de
reafirmar a autoridade presidencial, busca consolidar apoio popular ao redor da
figura de Lula e do governo, contrapondo-se à ameaça de desestabilização
política e jurídica associada ao bolsonarismo.
Do ponto de vista retórico, o
discurso mescla tons épicos e pragmáticos. De um lado, convoca a união nacional
em torno da bandeira e da pátria, recuperando elementos do imaginário
nacionalista. De outro, apresenta dados concretos — abertura de mercados,
redução do desmatamento, ações contra o crime organizado — que conferem
credibilidade à mensagem. Essa combinação de símbolos e números, emoção e
razão, é característica da comunicação política de Lula, que busca tanto
mobilizar afetos quanto legitimar políticas públicas.
Em síntese, o pronunciamento do
presidente no 7 de setembro não é apenas uma celebração da independência, mas
uma intervenção discursiva que procura reposicionar o Brasil no cenário
internacional, reforçar o pacto democrático interno e enfraquecer adversários
políticos. Mais do que uma fala comemorativa, trata-se de um ato de afirmação
de poder e de projeto de país.
“O 7 de setembro representa o momento em que deixamos de ser colônia e passamos a conquistar nossa independência, nossa liberdade e nossa soberania. Este é o momento da união de todos em defesa do que pertence a todos: a nossa Pátria brasileira e as cores da bandeira do nosso país. Na época da colonização, nosso ouro, nossas madeiras, nossas pedras preciosas, nada disso pertencia ao povo brasileiro. Toda nossa riqueza ia embora do Brasil para ajudar a enriquecer outros países. Mais de 200 anos se passaram e nós nos tornamos soberanos. Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro”, iniciou o chefe de Estado.
Lula aproveitou a ocasião ainda para reforçar sua crítica ao clã Bolsonaro, em especial ao deputado federal Eduardo (PL-SP), que está nos Estados Unidos para articular sanções ao país na tentativa de livrar o pai, Jair, da provável condenação na articulação do golpe de Estado e outros crimes após derrota nas urnas em 2022.
“É inadmissível o papel de alguns políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil. Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria. A História não os perdoará”, continuou.
Confira o discurso na íntegra:
querido povo brasileiro, amanhã, 7 de setembro, é dia de celebrarmos a Independência do Brasil. É uma boa hora para a gente falar de soberania.
O 7 de setembro representa o momento em que deixamos de ser colônia e passamos a conquistar nossa independência, nossa liberdade e nossa soberania.
Na época da colonização, nosso ouro, nossas madeiras, nossas pedras preciosas, nada disso pertencia ao povo brasileiro. Toda nossa riqueza ia embora do Brasil para ajudar a enriquecer outros países.
Mais de 200 anos se passaram e nós nos tornamos soberanos. Não somos e não seremos novamente colônia de ninguém. Somos capazes de governar e de cuidar da nossa terra e da nossa gente, sem interferência de nenhum governo estrangeiro.
Mantemos relações amigáveis com todos os países, mas não aceitamos ordens de quem quer que seja. O Brasil tem um único dono: o povo brasileiro.
Por isso, defendemos nossas riquezas, nosso meio ambiente, nossas instituições. Defendemos nossa democracia e resistiremos a qualquer um que tente golpeá-la.
É inadmissível o papel de alguns políticos brasileiros que estimulam os ataques ao Brasil. Foram eleitos para trabalhar pelo povo brasileiro, mas defendem apenas seus interesses pessoais. São traidores da pátria. A História não os perdoará.
Minhas amigas e meus amigos, a soberania pode parecer uma coisa muito distante, mas ela está no dia a dia da gente. Está na defesa da democracia e no combate à desigualdade, a todas as formas de privilégios de poucos em detrimento do direito de muitos. Está na proteção das conquistas dos trabalhadores, no apoio aos jovens para que eles tenham um futuro melhor, na criação de oportunidades para os empreendedores e nos programas que ajudam os mais necessitados.
Se temos direito a essas políticas públicas, é porque o Brasil é um país soberano e tomou a decisão de cuidar do povo brasileiro.
Minhas amigas e meus amigos, um país soberano é um país fora do Mapa da Fome, que zera o Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil enquanto taxa os super-ricos que hoje não pagam quase nada. Que cresce acima da média mundial e registra menor índice de desemprego de todos os tempos. Um país com a coragem de fazer a maior operação contra o crime organizado da história, sem se importar com o tamanho da conta bancária dos criminosos.
Este país soberano e independente se chama Brasil.
Minhas amigas e meus amigos, desde o início do nosso governo, concentramos esforços na abertura de novas parcerias comerciais. Em apenas dois anos e oito meses, abrimos mais de 400 novos mercados para as nossas exportações. Defendemos o livre comércio, a paz, o multilateralismo e a harmonia entre as nações, mas nunca abriremos mão da nossa soberania.
Defender nossa soberania é defender o Brasil.
Cuidamos como ninguém do nosso meio ambiente. Reduzimos pela metade o desmatamento na Amazônia, que, em novembro, vai sediar a COP30, maior conferência mundial sobre o clima.
Defendemos o PIX de qualquer tentativa de privatização. O PIX é do Brasil. É público, é gratuito e vai continuar assim.
Reconhecemos a importância das redes digitais. Elas oferecem informação, conhecimento, trabalho e diversão para milhões de brasileiros, mas não estão acima da lei. As redes digitais não podem continuar sendo usadas para espalhar fake news e discurso de ódio. Não podem dar espaço à prática de crimes como golpes financeiros, exploração sexual de crianças e adolescentes e incentivo ao racismo e à violência contra as mulheres.
Zelamos pelo cumprimento da nossa Constituição, que estabelece a independência entre os Três Poderes. Isso significa que o presidente do Brasil não pode interferir nas decisões da justiça brasileira, ao contrário do que querem impor ao nosso país.
Minhas amigas e meus amigos, este é o momento em que a História nos pergunta de que lado estamos. O Governo do Brasil está do lado do povo brasileiro. Povo que acorda cedo, todos os dias, para trabalhar pela prosperidade da sua família.
Este é o momento da união de todos em defesa do que pertence a todos: a nossa Pátria brasileira e as cores da bandeira do nosso país.
A História nos coloca diante de um grande desafio e pergunta se somos capazes de enfrentá-lo. E nós dizemos: sim. Temos fé, experiência e coragem para seguir cuidando do nosso futuro e da esperança da nossa gente.
Que Deus abençoe o Brasil.
Um abraço, e feliz Dia da Independência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário