Agosto de 2003: Presidente Lula conforta parentes de vítimas da explosão em Alcântara (Foto Ricardo Stuckert)
Da Redação - em 23/08/2015
Há 12 anos, em 22 de agosto de 2003, às 13h26, uma explosão até hoje não suficientemente esclarecida pegou o Brasil e o Governo Lula de surpresa: misteriosamente explodia nosso foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS), na base militar de Alcântara, três dias antes do lançamento. Sabe-se que, desde alguns dias antes do “acidente”, mais de 20 “turistas americanos” estavam hospedados nas pequenas pousadas de Alcântara, subitamente despertada para tão grande movimentação turística americana.
Com a ignição prematura do V03 – que tinha 21 metros de altura e colocaria em órbita dois satélites de observação terrestre –, a torre acabou explodindo e matando 21 engenheiros e técnicos brasileiros altamente especializados. A tragédia representou um atraso de pelo menos uma década no programa espacial brasileiro.
Mas, afinal, para que um programa espacial brasileiro? A indústria de satélites movimenta mundialmente mais de 20 bilhões de dólares e o Brasil desfruta de significativa vantagem geográfica: a colocação de um satélite artificial em órbita a partir de uma base próxima à Linha do Equador, como a de Alcântara, custa até 30% menos do que de bases a latitudes mais altas, devido à economia de combustível.
Sabotagem: a hipótese que não quer calar
Segundo o relatório final de investigação, concluído pela Aeronáutica em fevereiro de 2004, houve um “acionamento intempestivo” (súbito) de um dos quatro motores do VLS, provocado por uma pequena peça que ligava o motor. Mas até hoje não se sabe por que esse detonador disparou, embora duas hipóteses tenham sido levantadas: corrente elétrica ou descarga eletrostática (transferência de energia por contato entre dois corpos).
Menos de uma semana após a explosão em Alcântara, a tese de sabotagem tomou vulto em duas notinhas da coluna do jornalista Cláudio Humberto – publicada em vários jornais do país. No dia 27 de agosto, foi citado Ronaldo Schlichting, pesquisador da corrida espacial e perito em armas. Dizia a nota: “Schlichting sugere bala do fuzil Barret .50, que alcança 3 quilômetros, como possível ‘impacto de objeto no foguete’”. No dia seguinte, outra referência à sabotagem, desta vez nas palavras de um professor do Centro Tecnológico da Aeronáutica: “O cientista Edison Bittencourt nega ‘ignição espontânea’ num dos quatro motores do foguete que explodiu em Alcântara. Sugere onda eletromagnética disparada do espaço ou de pequeno dispositivo, inserido no motor e controlado à distância”, escreveu o colunista.
É possível destruir um foguete com o apertar de um botão, aproveitando uma falha de segurança na informática? Pedro Antonio Dourado de Rezende, professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília, acredita que sim. “Bastaria uma rápida e certeira transmissão, até por radiofreqüência de um ponto escondido em algum canto da base, neste caso indevassável, para que um serviço de inteligência estrangeiro pudesse ‘crackear’ a comunicação brasileira visando uma sabotagem dessa magnitude, sem deixar pistas”, disse em um artigo publicado no site Observatório da Imprensa.
Veja aqui “As razões técnicas que contestam a versão de “acidente” na explosão de Alcântara em 2003″
WikiLeaks: EUA tentaram impedir
programa brasileiro de foguetes
Em 2011, o jornal O Globo revelou conteúdos vazados pelo WikiLeaks onde autoridades americanas expressavam claramente sua contrariedade ao desenvolvimento e lançamento de foguetes pelo Brasil. Isso, “devido à nossa política, de longa data, de não encorajar o programa de foguetes espaciais do Brasil”, diz um documento confidencial. Leia mais aqui.
Não apenas por conta do rico mercado mundial de satélites, os americanos não simpatizam com iniciativas estrangeiras de desenvolvimento de foguetes. Quem já acessou o Google Earth na internet, sabe como as imagens de satélite permitem xeretar o quintal alheio com uma qualidade bastante boa. Do mesmo modo, quem consegue colocar sozinho seus satélites em órbita pode espiar onde quiser. Mais ou menos como os Estados Unidos e a Rússia, pioneiros da corrida espacial, fazem desde a década de 1960. Além disso, a tecnologia de um foguete como o VLS é essencialmente a mesma usada em mísseis de longa distância, como os que carregam armas nucleares. Isso também não interessa aos americanos, que pregam o desarmamento para os outros, mas não abrem mão de seus arsenais.
Coronel previu sabotagem um ano antes
Um ano antes da explosão da base de lançamentos de foguetes de Alcântara, no Maranhão, o coronel do exército Roberto Monteiro de Oliveira, fez uma “premonição”: o projeto brasileiro de enviar um satélite ao espaço sofreria sabotagem. As denúncias do cel. Monteiro não mereciam atenção somente por sua patente no Exército Brasileiro, mas também porque ele fora chefe do (extinto) Serviço Nacional de Informação – SNI -, órgão estatal de inteligência (a “CIA” brasileira). Abaixo, assista ao vídeo.
O programa espacial brasileiro hoje
Em 12 de dezembro de 2010, um foguete de médio porte foi lançado do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. A operação foi considerada um sucesso. O VSB-30 realizou experimentos científicos no ambiente de microgravidade e trouxe de volta sua carga com segurança para a base de Alcântara.
Em 1° de setembro de 2014, o Brasil lançou com sucesso seu primeiro foguete de propulsão líquida, a partir do CLA (veja aqui).
O Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e a Agência Espacial Brasileira (AEB) já anunciaram o desenvolvimento de uma nova família de veículos lançadores com capacidade para transportar satélites e plataformas espaciais de pequeno, médio e grande porte a órbitas baixas, médias e de transferência geoestacionária. Denominado Programa Cruzeiro do Sul, a nova família de lançadores, composta pelos veículos Alfa, Beta, Gama, Delta e Épsilon, atenderá tanto às missões espaciais propostas no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) da AEB, como também às missões de clientes internacionais.
Com custo estimado em US$ 700 milhões e prazo de execução para 17 anos (2022), o PNAE possibilitará ao Brasil a independência no transporte espacial de satélites de pequeno a grande porte. O programa, que prevê uma evolução gradativa dos seus veículos para alcance de melhores desempenhos e de maiores capacidades para o transporte de carga útil, terá como um de seus maiores desafios o desenvolvimento e fabricação de motores a propulsão líquida de médio e grande porte.
Com pesquisa no G1, no Superinteressante, no Youtube, no A Nova Democracia e no Brazilian Space, este sobre matéria do O Globo.
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