Vale conferir na íntegra esta matéria do Diário do Nordeste sobre o Mais Médico que foca no atendimento humanizado e na medicina preventiva. O objetivo é não deixar o povo adoecer, fornecendo-lhe mais informações e educando as pessoas para bons cuidados com o corpo e com a mente. Veja a matéria.
'Mais Médicos' é aprovado por população no Ceará
21.04.2014
Estado atingiu 100% da meta, segundo Ministério, mas ainda há muito a ser feito pela saúde
Presidente do Cremec reconhece benefícios na atenção básica, mas
ressalta a falta da revalidação do diploma dos estrangeiros como
problema
Foto: Lucas de Menezes
Envolto a polêmicas desde que foi lançado em julho do ano passado, o
Programa Mais Médicos surgiu como uma proposta do governo federal para
levar atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) em
lugares onde há carência de profissionais. Dois meses depois, os
primeiros médicos começaram a trabalhar no Ceará e, em pouco mais de
seis meses de atuação, já é possível analisar os primeiros resultados.
Com a chegada dos selecionados para o quarto ciclo do programa na
semana passada, o Estado passou a contar com 843 médicos alocados em 157
municípios. Segundo o Ministério da Saúde, 100% da demanda do Ceará foi
atendida. "A atuação desses profissionais impacta na assistência de
mais de 2,9 milhões de pessoas", informou o órgão em nota.
O titular da Pasta, Arthur Chioro, confirmou os dados quando esteve em
Fortaleza há dez dias e acrescentou que cada médico corresponde a uma
equipe completa. "No Ceará, são 842 equipes, correspondendo a 85% dos
municípios", disse, antes dos dados serem atualizados na última
quinta-feira (17).
Contudo, o ministro citou outros aspectos do programa, que são os
investimentos em hospitais e unidades de saúde. "Há também o desafio de
melhorar a infraestrutura dessas unidades, para que elas possam dar mais
capacidade para as equipes, até porque a equipe não é formada só por
médicos", lembrou.
Atenção primária
Segundo o representante do Ministério da Saúde na coordenação estadual
do programa, Odorico Monteiro, "não há um município no Ceará que hoje
não tenha reforma, construção e ampliação de unidades básicas de saúde".
"São mais de 650 sendo construídas e mais de mil unidades em reforma e
ampliação", completou.
Monteiro comemora os resultados do programa, mas ressalta que ainda há
muito o que fazer. "O Mais Médicos, neste momento, foi só uma ponta do
iceberg do problema. Nós estamos resolvendo uma parte da atenção
primária. Sem dúvida nenhuma, nesta perspectiva, está sendo extremamente
positivo", afirmou. "Não tenha dúvida de que já temos indicadores de
resultados", garantiu o coordenador.
Com relação aos médicos cubanos que participam do programa, Odorico
Monteiro ressalta que eles deixarão uma nova prática para o atendimento
no País. "O Mais Médicos vai ter um legado importante que é um espelho a
ser criado para a atenção básica. Deveremos chegar a uns 12 mil médicos
cubanos espalhados pelo Brasil, que têm a alma centrada na atenção
básica. Não é um médico que está um dia num município, e depois no
outro", comparou.
Visão humanizada
O clínico geral mineiro Izaías Arcanjo, formado pela Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), tem a mesma opinião. Ele faz parte do
menor grupo que compõe o programa, o de médicos brasileiros formados no
País, e possui uma visão humanizada da função.
"Trazer mais médicos não muda nada. Mas médicos se importando com o
outro, para construir uma outra cultura de saúde, mudam. Muitas vezes a
doença é social, aí a pessoa adoece por várias razões, pelas condições
em que mora, a maneira como o ambiente em que vive está condicionando
sua situação", explicou.
Trabalhando há seis meses no Centro de Saúde da Família Viviane
Benevides, na Vila Manoel Sátiro, Izaías Arruda caiu nas graças dos
pacientes, como a doméstica Irislene da Silva. "Ele é o melhor médico,
porque escuta, presta atenção, olha nos olhos da gente. Já trouxe os
meus filhos aqui para ele consultar".
O mexicano Asgard Giovanni Toriz também é querido pelos pacientes de um
posto em Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza e resume bem a
tarefa do médico. "Se você estuda medicina é porque gosta e quer ajudar
a comunidade. Se não tem recursos, deve-se fazer de tudo, aconselhar,
buscar melhoras para a vida do paciente", afirmou. Toriz também defende o
programa. "O Brasil realmente precisa de muitos médicos, porque há
regiões onde muitos não gostam de trabalhar e a população é mais
afetada", ponderou.
Instituições criticam supostos desrespeitos
Mesmo admitindo os benefícios que o programa trouxe à população,
representantes de entidades médicas do Estado criticam a forma como o
Mais Médicos foi implantado, desrespeitando, segundo eles, a legislação e
os direitos trabalhistas.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará
(Cremec), Ivan Moura Fé, disse serem evidentes os benefícios do
programa, mas ressalta que os estrangeiros deveriam se submeter ao exame
que reconhece o diploma deles no País. "Há, de fato, carência de
médicos em vários setores, mas isso deveria ser resolvido com concurso,
carreira de estado e, no caso dos estrangeiros, tramitando de acordo com
a legislação, validando o diploma. Mas foi tudo feito de forma
excepcional", afirmou.
Ivan Moura Fé informou ainda ser difícil avaliar os resultados do
programa por falta de informações. "Os dados que solicitamos aos tutores
e supervisores do programa não chegam", disse. Com relação a denúncias
de possíveis erros médicos, ele admitiu que são poucas, "menos de dez,
mas estão sendo apuradas", finalizou.
Condições
Já para o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará
(Simec) José Maria Pontes, o maior problema, além da validação do
diploma, é a diferenciação das condições de trabalho dos médicos de
Cuba. "Aquelas condições de exploração dos profissionais, sem direitos
trabalhistas, sem direito de ir e vir porque são vigiados, são uma forma
de trabalho escravo", ressaltou.
"Quando nós colocamos isso, disseram que estávamos chamando os médicos
de escravo, mas não era isso, não é no sentido pejorativo. Era tão
somente no sentido de defendê-los", completou, ao lembrar o episódio em
que médicos cearenses vaiaram a equipe do programa e chamaram os colegas
cubanos de escravos (veja o vídeo no link http://svmar.Es/6QCgFM).
Para Pontes, o programa não vai acabar com as deficiências da saúde.
"Se eles querem resolver o problema da saúde daquele jeito, a situação
vai ficar cada vez mais precária. Tem que ter estrutura de trabalho,
profissionais competentes que realmente querem resolver", afirmou.
ENTREVISTA
Fazendo a diferença onde historicamente faltam profissionais
O Programa Mais Médicos é necessário para o País?
O Brasil tem cerca de 400 mil médicos, grande parte concentrados no Sul
e Sudeste do País, implicando em carência nas demais regiões. Há falta
de médicos nos serviços de atenção primária, mesmo na periferia das
grandes cidades. O Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB) é uma
estratégia de mobilidade de trabalho para prover de médicos essas
regiões e para onde a lógica de mercado não conseguiu atrair
profissionais. Em menos de seis meses, o PMMB deu acesso a atendimento
médico a mais de 40 milhões de pessoas no Brasil que não tinham essa
possibilidade de forma mais aproximada de suas casas.
O programa supre as necessidades da atenção primária no Estado?
No Ceará, este programa já está fazendo diferença em inúmeros
municípios e na periferia de Fortaleza, onde historicamente não havia
médico. Um sistema de saúde pública precisa do trabalho de muitos
profissionais e a participação dos médicos é essencial e indispensável.
Mas a Atenção Primária precisa também de infraestrutura predial, de
equipamentos, de medicamentos e outros insumos que permitam o adequado
desenvolvimento das ações.
FIQUE POR DENTRO
Capital tem 52% de cobertura
Com o Programa Mais Médicos, a cobertura da população de Fortaleza pelo
Programa de Saúde da Família (PSF) saltou de 33% para 52%, segundo a
titular da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Socorro Martins.
Segundo ela, o índice é muito bom se comparado com outras capitais. "O
acesso não vai se dar em 100% porque existem aqueles que usam outro tipo
de prestação de serviços, que é o plano de saúde. Hoje, em Fortaleza,
há de 13% a 15% da população com planos de saúde", disse.
Entretanto, a meta da Prefeitura é chegar a 70% dos fortalezenses
atendidos pelo PSF. "Faltam 150 a 200 médicos ainda. Nossa cobertura
ideal é chegar a ter 650 médicos na nossa rede", afirmou a secretária.
Ao analisar o programa em Fortaleza, Socorro Martins comemora o
crescimento dos atendimentos principalmente nas Regionais V e VI. "Lá,
nós tínhamos uma carência muito grande de profissionais. Hoje, a
Regional VI é a que tem a melhor cobertura de assistência médica. É
melhor que o da Regional II na quantidade de médicos por habitantes",
afirmou. "Mas o importante é o olhar diferente. As pessoas que mais
precisam, com maior vulnerabilidade precisam de um olhar diferenciado",
finalizou.
Mais informações
Secretaria Municipal de Saúde (SMS): Rua do Rosário, 283 - Centro Tel: 3452.6604
Ministério da Saúde: portalsaude.saude.gov.br
Ministério da Saúde: portalsaude.saude.gov.br
Germano Ribeiro
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